"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
terça-feira, 29 de outubro de 2013
POEMA: NOITE LÚRIDA
NOITE LÚRIDA-
Trigais dourados ondulam ao som de brisas a cheirar a verão.
O mar, longe das searas, não ouve os acordes musicais dos grãos,
numa sonata de Mozart, no refúgio da planície- catedral.
As papoilas ganham vida num poema- trigal, onde as avezinhas
dançam num esvoaçar ondulante.
Papoilas –fogo…
fogo de amor que não se extingue,
nem quando a chuva cai ,na ânsia do cereal.
Ganham vida as vozes das palavras que a semente geme, ao nascer.
Oração- telúrica-contínua!
A lúrida noite aproxima-se do campal, a passo lento…
Recolhe-se o sol de fogo
e chega o anoitecer, silencioso como um pensamento persistente.
Num canto da janela aberta sobre a planície-sonata, ouvem-se notas a fulgir
nas palavras sussurradas pelo trigo;
e luzes do passado, ténues, vão pousando nas memórias da seara,
em ritmo cansado…a sorrir.
É hora do sono das borboletas coloridas, cansadas de rodopiar.
O dia de incandescente paixão no seio de miosótis azuis
perdeu-se na maresia de rosmaninhos aromáticos.
Os estigmas estão fecundados no mistério da vida-a-vir…
Os ventos transportam pólen para novas acácias, lilases,
d’outro espaço noutro tempo.
Comungo da hora deste adormecer telúrico em que as gaivotas
voltam, com asas de odor-mar, sem pararem de navegar…
Seara-grão--------------------seara-peixe--------------------seara-pão!
Lúrida noite avança,
direita a meu coração…
Maria Elisa R. Ribeiro
Marilisa Ribeiro-35/013-(M.Ret)/JAN
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