segunda-feira, 24 de novembro de 2014

A importância do motorista de José Sócrates...


Motorista de Sócrates ia periodicamente a Paris entregar-lhe dinheiro vivo


MARIANA OLIVEIRA , PEDRO SALES DIAS e ROMANA BORJA-SANTOS

24/11/2014 - 02:30


Há cerca de um ano, escutas efectuadas no âmbito da investigação aberta pelo DCIAP apanharam João Perna a falar sobre o esquema, que terá sido entretanto abandonado.No domingo, Sócrates regressou aos calabouços da PSP em Moscavide pelas 21h RAFAEL MARCHANTE/REUTERS




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O motorista do ex-primeiro-ministro José Sócrates, João Perna, detido desde quinta-feira, ia periodicamente de automóvel a Paris entregar dinheiro vivo ao político, em quantias que atingiam as dezenas de milhares de euros.

A informação resulta de escutas efectuadas no âmbito da investigação aberta pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), há cerca de um ano, em que João Perna é apanhado a falar sobre esse esquema, que, contudo, terá sido abandonado pelo antigo governante há alguns meses. Haverá também vigilâncias ao motorista que transportaria o dinheiro até à luxuosa casa que o antigo primeiro-ministro habitava no centro de Paris.

Sócrates, que desde Janeiro de 2013 se tornou consultor da empresa farmacêutica Octapharma, recebendo pelo serviço 12 mil euros mensais, passou a determinada altura a receber outros 12 mil euros de uma nova avença, como o semanário Sol noticiou.

Numa complexa sucessão de movimentações bancárias, o dinheiro que Sócrates detinha (não se sabe qual a origem dele, mas os investigadores suspeitam que terá sido fruto de luvas face aos indícios de branqueamento de capitais recolhidos) e que era transaccionado pelo seu amigo de infância e empresário Carlos Santos Silva passaria através de offshores para a conta do representante da Octapharma, que o entregaria a Sócrates para pagar uma falsa avença, inventada apenas para branquear o dinheiro.

A farmacêutica foi alvo de buscas na quinta-feira, como a própria empresa confirmou em comunicado, mostrando-se “totalmente disponível” para colaborar com as autoridades portuguesas.

Numa nota enviada às redacções, a Octapharma AG, a casa-mãe, com sede na Suíça, revela que as instalações da empresa em Portugal foram alvo de diligências judiciais na quinta-feira, 20 de Novembro, dia em que foram detidas as primeiras pessoas implicadas neste caso: o empresário Carlos Santos Silva, o advogado Gonçalo Trindade Ferreira e o motorista João Perna.

“Destas diligências não resultou nenhum impedimento para o normal funcionamento da empresa”, diz a Octapharma AG, garantindo que a Octapharma Portugal “prestou desde o primeiro momento total colaboração às entidades”. A empresa acrescenta a “Octapharma AG está totalmente disponível para colaborar com as autoridades, esclarecendo toda e qualquer questão que possa surgir, por parte destas, em qualquer âmbito”.

A empresa garantiu igualmente que “nenhum colaborador da Octapharma Portugal foi detido ou constituído arguido no âmbito das investigações em curso” e que, por isso, “as notícias do envolvimento da empresa com as alegadas irregularidades em investigação não têm qualquer fundamento”.

Segundo a farmacêutica, o ex-primeiro-ministro integra o conselho consultivo para a América Latina, funções que “não envolvem qualquer actividade em Portugal ou relacionamento com filial portuguesa”, sublinhando que a relação profissional entre as duas partes “sempre se pautou pelo estrito cumprimento da lei e por um vínculo contratual claro e transparente”.

Apesar de existirem escutas telefónicas no processo, a base da prova do inquérito é essencialmente de natureza documental, incluindo diversa informação bancária, o que poderá ajudar a explicar a razão pela qual Sócrates escolheu o advogado João Araújo, com uma vasta experiência em direito bancário, para o representar neste caso.

Aliás, nas buscas realizadas na residência do ex-primeiro-ministro, no edifício da Rua Braamcamp, em Lisboa, os investigadores apreenderam vasta documentação bancária, nomeadamente extractos que poderão ser relevantes para consolidar a prova recolhida neste processo. O mesmo ocorreu numabox que Sócrates tinha alugada numa empresa em Alvalade, onde guardava documentos.

Fonte próxima do processo garantiu ao PÚBLICO que a investigação foi aturada e é consistente, fazendo crer que a detenção do ex-primeiro-ministro só foi decidida quando um extenso conjunto de provas cabais estava já reunido. Neste ponto, os investigadores tiveram cuidados acrescidos. A operação não pode, na perspectiva dos investigadores, revelar a mínima falha, até por estar em causa um ex-primeiro-ministro que passa a estar na mira da justiça.

Como a Procuradoria-Geral da República já confirmou, o inquérito teve na sua origem uma comunicação bancária feita ao abrigo da lei de prevenção do branqueamento de capitais, que terá ocorrido no final do ano passado. Depois de reunida alguma informação, o DCIAP abriu uma averiguação preventiva que terá sido convertida num inquérito já em 2014.

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