UM
POUCO DE TUDO…
Hoje:
a limpidez e a claridade na poesia de EUGÉNIO de ANDRADE
De
Eugénio de Andrade diz ANTÓNIO LOBO ANTUNES:
“Este
poeta é o amigo mais íntimo do sol…mas é, igualmente, o conhecedor melancólico
da sombra.”
A
poesia de Eugénio de Andrade (E.A) foi sempre, apesar da transparência
(aparente…) e da simplicidade, um campo onde o sol alterna com a sombra, a
terra com o céu, a justiça com a injustiça, e assim por diante, no campo de
todos os opostos que caracterizam as vivências humanas.
Desse
modo, do que sei sobre este poeta, posso dizer que ele trabalhou, com lágrimas
nas mãos, os temas mais naturais da Vida do HOMEM-SER: a casa, a terra, o ar, o
fogo do amor e da vida, da paixão pelo que somos e fazemos…guardando, nessa
poesia, um lugar muito especial para a figura da MÃE: …”No mais fundo de ti/ eu
sei que traí, mãe. /Tudo porque já não sou/ o menino adormecido/ no fundo dos
teus olhos. /…Ainda oiço a tua voz: “Era uma vez uma princesa/ no meio dum
laranjal…”
Não
me esqueci de nada, mãe. /Guardo a tua voz dentro de mim.”
A
poesia de E.A sentiu-se envelhecer, à medida que envelhecia o poeta: foi uma
vida a dois, com a qual ambos lucraram; nos ardores da juventude e, mais tarde,
naquela idade em que, apesar dos “enta”, ainda nos sentimos capazes de ser
jovens…foi isso mesmo que o poeta fez com o leitor, oferecendo-lhe uma mensagem
poética clara, diurna, solarenga, em que ele quase nos pede que peguemos a vida
nas mãos, tão maravilhosa ela é!
Mas
o poeta tem consciência do fatal envelhecimento e das fracturas que provoca, em
todos nós, pois começamos a ver diminuir os dias que faltam para a fatal
Verdade do homem. A noite cerca-nos e a solidão, mesmo que acompanhados, dói:”
Hoje deitei-me ao lado da minha solidão…” E então, a velhice torna-se para o
poeta “uma doença da alma”.
Para
nos ajudar na interpretação da sua poesia o poeta busca, afincadamente, a
PALAVRA certa, aquela de que qualquer um precisa, “naquele exacto” momento para
lançar aos ventos a Mensagem. Por isso, sofre, pois, tendo tantas à sua
disposição…há sempre outra que talvez “ali” ficasse melhor…
Sobre
as palavras diz, então, E.A:”São como um cristal…/…Algumas, um punhal, um
incêndio…orvalho…secretas…inseguras…pálidas…desamparadas…cruéis…desfeitas…”
A
sua linguagem sentida tem por função despertar no leitor as emoções
indispensáveis à “leitura”, à compreensão da mensagem poética.
E
sabe-me a música qualquer poema deste homem superior, tocado pela Musa!
O
escritor Vergílio Ferreira chamou-lhe “Poeta da intensidade”; e essa
intensidade espalha-se de tal modo a toda a sua temática que é forçoso ver na
sua obra a preocupação humanista, nomeadamente quando se refere ao corpo
humano, à mãe, à terra, à casa- lar, à saudade, ao corpo, à luz e às sombras.
ERNST
CURTIUS diz:”…tema é tudo o que tem a ver com as relações primitivas da pessoa
com o mundo.”
Ora,
há por aí gente que, como as plantas mirradas, nunca chega a desabrochar. Ou,
por razões que a própria razão desconhece, ou porque não conseguem abrir-se ao
mundo devido a um número elevado de motivos, que se prendem até com condições
educacionais, sociais e/ou político-filosóficas, impeditivas do conhecimento,
que as pode engrandecer. Isso não aconteceu com o nosso poeta de hoje, o qual,
apesar das adversidades, se impôs, “libertando-se da lei da morte”, como dizia
Camões, dos outros heróis, de antigamente.
O
amor, sobretudo, e particularmente, atravessa a sua obra; reparem na beleza que
se expande do poema “Urgentemente”: “É urgente o amor…/É urgente destruir certas
palavras, / ódio, solidão e crueldade;/ alguns lamentos, / muitas espadas/…É
urgente inventar a alegria!”
Eu
diria, “ reinventar”…pois, entendo o poema também como um apelo à PAZ, a tudo o
que possa unir o Homem à terra em que habita e com a qual forma um corpo
místico, uno.
A
terra, o nosso mundo, tal como nós próprios, é imperfeita, dado que nós para
isso contribuímos e, por esse motivo, alterna sol com sombras…Ora o poeta
anseia por luz e claridade, pelo discernimento que encaminha a personalidade
para o aperfeiçoamento.
Assim,
sofrendo com as dores do mundo que o rodeia, declara-se, abertamente contra o “
nuclear”, por exemplo, dando um testemunho importante para essa questão, no
poema: “Ao Miguel, no seu 4-0 aniversário e contra o nuclear, NATURALMENTE!”
Amigos
leitores: mesmo que pensem que não gostam de “versos”…façam de conta que
gostam! Andem lá…leiam um bocadinho de qualquer um, dos tantos melodiosos
poemas da nossa história literária e, se quiserem, tirem dúvidas comigo!
Deixo-vos,
hoje, com um pensamento de Montaigne; nem importa quem ele é…Basta que reparem
na sua mensagem: “O fim último da vida não é a excelência mas sim, a felicidade.”
Maria
Elisa Rodrigues Ribeiro
lisitarodrigues@gmail.com
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