"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
EXCERTO DE UM TEXTO SOBRE O PENSAMENTO DE TEÓFILO BRAGA (1843-1924)
Através de www.institutocamoes.pt, um extracto de artigo sobre o pensamento de Teófilo Braga :
...
"A ânsia de somar títulos e de engrossar a sua bibliografia não lhe prejudicou a humildade. Assim se compreende que desde 1909 tenha querido realizar uma “recapitulação” da História da Literatura Portuguesa, revendo em profundidade e refundindo muito do que escrevera, por forma a suprimir erros e a corrigir imprecisões. Por outro lado as questões da identidade nacional tinham-no fascinado desde cedo. Assim, teimou em encontrar um substracto étnico em que pudesse sustentar a “essência da nação portuguesa”. Julgou tê-lo identificado na raça mosárabe ou moçárabe, que se teria originado, em seu entender, através da fusão entre a população goda mais humilde, que não acompanhara a retirada dos aristocratas para as Astúrias, e a população árabe. Esta muito questionável teoria encontra-se sustentada em títulos como as Epopeias da Raça Mosárabe, de 1871, e A Pátria Portuguesa. O Território e a Raça, de 1894. Tal patriotismo não foi uma singularidade ou uma bizantina expressão de subjetividade. Foi, outrossim, uma explícita e elevada reivindicação republicana, impregnando o ideário das diversas gerações militantes. No caso de Teófilo Braga, este pendor também se concretizou nos temas de toda uma literatura de imaginação ou de refiguração, cuja matéria-prima lhe foi fornecida por episódios ou figuras do nosso passado histórico. Isto explica a publicação, em 1902, do poema Os Doze de Inglaterra, da “narrativa epo-histórica” Viriato, de 1904, e do drama Gomes Freire, de 1907. A publicação, entre 1892 e 1902, dos quatro grossos volumes onde traçou a História da Universidade de Coimbra nas suas relações com a instrução pública portuguesa não correspondeu apenas à vontade de fixar os grandes momentos do desenvolvimento do ensino superior em Portugal; significou também um desforço, um ajuste de contas com a instituição que o preteriu num concurso público de candidatura à docência, baseando-se em critérios de antiguidade nos termos dos quais, segundo a sua ironia, “um velho banco da Universidade ” poderia “valer mais do que o Herculano”.
O sistema filosófico perfilhado por Teófilo, firmado numa depurada racionalidade positivista e no culto do cientismo, conduziu-o à defesa do materialismo e à adoção do ateísmo. Mas isto não equivaleu à impossibilidade de se aperceber da carga poética inerente ao catolicismo. Não espanta, portanto, que tenham jorrado da sua pena de pensador ateu algumas interessantes páginas consagradas às Origens poéticas do Cristianismo (1880), que mais tarde se completaram com um outro volume, intitulado As Lendas Cristãs (1892).
Realizar na idade madura o projeto de vida que se formulou na juventude, não é ventura que todos os seres humanos possam ter. Se a resposta dada por Joaquim Teófilo Braga a um dos seus professores do Liceu de Ponta Delgada, de querer, no futuro, ser doutor, primou pela sinceridade, então encontramo-nos perante uma venturosa criatura. Trabalhador incansável, titã da escrita, ainda que revelando os pés de barro da sua precipitação impetuosa, Teófilo teve um perecimento digno de si, uma vez que podemos afirmar, com propriedade, que morreu a trabalhar. Nos seus últimos tempos de vida queixava-se amargamente das suas enormes dificuldades de visão. Recorria aos préstimos dos seus amigos ou antigos discípulos mais fiéis para lhes ditar os textos que ia mentalmente arquitetando. O seu último projeto de investigação consistiu em tentar reconstruir a vida e a obra do livre-pensador Uriel da Costa. Logrado intento, visto que faleceu, rodeado dos seus papéis, no refúgio da Travessa de Santa Gertrudes, em 28 de janeiro de 1924.
Cuidem-se os que se comprazem em denegrir e ridicularizar Teófilo. Ele poderia esmagá-los com o simples peso dos seus incontáveis livros e artigos. Seria triste que pigmeus morressem desta forma. E, sobretudo, seria muito injusto, atendendo à desproporção...
Bibliografia Básica
BRAGA, Teófilo, Visão dos Tempos, Porto, Em Casa da Viúva Moré-Editora, 1864.
BRAGA, Teófilo, Tempestades Sonoras, Porto, Em Casa da Viúva Moré-Editora, 1864.
BRAGA, Teófilo, As Theocracias Litterarias, Lisboa, Typographia Universal, 1865.
BRAGA, Teófilo, Theoria da Historia da Litteratura Portugueza, Porto, Imprensa Portugueza-Editora, 1872.
BRAGA,Teófilo, Traços Geraes de Philosophia Positiva comprovados pelas descobertas scientificas modernas, Lisboa, Nova Livraria Internacional, 1877.
BRAGA, Teófilo, Soluções Positivas da Política Portugueza. Da aspiração revolucionaria e sua disciplina em opinião democrática, Lisboa, Nova Livraria Internacional, 1879.
BRAGA, Teófilo, Historia das Ideas Republicanas em Portugal, Lisboa, Nova Livraria Internacional, 1880.
BRAGA, Teófilo, Dissolução do Systema Monarchico-Representativo, Lisboa, Nova Livraria Internacional, 1881.
BRAGA, Teófilo, Systema de Sociologia, Lisboa, Typographia Castro Irmão, 1884.
BRAGA, Teófilo, Historia da Universidade de Coimbra nas suas relações com a instrucção publica portugueza, Lisboa, Por ordem e na Typographia da Academia Real das Sciencias, 1892-1902 (4 vols).
BRAGA, Teófilo, As Modernas Ideias na Litteratura Portugueza,Porto, Livraria Internacional de Ernesto Chardron, 1892 (2 vols).
BRAGA, Teófilo, Discursos sobre a Constituição Politica da Republica Portugueza, Lisboa, Livraria Ferreira, 1911.
BASTOS, Teixeira, Theophilo Braga e a sua Obra, Porto, Casa Editora Lugan & Genelioux, Successores, 1892.
CARREIRO, José Bruno, Vida de Teófilo Braga. Resumo Cronológico, Coimbra, Coimbra Editora, 1955.
CIDADE, Hernâni, Doutor Teófilo Braga. As directrizes da sua obra de história literária, Lisboa, Faculdade de Letras, 1935.
COELHO, A. do Prado, Teófilo Braga. Notas de estudo, Lisboa, Faculdade de Letras, 1936.
FERRÃO, António, Teófilo Braga e o positivismo em Portugal (com um núcleo de correspondência de Júlio de Matos para Teófilo Braga), Lisboa, Academia das Ciências de Lisboa, 1935.
HOMEM, Amadeu Carvalho, A ideia republicana em Portugal. O contributo de Teófilo Braga, Coimbra, Livraria Minerva, 1989.
In Memoriam do Doutor Teófilo Braga. 1843-1924, Lisboa, Imprensa Nacional, 1934.
ORTIGÃO, J. D. Ramalho, Theophilo Braga. Esboço biographico, Lisboa, Nova Livraria Internacional, 1879.
Quarenta annos de vida litteraria (1860-1900). Com um prologo Autobiographia Mental de um Pensador Isolado por Theophilo Braga, Lisboa, Typographia Lusitana-Editora Arthur Brandão, MCMII.
Quinquagenario.1858 a 1908. Cincoenta annos de actividade mental de Theophilo Braga julgados pela critica contemporanea de tres gerações litterarias, Lisboa, Antiga Casa Bertrand, José Bastos & C.ª, 1908.
SOARES, Mário, As ideias políticas e sociais de Teófilo Braga, Lisboa, 1950.
* Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra
http://www.institutocamoes.pt/
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