domingo, 26 de junho de 2016

História de Portugal: a descoberta e a colonização dos Açores. (wikipédia)


História dos Açores
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Caravela Vera Cruz a entrar no Porto de Pipas,Angra do Heroísmo.

A História dos Açores aborda quase seis séculos de presença humana continuada nas suas nove ilhas.



Índice [esconder]
1Historiografia
2Para uma pré-história dos Açores
3A toponímia
4Do povoamento à crise de 1580 (1440-1580)
4.1Aspectos político-administrativos
4.2Aspectos económicos e sociais
4.3Aspectos culturais
5A crise de 1580 e a resistência à união pessoal com Castela (1580-1583)
6A ocupação castelhana (1583-1641)
7A Guerra do Castelo e a Restauração (1641-1642)
8Da Restauração à Capitania Geral (1642-1766)
9A Capitania Geral (1766-1820)
10O advento do liberalismo (1820-1828)
11A guerra civil e a regência de Angra (1828-1832)
12A monarquia constitucional (1832-1891)
13A campanha autonomista e o Decreto de 2 de março de 1895 (1892-1895)
14A autonomia administrativa (1895-1928)
15A consolidação do Estado Novo (1928-1943)
16A II Guerra Mundial e o desembarque britânico (1943-1946)
17Os distritos autónomos no pós-guerra (1946-1974)
18O 25 de Abril e opção autonómica (1974-1976)
19A autonomia constitucional (1976 ao presente)
20Calamidades nos Açores
21A emigração açoriana
21.1A emigração para o Havaí
21.2A emigração para os Estados Unidos
22Referências
23Bibliografia
24Ver também


Historiografia[editar | editar código-fonte]

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Uma historiografia do tema iniciar-se-á pelos textos de Diogo Gomes de Sintra e de Valentim Fernandes Alemão relativos ao descobrimento do arquipélago e, posteriormente, pelo de Pompeo Arditi ("Il viaggio che fece Pompeo Arditi da Pesaro all'Isola di Madera e alle Azzorre"). A estes soma-se a obra "Saudades da Terra", do padre Gaspar Frutuoso (1522-1591). O manuscrito, escrito entre 1586 e 1590,[1] divide-se em seis volumes, e inscreve-se numa história mais ampla, a da região atlântica que hoje referimos como Macaronésia, ao abordar os arquipélagos das Canárias, Cabo Verde e Madeira, antes de se dedicar aos Açores.

No século XVII destacam-se o "Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores", redigido entre 1646 e 1654 por frei Diogo das Chagas (1584-1661), a "Fenix Angrence", entre 1683 e 1711 pelo padre Manuel Luís Maldonado (1644-1711), as "Crónicas da Província de S. João Evangelista das Ilhas dos Açores", até 1695 por frei Agostinho de Monte Alverne (1629-1726), e a "História Insulana das Ilhas a Portugal Sujeitas no Oceano Ocidental", publicada em 1717 pelo padre António Cordeiro (1641-1722). Desse período, nos nossos dias são também referidas obras menos conhecidas, mas não menos importantes, como por exemplo, num viés temático, "A Margarida Animada", publicada em 1723 pelo capitão Francisco Afonso de Chaves e Melo.[2]

No século XIX, nomeadamente com o advento do Liberalismo, renovam-se os estudos sobre o tema, destacando-se a "Corografia Açórica" (1822), de João Soares de Albergaria de Sousa (1776-1875), ou obras de cunho mais restrito, como por exemplo a "História das Quatro Ilhas que Formam o Distrito da Horta" (1871), de António Lourenço da Silveira Macedo (1818-1891), os "Anais da Ilha Terceira" (1850-1874), deFrancisco Ferreira Drummond (1796-1858), ou as "Épocas Memoráveis da Ilha Terceira dos Açores" (1890-1896) de José Joaquim Pinheiro (1833-1894). Este período é marcado ainda pela recolha de textos e documentos, como por exemplo a "Coleção de Variedades Açorianas", de José de Torres (1827-1874), do "Arquivo dos Açores", por Ernesto do Canto (1831-1900), e as "Escavações", de Francisco Maria Supico(1830-1911).[3] Data ainda deste século a obra do britânico Thomas Ashe (1770-1835), History of the Azores or Western Islands; Containing an account of the Government Laws, and Religion, the Manners, Ceremonies, and caracter of the Inhabitants and demonstrating the importance of these valorable islands to the British Empire, publicada em Londres em 1831, que enaltece a proeminência geoeconómica dos Açores, situados entre a África, a América e a Europa, e sugerindo ao seu governo em Londres que patrocine a independência do arquipélago, transformando-o em um protetorado britânico.[4]

No século XX, embora todas as correntes ideológicas se encontrem representadas em termos historiográficos, um marco é estabelecido em 1976, a partir da fundação da Universidade dos Açores, sob a direção deArtur Teodoro de Matos, quando se regista um salto na produção historiográfica graças ao acréscimo do número de historiadores e da oferta bibliográfica.[5] Destaca-se nesse contexto, a produção de Avelino de Freitas de Meneses.

Com base em uma proposta para a classificação de fontes, formulada por Vitorino Magalhães Godinho quando diretor da Biblioteca Nacional de Portugal, podem considerar-se as seguintes tipologias para os variados aspectos da história dos Açores:
Fontes narrativas (crónicas, relações, histórias)
Descrições
Fontes narrativo-descritivas
Testemunho de visitantes
Correspondência vária
Fontes normativas
Fontes normativo-factuais
Fontes cartográficas
Fontes iconográficas

De uma forma geral, estes diversos tipos de fontes podem ser consultadas nos fundos documentais das seguintes instituições:
Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT)
Biblioteca Nacional de Portugal (BNP)
Biblioteca da Universidade de Coimbra
Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada (BPADPD)
Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo (BPADAH)
Biblioteca Pública e Arquivo Regional da Horta (BPADH)
Arquivo Municipal de Santa Maria (com fundos expressivos na BPADPD)
Arquivo Municipal das Velas de São Jorge
Archivo General de Simancas (AGS)
Archivo General de Indias (AGI), em Sevilha

Em termos de historiografia não são conhecidas referências a fundos eventualmente existentes na Biblioteca Pública de Évora ou na Biblioteca Pública Municipal do Porto.

Os pontos seguintes, adotando, com as necessárias adaptações e prolongamento no tempo, as "épocas" da obra de Francisco Ferreira Drummond, tentam apontar as suas principais etapas. Uma sugestão bibliográfica encontra-se ao final do texto. Uma listagem das personalidades que exerceram cargos de governação nos Açores encontra-se em Anexo:Lista de governantes dos Açores.
Para uma pré-história dos Açores[editar | editar código-fonte]

As referências coevas a uma estátua equestre na ilha do Corvo no século XVI, a moedas cartaginesas e cirenaicas no Corvo no século XVIII, e as inscrições existentes na falésia da costa da freguesia das Quatro Ribeiras, na ilha Terceira, apesar de nunca aceites pela historiografia oficial, parecem indiciar a visitação humana ao arquipélago na Idade Antiga.

Com a queda do Império Romano do Ocidente (ver também Queda do Império Romano), o declínio do mundo clássico na Europa ocidental durante a Alta Idade Média, e o encerramento do mar Mediterrâneodiante da expansão islâmica, o conhecimento da existência de terras a oeste da Europa continental foi progressivamente relegado para o reino do mito. Comprovam-no as múltiplas lendas medievais acerca daAtlântida, das Sete Cidades, das terras de São Brandão, das ilhas Afortunadas, da ilha do Brasil, da Antília, das Ilhas Azuis, da Terra dos Bacalhaus, e de muitas outras terras perdidas no oceano Atlântico.

Na última metade do século XIV, com o advento do Renascimento, começam a surgir múltiplos roteiros e cartas de marear onde aparecem, em posições e com configurações mais ou menos fantasiosas, muitas dessas ilhas e terras. Nessa época, o retomar dos contatos comerciais e das navegações entre o Mediterrâneo e o Atlântico, nomeadamente as navegações genovesas, florentinas e venezianas, bem como o surgimento de melhores embarcações e de um crescente fervor prosélito no sentido de levar o cristianismo para fora da Europa, foram progressivamente expandindo os horizontes europeus e recriando antigas ligações.

Com este movimento de expansão, onde de forma crescente Portugal tomava parte, graças à sua localização geográfica e à crescente mestria nas artes da construção naval e da navegação oceânica, naturalmente a procura das ilhas do mar ocidental rapidamente se tornou prioritária. Neste contexto, o empenho do Infante D. Henrique na expansão atlântica, assumindo o papel de grande mecenas e de coordenador do esforço de exploração, contribuiu de forma decisiva para colocar Portugal na vanguarda do povoamento das terras atlânticas.

As ilhas atlânticas mais próximas da península Ibérica (Açores, Canárias e Madeira), que hoje são colectivamente designadas por Macaronésia, designação com raízes nas míticas ilhas Afortunadas [6] , foram desde sempre encaradas como uma unidade geográfica, o que se traduz numa historiografia comum e num povoamento onde as mesmas famílias aparecem em todos os arquipélagos (os Bettencourt, os Câmara, os Álamo, os Baldaia e muitos outros). É disso também exemplo a obra seminal da historiografia insular, as Saudades da Terra, do açoriano Gaspar Frutuoso, que trata igualmente da história dos três arquipélagos.

As primeiras informações relativas ao arquipélago dos Açores remontam às viagens marítimas empreendidas pelos europeus no século XIV, nomeadamente a partir de Portugal sob os reinados de D. Diniz (1279-1325) e do seu sucessor, D. Afonso IV (1325-1357).

As actividades de Portugal no chamado "Mar Oceano" iniciaram-se no tempo de D. Diniz, a partir da nomeação do Almirante-mor Nuno Fernandes Cogominho (1307), seguido da contratação do Genovês Manuel Pezagno), a 1 de Fevereiro de 1317, para o cargo. Com efeito, os portulanos genoveses conhecidos até essa data não fornecem qualquer indicação sobre ilhas no Mar Oceano. A partir de então, entretanto, registam-se:

Portulano de Angelino Dulcert (1339).

"Libro del Conoscimiento" (1345).

Pormenor do Atlas Catalão (c. 1375).

Atlas Corbitis (c. 1384): detalhe das ilhas dos Açores e da Madeira.

Fragmento do portulano de Gulermo Soleri (1385).

Portulano de Mecia de Viladestes (1413).

Mapa do atlas de Andrea Bianco (1436).

Portulano de Gabriel de Valseca (1439).
1325 - portulano de Angelino Dalorto ("Angellinus de Dalort", possivelmente Angelino Dulcert[7] ), assinala uma ilha, a oeste da Irlanda, denominada como "Bracile";
1339 - portulano de Angelino Dulcert assinala não apenas a ilha "Bracile", como outras, nas alturas dos atuais arquipélagos das Canárias (descoberto anteriormente a Agosto de 1336 pelos portugueses e nomeando a Canária, Lançarote, Forteventura e outras) e da Madeira, e ainda a "Capraria", que alguns autores associam ao conjunto das atuais ilhas de Santa Maria e São Miguel.

Esses indícios por si só, no entanto, não constituem elementos seguros para se afirmar se testemunham da visita (deliberada ou incidental) de navegantes ao serviço de Portugal, ou se se trata somente de ilhas fantásticas (veja-se a esse respeito as lendas da Atlântida, das Sete Cidades, da ilha de São Brandão, das ilhas Afortunadas, da ilha do Brasil, da Antília, das Ilhas Azuis, da Terra dos Bacalhaus, por exemplo).

Outros autores pretendem que o conhecimento das ilhas dos Açores teve lugar quando do regresso das expedições às Canárias[8] realizadas por volta de 1340-1345, no reinado de D. Afonso IV (1325-1357). Data do 1345 chamado "Libro del Conoscimiento", manuscrito anónimo atribuído a um frade mendicante de Sevilha, que teria acompanhado essas expedições portuguesas, onde são descritas diversas ilhas:"(…) Llegamos a la primera isla que dizen gresa e apres della es la isla de lançarote (…) bezimarin (…) rachan (…) alegrança (…) uegimar (…) forte ventura (…) canária (…) tenerife (…) del infierno (…) gomera (…) de lo ferro (…) aragauia (…) saluage [Ilhas Selvagens, no arquipélado da Madeira] (…) la isla desierta [Ilhas Desertas, idem] (…) lectame [Madeira] (…) puerto santo [Porto Santo] (…) la isla del lobo [Ilha do Lobo ou do Ovo, atual Santa Maria], y a otra isla de las cabras [Ilha de São Miguel], y a otra isla del brasil [Ilha Terceira], y a outra la columbaria [Ilha do Pico], y la otra la isla de la ventura [Ilha do Faial], y la otra isla de sant Jorge [Ilha de São Jorge], e la otra la isla de los conejos, y la otra isla de cuervos marinos [ilha das Flores]."[9]

Após esta descrição, manter-se-ão os nomes das ilhas dos Açores nas cartas náuticas, por mais de um século:[10]
1351 - o Portulano Mediceo Laurenziano (Atlas Laurentino, Atlas Mideceu), atualmente na Biblioteca Medicea Laurenziana, em Florença, na Itália, assinala um grupo de sete ilhas, dispostas no sentido norte-sul, designadas por "insule de Cabrera [Santa Maria e São Miguel], insule de Brazil [Terceira], insule de Venture [Faial], Ave de Colombis [Pico], Corvis Marinis [Flores]" e duas outras sem designação.[11]
1375 - o Atlas Catalão, de Jehuda Cresques, atualmente na Bibliothèque Nationale de France, em Paris, que já nomeia a ilha de São Jorge.
1384 - o Atlas Pinelli-Walckenaer, atualmente na British Library, assinala da ilha de Santa Maria.
c. 1384 - o Atlas Corbitis, atualmente na Biblioteca Nazionale Marciana, assinala as ilhas dos Açores.
1385 - o portulano maiorquino de Gulermo Soleri (também grafado como Solerio), na Bibliothèque Nationale de France, assinala as ilhas anteriormente apontadas e mantém a indicação da "Capraria" (Santa Maria e São Miguel).
1413 - o portulano de Mecia de Viladestes (Mecia Viladestes), também na Bibliothèque Nationale de France, assinala a ilha de Santa Maria.
1426 - a carta de Giacomo Giroldi, assinala a ilha de Santa Maria.
1435 - o planisfério de Baltista Beccario.
1436 - o atlas de Andrea Bianco, assinala os Açores.
1439 - a carta de Gabriel de Valseca (ou Valsequa) traz a indicação sobre o arquipélago: "Estas ilhas foram achadas por Diogo de Silves (ou Sunis?[12] ) piloto de El-Rei de Portugal no ano de 1427".

Sobre a primazia do descobrimento português dos Açores muito se tem escrito, sendo difícil, por vezes, avaliar qual a verdade histórica. Entre os nomes dos primeiros navegadores associados ao arquipélago, destacam-se os de:[13]
1427 - Diogo de Silves, conforme o mapa de Valseca;
1431 - primeira viagem de Gonçalo Velho, identifica apenas os Ilhéus das Formigas;
1432 - segunda viagem de Gonçalo Velho identifica a ilha de Santa Maria e a ilha de São Miguel;
1432 - Joshua van der Berg[14]

A Carta-régia de 2 de julho de 1439, passada por Pedro de Portugal, 1.º Duque de Coimbra, regente na menoridade de Afonso V de Portugal, refere apenas sete ilhas nos Açores. Esse número foi aumentado para nove quando Pedro Vasquez de la Frontera e Diogo de Teive, em 1452, encontraram as ilhas das Flores e Corvo[15] , então designadas como "Ilhas Floreiras".

Sobre o descobrimento, o cronista Diogo Gomes de Sintra, referiu em 1460:"Em certo tempo, o Infante D. Henrique, desejando descobrir logares desconhecidos no Oceano occidental, com o intuito de reconhecer se existiam Ilhas ou Terras firmes além das descriptas por Ptolomeu, mandou caravelas em busca destas terras. Partiram e viram terra ao ocidente tresentas léguas além do cabo - Finis Terrae - e, vendo que eram Ilhas, entraram na primeira, acharam-na desabitada e andando encontraram muitos muitos milhafres ou açores, e outras aves; e passando à segunda, que hoje se chama a Ilha de S. Miguel, que igualmente estava desabitada, acharam muitas aves e milhafres, assim como abundantes nascentes d'agus quentes sulfureas. D'ali viram outra ilha que na actualidade se chama Ilha Terceira, a qual à semelhança da ilha de S. Miguel, estava cheia d'arvores, aves e muitos açores. (...)Aquelas caravelas voltaram a Portugal a comunicar ao referido Infante as descobertas que tinham feito, com o que ele folgou muitíssimo."[16]

É certo que, a partir de meados da década de 1420, os Açores começaram a ser regularmente visitados por expedições portuguesas. Com início nas ilhas do Grupo Oriental, mais próximas do continente europeu, prosseguindo para o Grupo Central, o reconhecimento das ilhas avançou rapidamente. Todavia, as ilhas mais ocidentais (Flores e Corvo) só depois de 1450 foram alcançadas por marinheiros portugueses, quando as restantes ilhas já albergavam uma razoável população residente. O ingresso destas no domínio português deu-se por Pedro Vasquez de la Frontera e Diogo de Teive em 1452, no regresso de uma das viagens para o Ocidente à procura das outras ilhas míticas, ou talvez no regresso de uma pescaria na Terra dos Bacalhaus (a actual Terra Nova, no Canadá).

As primeiras expedições, para além do reconhecimento das costas e dos locais onde era possível desembarcar com segurança e fazer aguada, também se destinaram a lançar animais domésticos (ovelhas, cabras, porcos e galinhas) que pudessem ajudar a sustentar uma futura presença humana. No que respeita a São Miguel, há também referência a um grupo de escravos que terá sido deixado na foz da Ribeira da Povoação por meados da década de 1430.
A toponímia[editar | editar código-fonte]

Outra questão muito debatida é a atribuição da toponímia "Açores" ao arquipélago. Ela já figura no globo de Martinho da Boémia que, em 1492, havia estado no Faial, referindo as ilhas dos Grupos Oriental e Central de "Insulae Azore" e as duas restantes, do Grupo Ocidental, de "Insulae Flores". Na cartografia anterior, as ilhas eram identificadas quer como "Ilhas Afortunadas" quer como "Ilhas de São Brandão". Actualmente, admitem-se três teorias[17] :
a clássica, que atribui a toponímia à presença de aves identificadas pelos marinheiros portugueses como pertencentes àquela espécie. Essa teoria é modernamente criticada com base em que:
a única ave de rapina até hoje identificada no arquipélago é o milhafre ("Buteo buteo rotschildi"), e mesmo assim, aparentemente, uma introdução comparativamente recente, já que a ecologia das ilhas lhes era claramente desfavorável: o milhafre prefere como alimento os pequenos mamíferos, os quais não existiam no tempo do povoamento (os únicos mamíferos nativos são minúsculos morcegos). Mesmo admitindo a presença de milhafres no tempo da descoberta, subsistindo com uma dieta de aves juvenis (pombos torcazes e aves marinhas), simples considerações ecológicas e de dinâmica das populações tornam difícil aceitar que a sua população fosse tão numerosa a ponto de os destacar no meio das grandes populações de aves marinhas e de pombos torcazes então existentes.
a falcoaria, à época, era uma actividade bastante apreciada pela nobreza, não se justificando desse modo, um equívoco dessa natureza.
a devoção de Gonçalo Velho a Santa Maria dos Açores, padroeira da freguesia de Açores, em Celorico da Beira, no Distrito da Guarda;
a que parece fazer mais sentido é a que aponta que Açores provém do nome Azzurro em italiano ou Azureus em latim, que significa Azul em português[18] [19] , como referência ao céu azul num dia brilhante e claro aquando da descoberta ao longe das ilhas. Esta teoria pode ser sustentada por uma outra, que afirma que as ilhas dos Açores já apareciam inclusivé em portulanos genoveses do século XIV.

Mas a utilização de nomes com origem nas ilhas míticas não se ficou pelo nome do arquipélago já que toda a toponímia das ilhas está cheia de referências a eles. Em São Miguel e no Pico existem povoados chamados Sete Cidades (topónimo também existente no Brasil); na Terceira, a península do Monte Brasil (com registo anterior a 1500 e raiz na mítica ilha do O'Brasil, ou Breasil, dos Celtas irlandeses) testemunha um nome que antes de chegar ao actual Brasil passou pelos Açores; ou os Mosteiros (da tradição brandoniana) que estão presentes na ilha de São Miguel e nas Flores (para além de Cabo Verde).
Do povoamento à crise de 1580 (1440-1580)[editar | editar código-fonte]
Aspectos político-administrativos[editar | editar código-fonte]

É no período de Pedro de Portugal, 1.º Duque de Coimbra (1392-1449), regente na menoridade de Afonso V de Portugal, que se verifica o grande arranque do povoamento do arquipélago, conforme determinação expressa pela carta régia de 2 de julho de 1439, a Gonçalo Velho Cabral:"Dom Afonso, etc. A quantos esta carta virem fazemos saber que o infante D. Henrique, meu tio, nos enviou dizer que ele mandara lançar ovelhas nas sete ilhas dos Açores e que, se nos aprouvesse, que as mandaria povoar. E porque a nós isso apraz, lhe damos lugar e licença que as mande povoar. (...)[20]

Tendo Gonçalo Velho sido nomeado capitão do donatário, o povoamento iniciou-se naquele mesmo ano pela ilha de Santa Maria, com famílias oriundas do Alentejo, Algarvee da Estremadura.
Ver artigo principal: História da Ilha de Santa Maria

Para incentivá-lo, a carta de 5 de abril de 1443 concedeu a Gonçalo Velho, comendador do arquipélago, e aos moradores e povoadores das ilhas a isenção, por cinco anos, do pagamento da dízima e portagens:"Dom Afonso, etc. A quantos esta carta virem (...). não paguem dízima nem portagem nenhuma de quaisquer coisas que das ditas ilhas tragam a estes nossos reinos contanto que as não tragam dalguma outra parte. (...)".[21]

Posteriormente estendido à ilha de São Miguel (1444) no caso específico desta ilha, de maiores dimensões e características geológicas mais dinâmicas do que Santa Maria, foi necessário oferecer maior incentivo ao povoamento, o que veio a ser expresso por nova carta régia, em 20 de abril de 1447, pela qual se isentam os moradores daquela ilha da dízima de todos os géneros nela produzidos:"Dom Afonso, etc. A quantos esta carta virem (...). Temos por bem e quitamos deste dia para todo sempre a todos os moradores que ora vivem e moram, ou morarem daqui em diante em a dita ilha de todo o pão e vinho e pescados e madeiras e legumes e todas as outras coisas que nela houverem e trouxerem a estes nossos reinos por qualquer forma. (...)"[22]

Com o mesmo objectivo, as ilhas foram doadas ao Infante D. Henrique "para que as povoasse", vindo este a ser assim o primeiro donatário delas. As cartas de doação, em moldes semelhantes às que os Castelhanos haviam implantado nas ilhas Canárias e, posteriormente aplicadas pelos Portugueses à Madeira, estipulavam que, ao donatário, que recebia amplos poderes, cabia a administração das ilhas ficando reservado ao poder real um limitado acervo de matérias que, no termos da actual ciência política, se poderiam classificar no âmbito das políticas fiscais (regimentos das alfândegas e fixação de dízimos), do recurso judicial (em matérias que envolvessem perda de vida natural - a pena de morte -, e talhamento de membros, a chamada "justiça maior"), e das relações externas (declarar a guerra e a paz e autorizar o comércio externo e a fixação de estrangeiros). Cabiam assim, ao donatário:
a obrigação de doar sesmarias que, caso não fossem arroteadas ou cultivadas em cinco anos, revertiam para o donatário;
a poder de coutar terrenos (para incentivar o povoamento);
o exclusivo dos fornos de pão, moinhos e atafonas;
o estanco do sal marinho
a nomeação de magistrados
a arrecadação de dízimos das rendas da capitania (o capitão auferia as redízimas dessas rendas)
alçada de até 15 mil réis na jurisdição cível e, no crime, podia açoitar pessoas e condenar até dez anos de degredo, sem agravo nem apelação.

As ilhas de Santa Maria e de São Miguel foram por sua vez doadas pelo Infante D. Henrique à Ordem de Cristo:"Eu o Infante Dom Henrique Regedor e Governador Governador da Ordem e Cavalaria do Mestrado de Nosso Senhor Jesus Cristo, duque de Viseu e senhor da Covilhã. Faço saber aos que esta minha carta virem que resguardando eu o muito bem que recebi da dita Ordem da dita Ordem [sic]: e o muito serviço que recebido tenho dos cavaleiros e freires dela, por fazer serviço a Deus e a minha Senbora Santa Maria, dei e fiz doação há muitos anos da minha ilha de São Miguel, e da ilha de Santa Maria à dita Ordem, com sua jurisdição civel e crime, mero, misto império, e com toda a espiritualidade, por autoridade que tenho de nosso senhor o santo padre Eugénio de o poder fazer, e por autoridade del rei meu Senhor que me deu poder para a eu assim dar à dita Ordem. Ressalvando talhamento de membro, ou morte de homem que seja com apelação da Ordem para a sua casa do cível da sua cidade de Lisboa, e que a dita Ordem não possa matar nem talhar membro. (...)"[23]

No mesmo período, ficou registado em seu testamento:"Em nome de nosso snor Deos, Trindade perfecta o qual creo sem duvida nenhũa segundo manda a sancta igreja de Roma que creamos. E em nome de nosso Snor Jesu Christo e da sua bemaventurada madre nossa snra sancta Maria. Eu o Iffante dom Anrrique governador da ordem da cavalaria de nosso Snor Jesu Christo, duque de Viseu, e snor da Covilhãa. Estando em todo o meu siso: temedo deos e a hora da morte que nõ sei quando nem onde sera, faço o meu testamento segundo se segue.Item ordenei e estabeleci a igreja de são Luis, na Ilha de são Luis, e a igreja de são Dinis na Ilha de são Dinis: e a igreja de são Jorge na ilha de são Jorge; e a igreja de são Thomaz na Ilha de são thomaz: e a igreja de santa Eiria na ilha de santa Eiria.Item ordenei e estabeleci a igreja de Jesu christo na ilha de Jesu christo: e outra igreja na ilha graciosa.Item ordenei e estabeleci a igreja de são Miguel na ilha de são Miguel: e a igreja de santa Maria na ilha de santa Maria."[24]

Ao Infante sucedeu como donatário das ilhas açorianas o seu sobrinho Fernando de Portugal, Duque de Viseu (1460-1470), sucedido a seu tempo por João, Duque de Viseu (1470-1472), Diogo, Duque de Viseu(1472-1484) e Manuel, Duque de Viseu (1484-1495). Quando este ascendeu ao trono (1495) ocorreu a incorporação da donataria das então sete ilhas dos Açores aos bens da Coroa, de onde não mais saíram. Ailha das Flores e a ilha do Corvo neste aspecto tiveram percurso diverso, sendo administradas por agentes (e não por capitães) do donatário.

O donatário fazia-se representar nas ilhas pelos seus capitães (os capitães do donatário), aos quais cabia a administração local, incluindo inicialmente as funções de justiça e de defesa, e a concessão de novas terras. Entretanto, o rigor das condições de vida nas ilhas desde cedo desencorajou a presença dos capitães do donatário, os quais preferindo viver em Lisboa, faziam-se representar na sua capitania por ouvidores, criando por essa via, de fato, mais um nível de administração entre as ilhas e o poder real. Essa situação levou, com poucas excepções, a que depois de meados do século XVI o cargo de capitão do donatário fosse apenas uma rendosa honraria, quase sempre nas mãos das famílias da alta aristocracia, com capitães que raramente viveram nas ilhas, ou mesmo as visitaram.

O ano de 1450 é apontado como o do arranque da colonização da ilha Terceira pelo flamengo Jácome de Bruges. Quanto às demais ilhas, Faial e Pico acredita-se terem sido povoadas antes de 1466, na sequência da doação feita ao flamengo Joss van Hurtere, que deu o nome à cidade da Horta. A Graciosa, por via de Pedro Correia e Vasco Gil Sodré, acredita-se tenha sido povoada antes de 1510. Quanto à São Jorge, Flores e Corvo, não há indicações seguras acerca do início do seu povoamento, embora se saiba que nas duas primeiras se ficou a dever a Willem van der Hagen (ou Guilherme da Silveira), um flamengo que tinha ido para o Faial e que de lá saiu, na sequência de desentendimentos, para se encarregar das ilhas até então desertas.

Em reacção ao poder quase ilimitado dos capitães do donatário, as populações rapidamente reconstituíram as instituições municipais das suas cidades e vilas de origem. Por volta de 1525 o poder municipal estava já completamente estruturados nos Açores, com mais de 60% dos actuais concelhos açorianos devidamente constituídos e dotados com o respectivo foral.

Face à crescente riqueza dos Açores, também o poder real sentiu necessidade de se afirmar. Fê-lo através da nomeação de corregedores, os quais para além das funções judiciais, superintendiam na administração geral, com destaque para as alfândegas, e controlavam os poderes municipal e dos capitães e seus ouvidores.

Por meados do século XVI estava estabelecido um sistema de poder tripartido assente naquelas entidades: os capitães do donatário (ou os seus ouvidores), controlando as terras e a colecta dos dízimos; as câmaras municipais, permitindo a participação (ainda que muito limitada pelo padrões de hoje) da população e regulando a vida comunitária através das suas posturas; e o corregedor, com carácter de visitador, isto é não permanecendo em cada localidade mais do que o indispensável para o exercício das suas funções inspectivas e judiciais, impondo o poder real.

Com o fim das "dadas", o poder dos capitães do donatário foi-se esbatendo, excepto em São Miguel, onde a casa dos Gonçalves da Câmara, mais tarde Condes de Vila Franca e Condes da Ribeira Grande, entretanto ligada à nobreza portuguesa, valorizou em extremo aquele cargo, nunca deixando os concelhos ganhar a preponderância que noutras ilhas assumiram e mantendo o poder do corregedor fortemente controlado.
Aspectos económicos e sociais[editar | editar código-fonte]

Para melhor aproveitamento económico, as ilhas foram divididas em capitanias. O capitão do donatário recebia a redízima (10%) de todos os dízimos cobrados na capitania e tinha o monopólio dos moinhos, do comércio do sal e dos fornos de cozedura de pão. O cargo era de carácter hereditário, seguindo, embora com algumas excepções na ausência de filho varão, a lei sálica.

As terras por desbravar eram cedidas aos povoadores que, nos termos da sociedade medieval para tal estivessem habilitados, em regime de sesmaria, ficando os beneficiários obrigados a desbravá-las num prazo predeterminado, em geral de cinco anos, sob pena de reversão. Para isso recorriam, para além do trabalho próprio e dos seus familiares, a servos e escravos num ambiente social com claras marcas feudais.

Desse modo, a partir da década de 1440, primeiro lentamente e em pequenos povoados improvisados e isolados em ancoradouros junto à foz de ribeiras, depois em vilas cada vez mais consolidadas e institucionalizadas como concelhos, o povoamento das ilhas foi progredindo rapidamente. As primeiras habitações utilizaram os materiais naturais, aproveitando a rocha, os colmos e as lenhas. Eram as "cafuas" e casas "colmeiras" onde os colonos se abrigavam durante os trabalhos de desbravamento e de queimada da densa vegetação autóctone.

Entre os que vieram para os Açores estavam judeus, cristãos-novos, mouros e flamengos, estes últimos por influência de D. Isabel (esposa de Filipe III, Duque de Borgonha e condessa de Flandres), irmã do infante D. Henrique. Entre estes últimos destaca-se Joss van Hurtere, nomeado primeiro donatário da ilha do Faial por carta de doação datada de 21 de fevereiro de 1468. Desposou uma dama da corte, Dona Beatriz de Macedo, e tornou-se um dos fidalgos da Casa Real de Portugal. Consigo trouxe uma grande porção de gente para povoar o Faial. A presença de grande número de flamengos nas ilhas do Grupo Central, com um aporte que ainda hoje é detectável, levou a que essas ilhas fossem durante muitos anos conhecidas por "ilhas flamengas" (em língua inglesa "Flemish islands") na cartografia oriunda do norte europeu.

Para além da agricultura - que fornecia o trigo para as praças portugueses no Norte d'África, em especial Mazagão e Ceuta - e do recurso à pesca e à caça (de aves e dos animais domésticos anteriormente libertados), a economia das ilhas beneficiou da exploração das madeiras. O cedro-do-mato e o teixo foram importantes bens de exportação, a que se somava a cultura do pastel, e o extrativismo da urzela, estes últimos utilizados para o tingimento de tecidos nas manufaturas da Flandres. A sua importância era de tal monta que a sua exploração era monopólio real, tendo dado origem a múltiplos topónimos (entre os quaisUrzelina e Pasteleiro). No caso do pastel, ainda hoje existem múltiplos locais denominados Engenho (ou Canada do Engenho) recordando os locais onde o pastel era macerado e feitos os "bolos" para exportação. O cargo de "lealdador" do pastel, a quem cabia a verificação da qualidade e peso dos "bolos", subsistiu durante dois séculos e contava-se em muitos concelhos entre os mais importantes.
Aspectos culturais[editar | editar código-fonte]

No que respeita à organização religiosa, os Açores, como as restantes terras do além-mar português, começaram por estar sujeitas à jurisdição espiritual da Ordem de Cristo, exercida pelo vigário "nullius" de Tomar, que mandava visitar as ilhas por representantes, os chamados "bispos de anel". Ao ser criada o bispado do Funchal (1514), o arquipélago passou para a jurisdição desta. A pedido de João III de Portugal, opapa Clemente VII criou o bispado de São Miguel (1533), mas veio a falecer antes da respectiva bula ter sido expedida. No ano seguinte, o recém-eleito papa Paulo III, pela "bula Aequum reputamus", de 5 de novembro de 1534, erigiu o bispado de São Salvador do Mundo, dando-lhe por catedral a igreja do mesmo nome na cidade de Angra, ficando esta sé sufragânea do arcebispo do Funchal até 1550, data em que passou para a dependência da Diocese de Lisboa. A jurisdição do bispo de Angra abrange todas as ilhas, daí que a diocese seja hoje por vezes, embora incorrectamente, designada por Diocese de Angra e Ilhas dos Açores.

Nos termos da criação da donataria, ficava à conta do donatário, e após a incorporação na Coroa, do próprio soberano, a construção da capela-mor dos templos, a respectiva decoração e o fornecimento das alfaias sagradas. Competia à Ordem de Cristo a nomeação e a supervisão do clero. Em consequência, foram os franciscanos, com particular destaque para a corrente dita "espiritual" da ordem, os primeiros organizadores do culto, tendo, com excepção da Ilha do Corvo, fundado conventos em todas as ilhas. Tal explica a forte carga joaquimita ainda está presente na religiosidade do povo açoriano, traduzida no culto do Espírito Santo, na força das respectivas Irmandades e nas crenças associadas aos dons do Paráclito. A raiz das coroações e da celebração dos bodos, que hoje estão oficializados no Dia dos Açores, mergulha neste fundo místico e milenarista que já estava bem patente na sociedade açoriana do século XVI.

Contribuindo para essa carga de misticismo, desde muito cedo os colonos se aperceberam da natureza imprevisível das ilhas: na noite de 21 para 22 de outubro de 1522, um violento sismo provocou um grande escorregamento de terras nas encostas sobranceiras a Vila Franca do Campo, causando o soterramento da maior parte da vila, então capital de São Miguel. O efeito combinado do sismo e do soterramento provocou a morte a alguns milhares de pessoas, ficando gravada na memória colectiva na forma do tradicional "Romance de Vila Franca". A esta catástrofe seguiu-se uma epidemia de peste, que também vitimou milhares, e logo erupções vulcânicas em São Miguel, no Pico e em São Jorge, fazendo do século XVI o mais calamitoso da história açoriana. É revelador que seja neste século que surge pela primeira vez a palavra "mistério" para designar as escoadas lávicas recentes.

Com a expansão da navegação marítima e do conhecimento europeu do mundo que ocorre entre os finais do século XV e meados do século XVI, os Açores passam rapidamente da situação de terra remota nos confins do mundo conhecido para encruzilhada das navegações atlânticas e lugar de partida para novas explorações, particularmente no Atlântico Noroeste. A partir dos Açores são organizadas viagens de exploração e pescaria à Terra Nova com um pioneirismo que, a ter vencimento a teoria de Edmund Delabarre sobre a Pedra de Dighton, fez dos navegadores portugueses da época os primeiros europeus a chegar àquelas costas após o fim das navegações vikings.

Neste século, o estabelecimento da rota marítima para a Índia e Extremo Oriente, o descobrimento e início da colonização do Brasil e a expansão castelhana nas Américas (as Índias de Castela), associadas à descoberta da "volta do largo", que obrigava os navio de torna viagem a passar nas imediações dos Açores, rapidamente tornam Angra na universal escala do mar ponente, nas palavras do historiador Gaspar Frutuoso.

Esta situação de centralidade atlântica leva a que as ilhas sejam visitadas por Cristóvão Colombo no regresso da sua famosa viagem de 1492 (na ilha de Santa Maria), que Paulo da Gama, o infortunado irmão deVasco da Gama, esteja sepultado na Terceira, vítima das agruras da viagem à Índia, e que a posição geoestratégica das ilhas desperte os cuidados de ambas as cortes ibéricas.

O comércio cresce rapidamente e as ilhas tornam-se numa posição chave no reabastecimento (daí a criação da Provedoria das Armadas) e protecção das armadas de torna viagem. Para além do fornecimento de víveres e aguada, os Açores, e em particular a Terceira, servem de local de reagrupamento, para formação de comboios que fornecessem protecção contra os piratas que infestavam a periferia europeia, e de transbordo das mercadorias, em especial de preciosidades, que ficavam a aguardar transporte seguro para os portos portugueses.

Quando a 31 de Janeiro de 1580 faleceu o cardeal-rei D. Henrique e se consuma a grande crise sucessória em Portugal, a sociedade açoriana, apesar de ter decorrido apenas pouco mais de um século desde a colonização, já se encontra completamente estruturada, com a repartição do poder estabilizada entre as câmaras municipais, o corregedor e os capitães do donatário. As cidades de Angra e de Ponta Delgadaeram já os centros políticos do arquipélago, com Angra assumindo um claro predomínio, já que, para além do seu papel de entreposto marítimo, era a sede do bispado, do provedor das armadas e o local de maior permanência do corregedor.

Por esta altura estavam também já formadas as principais povoações açorianas. Conforme se pode ver do desenho de Jan Huygen van Linschoten, feito no fim da década, a cidade de Angra já tinha os traços urbanísticos que ainda hoje mantém.

Em meados de 1580, com Ciprião de Figueiredo no cargo de corregedor, com atividade centrada na Terceira, e com a poderosa família Gonçalves da Câmara como capitães-donatários de São Miguel, estavam criadas as condições para as diferentes opções das ilhas nos acontecimentos dos anos imediatos e para que os Açores assumissem pela primeira vez um papel fulcral na política portuguesa.
A crise de 1580 e a resistência à união pessoal com Castela (1580-1583)[editar | editar código-fonte]

Morto o cardeal-rei a 31 de Janeiro de 1580, perante a falta de uma decisão clara sobre a sucessão, os dois principais pretendentes passam à acção: Filipe II de Espanha, o mais poderoso monarca europeu do tempo, acelera a pressão sobre Portugal, tendo do seu lado a generalidade da nobreza e clero; o Prior do Crato, desprezado pela nobreza por ser filho de uma judia, consegue um crescente apoio do povo, mobilizando a seu favor o sentimento patriótico e a recusa popular à aceitação de um monarca estrangeiro.

O primeiro movimento ficou a dever-se a Filipe II, já que logo a 16 de Fevereiro de 1580 as forças castelhanas, comandadas pelo duque de Alba entram no Alentejo, tomando sem resistência diversas praças. Em resposta, o Prior do Crato fez-se aclamar rei de Portugal em Santarém, assumindo o título de D. António I, partindo triunfalmente para Lisboa onde foi recebido sem grande entusiasmo, apenas plenamente apoiado pela arraia miúda.

De Lisboa, e já quando a situação militar começava a pender a favor do pretendente castelhano, D. António I escreveu uma carta às câmaras açorianas, datada de 9 de julho de 1580, intimando-as a fazer a devida aclamação. O portador foi António da Costa, que, dirigindo-se a Angra, onde se encontrava o corregedor, tinha por missão organizar a aclamação nos Açores.

A caminho da Terceira, António da Costa passou por Ponta Delgada, obtendo aí uma cautelosa aclamação pois, ao que parece encontrou o silêncio hostil da nobreza, provavelmente instruída a partir de Lisboa porRui Gonçalves da Câmara, 7.º capitão do donatário e futuro conde de Vila Franca em recompensa pela sua adesão à causa castelhana. Outro influente líder do partido pró-Castela que estava presente na ilha de São Miguel era o bispo da diocese, D. Pedro de Castilho. Tal presença, e o poder do capitão do donatário, explicam a rapidez com que Filipe II foi reconhecido na ilha e a posterior hostilidade a D. António.

Pelo contrário, em Angra foi calorosa a aclamação, já que o corregedor Ciprião de Figueiredo e a generalidade das forças vivas da ilha aderiram de alma e coração à causa antonina.

Nas restantes ilhas, a aclamação, com maior ou menor entusiasmo, fez-se por influência do corregedor, pelo que no Verão de 1580 os Açores estavam por D. António e nas ilhas, sob a orientação de Ciprião de Figueiredo, preparavam-se as fortificações e treinavam-se as milícias em antecipação ao mais que certo ataque castelhano.

Apesar dos esforços de resistência, as forças de D. António foram derrotadas às portas de Lisboa na escaramuça da ponte de Alcântara, ocorrida a 25 de Agosto de 1580, deixando Filipe II na posse da capital. A notícia do desbarato e fuga de D. António I chegou a Ponta Delgada a 9 de Setembro, parecendo dar razão aos que duvidavam da empresa. A derrota foi também conhecida em Angra, fazendo acelerar ainda mais os preparativos bélicos, já que o ataque castelhano parecia agora iminente.

Pouco depois chega uma carta régia de D. António I, datada de Aveiro em 25 de Setembro de 1580, pedindo o envio de todo o dinheiro disponível e a expedição para a Flandres, por conta do erário real, do pastelque existisse nas ilhas. Particularmente em Ponta Delgada, esta missiva ainda veio aumentar as dúvidas micaelenses sobre a sensatez de resistir ao poderoso Filipe II, pelo que, apesar de ter sido enviado algum dinheiro, o partido dos que acreditavam que deveria ser aclamado o pretendente castelhano crescia de dia para dia. Pelo contrário na Terceira e ilhas vizinhas, muito por obra do ardor e entusiasmo de Ciprião de Figueiredo, era cada vez mais firme a adesão à causa de D. António, sendo maltratados todos os que se atreviam a duvidar do seu sucesso.

Em Portugal, depois de tentar debalde sublevar o norte de Portugal, as coisas não corriam de feição para o Prior do Crato. De Aveiro, passou ao Porto, onde não pôde resistir, refugiou-se no Minho, mas a 6 de Janeiro de 1581, foi recolhido por um navio francês, abandonando o país para o exílio em França. Celebradas cortes em Tomar, no mês de Abril de 1581, e obtida a submissão das guarnições na Índia, África e Brasil, no final do verão de 1581 só nos Açores subsistia um pequeno foco de apoio a D. António.

Quando estas notícias chegaram aos Açores, ficou claro que a aventura açoriana de apoio a D. António caminhava a passos largos para a tragédia: as ilhas, ainda por cima desunidas, não eram adversário à altura para a monarquia mais poderosa da Europa. E, pouco a pouco, os apoios foram-se deslocando para a causa castelhana. Na ilha de São Miguel, as câmaras, reunidas para deliberarem a posição a tomar, muito por influência do capitão do donatário e do bispo D. Pedro de Castilho, futuro vice-rei de Portugal, resolvem a 31 de Janeiro de 1581 escrever a Filipe II comunicando-lhe a sua fidelidade. Esta adesão, a que se seguiu a da ilha de Santa Maria, deixou apenas as ilhas dos grupos central e ocidental do arquipélago como bastiões do apoio ao Prior do Crato.

O partido castelhano tentou a todo o custo uma solução negociada que permitisse a rendição dos açorianos capitaneados por Ciprião de Figueiredo. Foram enviados emissários e cartas e feitas promessas de perdões e recompensas. Contudo, os contactos terminaram com a célebre carta onde Ciprião de Figueiredo afirmava preferir antes morrer livres que em paz sujeitos, hoje o moto dos Açores e frase largamente usada na heráldica militar e autonómica açoriana.

Perdida a esperança de uma solução negociada, Filipe II resolve recorrer à força e envia à Terceira uma esquadra de 10 navios, 8 dos quais galeões de alto bordo, com 1000 homens de guerra, sob o comando do general D. Pedro de Valdez, com o objectivo de submeter a ilha. Depois de bordejar as costas da Terceira desde 5 de Julho, na madrugada do dia 25 de Julho de 1581, na Baía da Salga, no Porto Judeu, próximo da vila de São Sebastião, a armada castelhana inicia o desembarque. Apanhados de surpresa, os defensores daquela zona da ilha recorrem à largada de bovinos nos caminhos por onde as forças castelhanas pretendiam penetrar em terra, atrasando-as o suficiente para permitir o reagrupar dos defensores da ilha. Da batalha que se seguiu, a batalha da Salga, resultou uma humilhante derrota para a força invasora, obrigada a retirar com centenas de mortos, a maioria por afogamento no reembarque precipitado.

A vitória na batalha da salga deu novo ânimo aos partidários de D. António, tanto mais que as forças castelhanas, muito enfraquecidas pelas perdas sofridas, tiveram de retirar para São Miguel e dai para Lisboa, por o fim do estio não permitia a continuação de operações navais no arquipélago. Este período de alguma acalmia permitiu concentrar na Terceira mais mercenários franceses e ingleses contratados por D. António, a par de alguns portugueses, e reforçar as defesas da ilha.

Em Fevereiro de 1582 chega à Terceira o novel conde de Torres Vedras, Manuel da Silva Coutinho, com o título de regedor em nome de D. António, assumindo o governo supremo da ilha. Revanchista e determinado a esmagar qualquer real ou imaginada desafeição a D. António, inicia um processo de perseguição aos potenciais desafectos, que rapidamente desune a ilha e cria fricção com Ciprião de Figueiredo. É o princípio do fim da resistência terceirense.

Entretanto, refugiado em França, D. António tentava a todo o custo mobilizar as potências europeias rivais de Castela para o ajudarem a conquistar o trono, usando como argumento o facto de ainda ser reconhecido como rei nos Açores e poder, a partir das ilhas, montar uma ofensiva que lhe permitisse reconquistar Portugal.

No contexto desse esforço, a 26 de Junho de 1582 saiu de Belle-Isle em direitura aos Açores uma armada de cerca de 50 navios, com 5 000 homens de guerra, capitaneada por Filippo Strozzi, ex-marechal de França, e por D. Francisco de Portugal, 3.º conde de Vimioso. A bordo vinha D. António.

Informado da expedição, Filipe II faz partir de Lisboa, a 10 de Julho imediato, uma esquadra de 31 naus e 5 patachos, guarnecida com 5000 homens de guerra, incluindo um esquadrão de fidalgos portugueses, comandada por D. Álvaro de Bazán, marquês de Santa Cruz.

Chegando primeiro à ilha de São Miguel, a armada de D. António desembarca na ilha 3000 homens, tomando a maior parte da ilha, não conseguindo contudo a imediata rendição do Castelo de São Brás, de Ponta Delgada, o principal reduto da ilha, ao qual põe cerco. Porém, poucos dias depois, são avistadas as primeiras velas da esquadra luso-castelhana, pelo que D. António decide reembarcar as suas forças, sem conquistar o castelo, e dar combate no mar.

Depois de diversas manobras evasivas e ofensivas que se iniciaram a 24 de Julho, e aparentemente sem uma estratégia concertada pela parte franco-portuguesa, o enfrentamento, a que se deu o nome deBatalha Naval de Vila Franca, dá-se ao longo da costa sul de São Miguel na manhã de 26 de Julho de 1582, ficando as forças castelhanas vitoriosas. Os navios da armada franco-portuguesa são obrigados a dispersar, alguns arribando à Terceira, onde se refugia D. António, outros ao Faial e ainda alguns regressando a França. Filippo Strozzi e D. Francisco de Portugal, 3.º conde de Vimioso, são mortos, e os prisioneiros são cruelmente executados no adro da matriz de Vila Franca do Campo e no ilhéu de Vila Franca, onde os corpos são deixados apodrecer nas forcas como aviso.

Submetida a ilha de São Miguel, com o respectivo capitão do donatário agraciado com o título de 1.º conde de Vila Franca, a armada cruzou os Açores durante algumas semanas, sem contudo tentar a captura da Terceira, onde D. António se manteve refugiado até Novembro.

Aproximando-se o Inverno, D. Álvaro de Bazán decide regressar a Lisboa, deixando para o ano seguinte a conquista do resto do arquipélago.

Preparada nova força naval comandada por D. Álvaro de Bazán, que parte de Lisboa a 26 de Junho de 1583, desta vez trazendo a bordo muitos portugueses, entre os quais alguns terceirenses bem conhecedores das costas da ilha, para além de 10 000 soldados castelhanos, 1 500 alemães e duas companhias de italianos. Era uma força avassaladora que se aproximava de uma ilha que além de pequena estava desmotivada pela prepotência do regedor que, para além de mau governador era um incompetente militar.

Desembarque espanhol na baía das Mós,no Porto Judeu (Terceira), durante a crise de sucessão de 1580.

Depois de rondar a ilha durante mais de uma semana, tentando obter uma rendição negociada, a 26 de Julho de 1583 inicia-se o desembarque na Baía das Mós, no sueste da ilha, onde, apesar da resistência heróica de alguns, rapidamente os castelhanos ganham uma testa de ponte em terra, levando ao desbarato dos defensores. O último foco de resistência teve lugar junto à igreja de Nossa Senhora do Guadalupe, na Agualva e foi protagonizado por uma força francesa sob o comando do comendador de Chaste.

A cidade de Angra é saqueada durante três dias, centenas de pessoas são enforcadas ou decapitadas, entre as quais o conde Manuel da Silva Coutinho (Ciprião de Figueiredo saíra da ilha, juntando-se no exílio a D. António). A Terceira viveu um horroroso banho de sangue, a que se seguiu uma pesada ocupação militar.

Submetida a Terceira, rapidamente as restantes ilhas caem sob o jugo castelhanos. A última a render-se foi o Faial, onde o governador resistiu heroicamente e acabou enforcado por ter matado um emissário, e a 11 de Agosto foi finalmente jurada fidelidade ao rei Filipe I de Portugal em todas as Câmaras da Terceira.

Em meados de Agosto de 1583 era completo o domínio castelhano nos Açores, como aliás em todos os territórios sob soberania portuguesa. Em finais do mêsÁlvaro de Bazán partiu com o grosso das forças, levando consigos os principais membros da nobreza angrense, entre os quais a jovem Violante do Canto.

O preço pago tinha sido imenso, e as forças de ocupação, que ficaram entregues a Juan de Urbina, um militar duro e experiente, não permitiam quaisquer veleidades independentistas.
A ocupação castelhana (1583-1641)[editar | editar código-fonte]

Primeiro mapa dos Açores com todas as ilhas do arquipélago por Luís Teixeira e Abraham Ortelius(1584).

Versão colorida à mão do famoso desenho de Jan Huygen van Linschoten mostrando a ilha Terceira em1589, com Angra, a primeira cidade açoriana, em primeiro plano.
A Guerra do Castelo e a Restauração (1641-1642)[editar | editar código-fonte]

Aquando do golpe de 1 de Dezembro de 1640, que levou à Restauração da Independência Portuguesa, estava em Lisboa o fidalgo terceirense Francisco Ornelas da Câmara, o qual aparentemente mantinha algumas ligações com os conjurados, sendo um dos primeiros aderentes à causa da nova dinastia de Bragança.

Recebido pelo novel rei João IV de Portugal nos dias imediatos à sua aclamação, foi por este encarregado de vir à sua terra natal promover a nova realeza. Na impossibilidade de lhe serem fornecidas forças militares, e confiando que ainda estaria vivo na Terceira o sentimento anticastelhano que tinha sustentado a resistência à ocupação nos anos de 1580 a 1583, o plano gizado consistia em entrar discretamente na ilha, comunicar a notícia da Restauração às figuras chave da sociedade terceirense, preparando a amotinação popular, e tentar uma rendição do Castelo de São João Baptista do Monte Brasil, a sede do poder espanhol nos Açores. Imposto o cerco à fortaleza, esta viria a render-se apenas em 4 de março de 1642 através da combinação da ameaça de sublevação do povo e das milícias, com a promessa de múltiplas vantagens patrimoniais e honoríficas em caso de rendição pacífica.
Da Restauração à Capitania Geral (1642-1766)[editar | editar código-fonte]

Nos finais do século XIX, a pressão populacional nos Açores e a expansão económica do Brasil levaram à emigração de muitos açorianos para este país da América do Sul. Esta movimentação humana não era, contudo, um fenómeno novo. Com efeito, desde 1617 que a colonização do estado autónomo do Maranhão, Pará e Ceará se tinha iniciado com a ida de centenas de casais açorianos, numa fuga à fome e à miséria. Ocupavam áreas em conformidade com os interesses portugueses para colonizar o interior. Registros açorianos dão conta dos embarques com listas de casais. Motivados pelas dificuldades nas ilhas São Miguel e Santa Maria (orientais), Terceira, São Jorge, Graciosa, Pico e Faial (centrais), Flores e Corvo (ocidentais) partiram muitos, em busca de terra e trabalho nos primeiros embarques para o norte e nordeste brasileiro. Há registros nas datas de sesmarias de centenas de colonos Açorianos da Ilha de São Miguel, Santa Maria, Terceira, da Ilha da Madeira e da Província de Algarves que receberam terras no interior do Ceará, Maranhão e Pará ( 1680 a 1752). Os Documentos com registros dos embarques dos casais Portugueses para o Brasil, com o objetivo principal de povoação, revelam apenas os emigrantes legais, entretanto há relatos de dezenas de clandestinos em cada embarque.

Mais tarde, é a própria Coroa que promove, a partir de 1670, a emigração de açorianos para o sul do Brasil, nomeadamente para Santa Catarina, Nossa Senhora do Desterro, Porto Alegre e São Pedro do Rio Grande. Esta emigração, mais do que movida por questões humanitárias, era fundamentalmente ditada pela necessidade que Portugal sentia em ocupar efectivamente um território cobiçado pelas grandes potências europeias da altura, entre as quais se incluíam a Espanha, a Holanda e a França.

Esta emigração, caracterizada pela procura de zonas insulares e lacustres e pela implantação de zonas urbanas viradas para o interior, prolongou-se até ao século XIX e exigiu, naturalmente, um esforço por parte dos armadores marítimos de maneira a que se pudessem organizar carreiras regulares entre o Brasil e os Açores.
A Capitania Geral (1766-1820)[editar | editar código-fonte]

Por Decreto de 2 de agosto de 1766 o Consulado Pombalino extinguiu as Capitanias, instituindo em seu lugar a Capitania Geral dos Açores, a cargo de um capitão-general com vastos poderes, equiparáveis ao de um Vice-rei.[25] Este governo, com sede na ilha Terceira, abrangia todas as nove ilhas, com um Regimento próprio. Possuía além do poder político e administrativo, os poderes judiciais, fiscais e militares e completa tutela sobre os municípios, inclusivamente com controle da vida económica. Foi o seu primeiro titular Antão de Almada, 12.º conde de Avranches.

Além de governadores em cada ilha, destacaram-se a figura dos juízes de fora,[26] que além de suas funções ligadas à administração da justiça, passaram a ter a função de transmitir as directivas do capitão-general e presidir aos municípios e a dos corregedores, além de ter a seu cargo a administração régia nas ilhas, agora, além de garantir as ordens régias, passavam a ser o "braço direito do governador". No plano do funcionalismo público, passava a atender-se mais à preparação das pessoas do que aos laços pessoais, familiares e de amizade. No plano económico procurou-se aumentar a produtividade agrícola pelo aproveitamento dos baldios.

Por Alvará de 23 de fevereiro de 1771 o arquipélago ascendeu à categoria de província, passando a integrar, a par do arquipélago da Madeira e, por curtos períodos, do arquipélago de Cabo Verde, as designadas "ilhas adjacentes" a Portugal.

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