quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Artigo de Raquel Sá Guedes



O POVO SOBERANO!




Nós queremos, saibam-no os senhores que governam, mais os cidadãos que obedecem, nós vimos reatar a Tradição.
Fazendo o processo escrupuloso do Constitucionalismo em Portugal, sistema oportunista em que se fundiram duas mentiras, período francamente negativo em que se desconheceram ou desprezaram os elementos orgânicos da Nacionalidade, temos de rematar o nosso juízo desiludido ainda com um eco da oratória vã de S. Bento, desde Trinta e Quatro até hoje: «Bravo! Falou muito bem!»
Oitenta anos andados por mau caminho, de cegas, na obediência dogmática a teorismos e abstrações, temos de reconhecer agora a falência ruinosa dessa forma de governo representativo de que a República não podia deixar de ser uma continuação agravada nos princípios e nos factos.
Que fez o período da Carta?
Alterou levianamente o regime económico da propriedade; pela abolição dos vínculos, aluiu a coesão e prestígio da Família; destruiu e roubou os conventos que eram núcleos produtivos, centralizadores de energia, para os encher de tropa, elementos ociosos.
O político profissional, esse apóstolo do bem alheio para interesse próprio foi um produto do Constitucionalismo e o primeiro responsável da indisciplina nas classes e da falta de respeito à Lei.
Abriu… fez equipar… uma aleluia de prosperidade, mas, no fim, mandou-nos a conta a casa, criou a dívida…
Como construção intelectual, de um artificialismo grosseiro e como solução positiva da Política, o dogma da trindade redentora – Liberté, Egalité, Fraternité – está em falência aberta há muito tempo.
O sonho democrático que agora surge neste Ocidente como uma aurora, é há muito um crepúsculo para a visão dos mestres do pensamento contemporâneo.
Hoje… afirmam clamorosamente a soberania do povo, provada mentira em Ciência Política, apoiada em falso na coerência sentimentalista de alguns condutores da multidão.
Porque ele, o pobre povo, onde é que alguma vez foi ou há-de ser soberano?
Soberano de olhos vendados, truanesco, a quem os senhores que o montam fazem carícias para que a carga lhe pareça leve.
Tempo houve em que ao povo ninguém chamava soberano; quando os seus interesses de localidade ou de classe, tinham voz que os defendesse.


Retirado e adaptado de a "Nação Portuguesa – Revista de filosofia política", Anunciação, Ano I - Nº 1, 1914

Por Guilherme Koehler
Publicado no Grupo “A BANDEIRA BRANCA”

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