"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
quinta-feira, 2 de junho de 2016
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Eu, Canhoto
COLÉGIOS PRIVADOS / ENSINO PÚBLICO
Carta aberta às pessoas amarelas
MAIO 31, 2016 ROGÉRIO COSTA PEREIRA50 COMENTÁRIOS
Caras pessoas amarelas,
O que vos faz ir para as ruas é a escola dos filhos de cada um de vós. O que me fez e faz e fará ir para a rua, e até escrever este texto, é a escola de todos os filhos. Nunca foi “a escola do meu filho”. Foi sempre A Escola. Não vos vi por lá nessa altura. Usando o vosso vocabulário, a “escola do meu filho” andava a pagar a “escola dos vossos filhos”.
E aqui não há filhos e enteados. Fazem muito bem em lutar por um futuro melhor para os vossos filhos. Todos fazemos isso, como mães, pais e ainda que não sejamos pais ou mães (não percebem esta de nem sequer ter filhos e de, ainda assim, ter a obrigação de contribuir, pois não?).
Mas tentem ao menos perceber uma cena, a vossa liberdade de escolha (é a terceira vez que digo isto) não equivale a nenhum dever meu.
Acredito na Escola Pública (e não só porque o meu anda numa excelente escola pública).Acredito que o dinheiro até agora desbaratado pelo Estado em escolas privadas (já se deram sequer ao trabalho de perceber o que é “privado”?) vai contribuir, se aproveitado no Ensino Público, para a melhoria deste.
A culpa de não ser já de hoje para amanhã (o que lamento) é toda vossa. Foi demasiado tempo deste fartar vilanagem. Mas a Escola Pública vai compor-se, sim. Assim esta política se mantenha e não trema perante os lobbies amarelos.
No entretanto, terão mesmo de arcar sozinhos com os custos desta transição. Porque “essa” escola pública a 500 metros do vosso colégio não tem as condições deste, precisamente por causa do dinheiro que o Estado despejou no Privado, ao invés de alimentar o Ensino Público, que é o único que lhe compete.
O resto é o tal “direito à escolha”. Nunca ninguém colocou em causa o vosso direito, desde que este Governo e maioria parlamentar que o sustenta, resolveu abrir os olhos. Não o transformem é num dever meu.
Mais uma coisa. Lá atrás, quando falo de lutar… Não lutámos apenas pela Escola Pública. Mas disso nem vale a pena falar, seria demasiado para as vossas singulares e umbiguistas cabecinhas
E não, não sou dono da razão, mas pago as minhas escolhas.
Sejam dignos, façam o mesmo. Para além de que estão a fazer uma figurinha tão triste, àquele nível de um tipo sentir vergonha por acções de terceiros.
Será mandar pérolas a porcos, o que de seguida digo. Pedir-vos a decência de lutarem pelas crianças, por todos os filhos de todos os pais. Ainda assim aqui fica, e podem juntar o desafio de lutarem também por vós e pelos avós. Mas não é só vós, nem é só os avós dos vossos filhos. Um nó no cérebro, imagino.
Essa luta é transversal à sociedade, esquerda ou direita. Tem a ver com distinguir o justo do injusto.
Já termino.
Escolheram bem a cor. Amarelo. Façam por não ser amarelos. Tentem ser de todas as cores ou assim. E poderemos proporcionar um futuro melhor a todos. Enquanto andarmos todos em singulares barquinhos a remos (não, vocês não estão todos no mesmo barco), não chegaremos a lado nenhum.
Foi também pelo meu filho que escrevi estas palavras. Mas vocês nunca perceberão a diferença. Ainda assim, fica mais esta tentativa.
Escolham à vontade. Defenderei intransigentemente o vosso direito a escolher. Mas não, não vos pago o jantar.
É que não… há… dinheiro… percebem? Mas não é aqueloutro “não há dinheiro”. É que por mais dinheiro que houvesse, o Estado não tem de pagar o Privado. Tem é de assegurar meios no Público. Por mais dinheiro que houvesse, nunca haveria dinheiro para vos sustentar.
Sejam felizes, tratem dos putos e ganhem juízo.
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