domingo, 8 de setembro de 2013

Parte de um texto(NET) sobre o grande poeta ANTERO de QUENTAL













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Era preciso, no entanto, além da troca de farpas com o grupo de Castilho, outras manifestações para solidificar o grupo de Coimbra e seus ideais. Com esse intenso Antero se junta às reuniões do “Cenáculo”, em Lisboa, transformando a tertúlia em espaço para a discussão séria da literatura e dos problemas de Portugal, realizando conferências que pretendem apontar soluções. Dessa forma, iniciam-se em 1871, as “Conferências do Castilho Lisbonense”. Por meio das palestras no Cassino, busca-se acordar Portugal para a consciência de sua época, operando a necessária transformação social, política e moral que a Nação exigia. Mas não havia sectarismo nessa atividade social e cultural de Antero, tal era a sua bondade e lucidez quanto à essência e a natureza do socialismo – que para ele consistia na organização do trabalho em estrita dependência com a envergadura moral dos trabalhadores. “Sua bondade andava inquieta enquanto sua cólera trabalhava”, dirá Eça de Queirós a respeito de Antero.

Mas sua ação política definitiva estava fadada ao malogro. Antero não conseguia unir a idéia fervilhante à atitude física capaz de concretizá-la plenamente. Era, no fundo, um espírito mais voltado às questões metafísicas, “queria o impossível, o exageradamente perfeito como idéia para ser concretizado como ação”. E o drama anteriano revolvia-se na bruma desse querer sem poder. O poeta, cessada a fúria da juventude e da paixão transformadora, debatia-se interiormente, construindo um texto onde metafísica e transcendentalismo estabeleciam morada.

O socialista desalojara o sentimentalismo em favor de uma poesia compromissada; o deísta profundo, à força das convicções de um apostolado social, dera as mãos ao materialista difuso. Essas forças contraditórias e a doença devassavam o seu íntimo.

Deus estava perdido como verdade emocional que se consuma pela fé. Restava, pelo intelecto, tentar alcançá-lo na curva do caminho, mas o poeta sabia que isso era impossível e que já não havia como retroceder, voltar às certezas. O suicídio surgiu talvez como alento, como forma de pôr fim ao impasse. Ficou a sua poesia, entranha, filosófica, dramática, única, a emoção cedendo lugar ao pensamento. Mas a razão não foi suficiente para apaziguar o santo Antero.


TORMENTO DO IDEAL







"Conheci a Beleza que não morre
E fiquei triste. Como quem da serra
Mais alta que haja, olhando aos pés a terra
E o mar, vê tudo, a maior nau ou torre,




Minguar, fundir-se, sob a luz que jorre;
Assim eu vi o mundo e o que ele encerra
Perder a cor, bem como a nuvem que erra
Ao pôr do sol e sobre o mar discorre.




Pedindo à forma, em vão, a idéia pura,
Tropeço, em sombras, na matéria dura,
E encontro a imperfeição de quanto existe.




Recebi o batismo dos poetas,
E assentado entre as formas incompletas,
Para sempre fiquei pálido e triste. "Antero de Quental

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