domingo, 1 de setembro de 2013

POEMA de DAVID MOURÃO FERREIRA(1927-1996)







Noite ApressadaEra uma noite apressada 
depois de um dia tão lento. 
Era uma rosa encarnada 
aberta nesse momento. 
Era uma boca fechada 
sob a mordaça de um lenço. 
Era afinal quase nada, 
e tudo parecia imenso! 

Imensa, a casa perdida 
no meio do vendaval; 
imensa, a linha da vida 
no seu desenho mortal; 
imensa, na despedida, 
a certeza do final. 

Era uma haste inclinada 
sob o capricho do vento. 
Era a minh'alma, dobrada, 
dentro do teu pensamento. 
Era uma igreja assaltada, 
mas que cheirava a incenso. 
Era afinal quase nada, 
e tudo parecia imenso! 

Imensa, a luz proibida 
no centro da catedral; 
imensa, a voz diluída 
além do bem e do mal; 
imensa, por toda a vida, 
uma descrença total! 

David Mourão-Ferreira, in "À Guitarra e à Viola"

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