quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O PENSAMENTO DE NIETZCHE









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SÍNTESE DO PENSAMENTO DE NIETZSCHE




SÍNTESE DO PENSAMENTO DE NIETZSCHE
"O mundo é a vontade de poder, e nada mais. É o segredo de toda a força psíquica, orgânica ou mecânica, e a sua essência é a expansão e a dominação. No entanto, a vontade de poder não vai até ao fim de si mesma em todos os seres, é susceptível de graus e de qualidades diferentes. E como todos os juízos de valor que o homem faz expressam a sua vontade de poder, o valor das suas apreciações depende da qualidade desta vontade. Daí a possibilidade de estabelecer uma hierarquia axiológica que representa o retorno das velhas tabelas de valores. "O que é que é bom? Tudo aquilo que eleva no homem o sentimento do poder, a vontade de poder. O que é que é mau? Tudo o que provém da fraqueza." Ora, é a fraqueza que é a fonte de todos os valores comummente recebidos e, em primeiro lugar, dos valores morais e religiosos: o amor pelos inimigos, a humildade, a piedade são características de almas "moles" e servis. Isto não quer dizer que os seres medíocres não tenham vontade de poder: têm -na, só que se encontra disfarçada no seu contrário, degradada, e envereda pelas vias sinuosas do ressentimento. Oprimidos e humilhados pelos fortes, os fracos vingam-se desacreditando a força e exaltando a debilidade e a pequenez.
Os valores ligados à crença no verdadeiro têm também origem na fraqueza: é o ressentimento contra o mundo real que leva o filósofo a identificar o ser verdadeiro com o suprassensível; por outro lado, Nietzsche vê no homem objectivo, impessoal, que se quer mero espelho dos factos, uma "espécie de escravo", um instrumento de precisão não uma vontade.
Como é que se pode restabelecer e "elevar" no homem a vontade de poder? Pela negação da existência de qualquer outro mundo e pelo sentido da terra. Pela renúncia ao culto da verdade, que paralisa a vontade criadora e prejudica a vida, que tem como suportes necessários a ilusão e o erro: aliás, um mundo identificador com a vontade de poder, isto é, com o devir não pode proporcionar um conhecimento verdadeiro; se tudo é fluido e fugidio, não há factos, há unicamente interpretações que variam conforme as perspectivas. Por último, o homem superior não deve pactuar com as "virtudes" dos fracos, deve libertar-se da má consciência, amar-se a si mesmo e ousar ser ele próprio; para criar e impor os seus valores, "é necessário ser-se duro e capaz de infligir grandes sofrimentos": não por egoísmo, mas por "amor do longínquo", do futuro, pelo qual se sente responsável. Deve também dominar-se a si mesmo e modelar-se, pois o "tipo homem" só pode ser elevado pela "arte perpétua de se vencer a si mesmo". O desabrochar da autêntica vontade de poder anuncia e prepara a aparição do super-humano anunciado por Zaratrusta: "Um dia virá até nós esse homem libertador... esse antiniilista, esse vencedor de Deus e do nada." A sua adesão total à vida e ao amor do destino darão origem a uma alegria que de modo algum impedirá a aquiescência à dor.
Mas "a alegria quer a eternidade". Num mundo onde o devir é a única realidade, esta eternidade só é concebível sob a forma do eterno retorno do mesmo: "Homem, reencontrarás cada uma das tuas dores e cada uma das tuas alegrias." Assumir este pensamento que imprime ao devi r o carácter do ser, querê- -lo constantemente, é a mais alta expressão de afirmação de vida e a forma superior de vontade de poder.»
Maurice Dupuy, A Filosofia Alemã, trad. Rosa Carreira, Edições 70, Lisboa, 1987, pp. 75-78
Publicada por LUIS RODRIGUES

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