CIO DA TERRA
Grita a Terra, desesperada, quando é Hora
de ser semeada.
Chegou o tempo das flores e de todos os amores,
floridos e em ramadas,
nos caminhos e dos socalcos de qualquer ravina inclinada.
Foi-se o Inverno frio, choroso, doloroso
e tornam os dias de alegria, na ponta das silveiras bravas
que hão-de produzir amoras, de saudáveis cores.
Num cio desesperado, abre-se a boca da Terra!
Despertam as sementes, enterradas nos sulcos profundos
e ,numa guerra florida, grávidos de amor, os campos
aclamam a nova vida-da-Hora-de-produzir.
Terra-Mulher-a-Ser-no-momento-de-se-Dar!
Densas corolas macias abrem a boca para o Sol.
Desfazem os cabelos, ao fogo que as desperta,
e oferecem seus sucos aos insectos-em-espera.
Até os filhos das rochas ganham alma de humanos
e erguem os braços ao alto, a bendizer as montanhas!
Uma língua desconhecida ecoa pelos ares quentes!
Não sei identificá-la…mas sei que me roça os ouvidos,
ao perder-se nos meus sentidos…
Lembra-me o sussurro-cício, despercebido e em tom vago,
com que, nas noites de Lua, me falam teus olhos perdidos
nas águas de um imenso lago.
Confusos, como as florestas perdidas de amor pelas urzes e giestas numa cama de salva e rosmaninho, rasgamos a verde espessura do cio-dos-campos e penetramos no matagal bravio, por atalhos enviesados-de-nós, perdidos em ondas de carinho, como fazem os linhos a nascer e as uvas a maturar. São maduros, os frutos de aromas intensos que o silêncio das sombras te põe nas mãos, quando a floresta estremece de plena satisfação, na Hora-do-prazer-da-Terra…
E, num cio desesperado, abre-se a boca do mundo a um sexto sentido, que em nós se tornou um segredo sagrado…
Maria Elisa Ribeiro-Portugal
Junho/016
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