quinta-feira, 31 de outubro de 2013

POEMA: LUAR...VAIDADE-DA-TERRA




















LUAR…VAIDADE-DA-TERRA





Ouviam-se, na noite suave, sussurros de seres abrigados nos troncos

da velha floresta.

Aves voavam no escuro cósmico, deslocando-se a cumprir desígnios

da Criação.

Árvores ondulantes ao sabor das brisas, mergulhavam as ramas no escuro,

em terna fusão.



Da varanda, virada para a vasta natural bruma, sentia o silêncio crepuscular no

mistério das copas lilases das flores, das urzes odorosas e das torgas

numerosas , em místico repousar.



Impedidas de voar como os pássaros do nocturno escurecer, minhas asas

prendem-me solo telúrico, no odor do húmus à espera do alvorecer.



Sentada numa cadeira de luar repleta,

sentia -me na minha companhia,

dialogando com a mala do tempo, contando-lhe tudo o que a alma sente

ao ritmo do correr da mente ,nesta aragem de luar, vaidade da terra a cobrir

os montes da serra .



(Louca me chamariam, se soubessem como queria

estar diluída nesses raios de luz…)



Deslumbro-me de fixação e sinto-me a tornar-me, estranhamente, lírica…

Ando a pernoitar em varandas estranhas…tropeço por dentro…

não vejo a luz do

luar reflectida no teu olhar…

Sei que a Natureza ainda pertence aos deuses…pois a Humanidade nunca chega a tempo.



Não posso voar ao encontro da noite…

Minhas asas prendem-se ao solo telúrico da minha- verdade-minha…

E a mística cadeira, sob as sombras da noite, esfrega os olhos de sono

e pede para meditar.



Numa calma , abafada de nostalgia, tocava, ao longe, o sino da aldeia,

uma sinfonia a propagar, pela claridade do ar, um êxtase de aclamação.



Permanece, na vaidade do anoitecer, a velha cadeira-vazia-do-meu-Eu-comigo,

onde o tempo cristaliza aspirações que despontaram sem florirem

e onde , por conseguinte, sonho…

Fragmenta-se o tempo…a realidade sente-se em fuga…um passo sempre à frente…

O luar, esta verdade da terra multimilenar, lava-me o rosto e lê-me os

gestos, nos versos que escrevo com o brilho do olhar…

Um nevoeiro denso começa a instalar-se como véu de deusa púdica…

Circulam, apenas, filamentos de luz, na monotonia renovada da minha sombra-

-rosácea-

- imanente da penumbra…





Maria Elisa R. Ribeiro

(MERR-Marilisa Ribeiro)



REG: CP-JULHO/013-(O.I.)

Sem comentários:

Enviar um comentário