sexta-feira, 4 de outubro de 2013

POEMA DE RAÚL BRANDÃO(1867-1930)

POEMA DE Raúl Brandão (1867-1930)-in Pesquisa Net


"Tem as mãos como cepos.
Para contar fio a fio a sua história
bastava dizer como as mãos se lhe foram deformando
e criando ranhuras, nodosidades, côdeas,
como as mãos se foram parecendo
com a casca de uma árvore.
O frio gretou-lhas,
a humidade entranhou-se,
a lenha que rachou endureceu-lhas.
Sempre a comparei à macieira do quintal:
é inocente e útil e não ocupa lugar,
e não vem primavera que não dê ternura,
nem inverno sem produzir maçãs.

Há seres criados de propósito para os serviços grosseiros.
Por dentro a Joana é só ternura, por fora a Joana é denegrida.
A mesma fealdade reveste as pedras. Reveste também as árvores.

Mal se compreende que depois de uma vida inteira
esta mulher conserve intacta a inocência de uma criança
e o pasmo dos olhos à flor do rosto."

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