segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Artigo sobre a morte de ANTÓNIO RAMOS ROSA





ANTÓNIO RAMOS ROSA



Este não é o artigo que eu gostaria de escrever sobre o grande poeta, acabado de desaparecer. Isso, fica para mais tarde, com outra preparação. Estas são palavras deste momento, ditadas pela emoção do seu afastamento físico, do nosso meio.

Quero que sejam vistas como palavras “de circunstância” que o coração me dita, sem pretensões a saber o mais apropriado, em termos de grandeza literária, para honrar o nome de Ramos Rosa.

Fui ler a “ADVERTÊNCIA”, de Almeida Garrett, às “FOLHAS CAÍDAS”, sua obra poética em honra de Rosa de Montufar.
Trancrevo:
…”Antes que venha o Inverno…= morte…
“Deixai-o passar(o poeta), gente do mundo, devotos do poder, da riqueza, do mando, ou da glória. Ele não entende bem disso, e vós não entendeis nada dele.
Deixai-o passar, porque ele vai onde vós não ides;(…) vai, porque é espírito e vós sois matéria.
E vós morrereis,  ele não.(…) Mas não triunfais, porque a morte não passa do corpo que é tudo em vós, e nada ou quase nada no poeta”


Ainda hoje estive a ler os poemas da obra “Gravitações” do autor, publicada por “LITEXA PORTUGAL”, 1983, que, estranhamente, suscitaram em mim uma vontade “normal” de, pela primeira vez, aflorar o tema que mais aterroriza o Homem, a morte inexorável, o fim de tudo o que nos foi destinada, desde a hora em que nascemos, sem ter pedido a Ninguém.

No poema “Celebração da terra” , escrito naquele estilo incomparável que só o poeta podia usar, diz ele, a terminar:
“Não há labirintos mas carreirinhos e horizontes clareiras/
Tudo o que se agita é leve e confirma o silêncio/”
Na verdade, os carreirinhos, os labirintos da vida que se agita, nos dias, apenas confirma que o silêncio reinará, no Momento…

O Poema “O lugar”, também ele num estilo inconfundível, saído das raízes mais profundas da subjectividade poética de Ramos Rosa, afirma, a certa altura da 2ª estrofe:
“Algo está por dizer(…)

É verdade, poeta! Algo fica sempre por dizer, quando o espírito é como o teu e o de todos os que “por obras valerosas se vão da lei da morte libertando…”
“Não busques não esperes” dizias no poema “Onde os deuses se encontram”…Buscaste sempre, mas inexoravelmente, não podias, como todos nós, “esperar”…Esperar , o quê, meu amigo, meu “familiar” da Cultura, meu émulo? Bem sei que foste o arauto da busca constante e que não cessaste de aspirar ao essencial, pois é no poema que o real se dá a conhecer…e que no poema é que o poeta se conhece…Mas sei que esse conhecimento é incompleto, precário e provisório. Não somo nós humanos, imperfeitos – na-nossa-precária- perfeição?

Da tua Poesia falaram tantos nomes célebres da grandiosidade poética, por todo o mundo. Tenho na mão uma obra onde o também imortal Jorge de Sena, diz:…”no equilíbrio entre uma sempre a ultrapassar-se amargura adolescente e uma firmeza de tom que se oculta num estilo aparentemente entrecortado e difuso”
A poesia foi a tua sala de espera para poderes encontrar amigos. Nela me encontrei, eu, pequena coisa, contigo, tantas vezes, sem saberes de mim…ou dos Outros…os tantos milhares…milhões-quem sabe? que te sorveram o mel da PALAVRA.

“TUDO ESTÁ NO SEU SÍTIO”

PAZ À TUA ALMA LINDA!
Mealhada, 23 de Setembro de 2013


Maria Elisa Rodrigues Ribeiro

2 comentários:

  1. Não conhecia este Poeta. Penso que poucos ouvimos falar dele em vida e na morte deram-lhe fama e vida. Paz à sua alma.
    Ele viveu e continuará vivo pela sua obra e pensamento.
    Os Poetas não morrem de todo. Renascem nos seus poemas e na força que inspiram aos poetas vindouros.
    Irei procurar ler mais obras deste Poeta.

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  2. É uma poesia linda, Luís!
    Sempre me fascinou a sua escrita!
    PAZ Á SUA ALMA!
    Beijinho de Maria Elisa Ribeiro (Lusibero)

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