quinta-feira, 19 de novembro de 2015

DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA

NOVEMBRO 18, 2015 · 11:37 PM
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DIA DA FILOSOFIA


A Filosofia, como tudo o que é mais importante, apresenta-se sob diversas formas. A mais visível é talvez a figura dos grandes filósofos, de que Platão e Aristóteles são duas traves mestras. Outra das formas, a mais pesada, é a filosofia escolar, no secundário e no superior, com tudo o que implica de exigências académicas. Uma outra forma, a mais difusa, é a presença da filosofia por dentro do tecido social, a configurar as nossas formas de vida e a orientar as nossas decisões pessoais e colectivas. É desta última das suas presenças que nos vem muito daquilo que somos. A verdade, porém, é que andamos desorientados entre o que somos e o que queremos ser. Se Deus morreu e a realidade perdeu o seu poder de referente objectivo absoluto, então, onde estamos? e para onde vamos?

Basta olhar à volta, para nos darmos conta de que nos encontramos numa série, para nós quase infinita, de encruzilhadas. Decisivas, ainda por cima. Mas todas elas incertas.

E se é verdade que a filosofia que nos tece por dentro do tecido social nunca deixou de ser problemática, também é verdade que a sua presença activa sob a forma de reflexão – pessoal e colectiva – não tem tido um lugar suficiente. Apesar de se multiplicarem os lugares e as organizações que dão à filosofia um papel activo e que chamam a filosofia a participar, com os outros saberes disciplinares, na tarefa de refazer o mundo e as rotas de futuro.

A filosofia com crianças, o café filosófico, o aconselhamento filosófico, a oficina temática, o retiro filosófico, a caminhada filosófica, o programa radiofónico de natureza filosófica… são apenas algumas das formas de presença activa da filosofia na cidade dos homens e mulheres que somos, hoje. Mas não são suficientes para darmos boa conta da tarefa urgente de dar novo sentido aos problemas e orientar a nossa acção comum.

Neste Dia da Filosofia, em 2015, é importante darmo-nos conta de que temos problemas de monta a resolver e de que precisamos de decidir para onde queremos ir.



O terrorismo internacional e o desafio dos refugiados, a ameaça das alterações climáticas, a progressiva concentração da riqueza nas mãos de muito poucos e a condenação de milhões de pessoas a uma pobreza de que nunca poderão sair pelos próprios meios, o desafio de um desenvolvimento que seja durável em alternativa a um crescimento que delapida os recursos não renováveis, o clima de crispação e de intolerância que tem vindo a crescer, a crise dos sistemas de segurança que garantiam às pessoas singulares alguma tranquilidade no futuro, os crescentes problemas de saúde resultantes quer da abundância relativa quer do progressivo envelhecimento das populações, …

Em Portugal, a reconstrução de uma saída para a crise política actual, a reconquista de um lugar viável e digno entre as nações da Europa e do mundo, a recuperação de todos quantos se perderam na crise económica e social por que ainda estamos a passar, a reconstrução de um sistema de ensino capaz de enfrentar com sucesso os desafios dos novos tempos, a redescoberta de uma saída económica e social para o interior em progressiva perda de vitalidade…

Nas organizações em que trabalhamos, nas famílias de que somos parte e na nossas vida pessoal, precisamos de decidir o que fazer, o que vale mais e menos, o que deve ser bem preservado e o que pode ou deve ser abandonado, como somos justos e felizes, inteiros e tolerantes, criativos e respeitadores e assim sucessivamente.

Alguém pode dizer que a filosofia não tem uma palavra a dizer em todos e cada um destes desafios? Alguém pode defender que em cada um destes problemas a filosofia pode ser dispensada de participar na procura das necessárias soluções?

Muitos são os recursos filosóficos de que podemos dispor, muitos são os novos desafios que é necessário enfrentar com uma reflexão renovada. Por isso, muitas têm de ser as formas de estar filosoficamente presente e activo nos lugares e nos momentos em que os problemas são reflectidos e decididos. E é necessário refrescar a imagem pesada, por vezes mesmo bafienta, que da filosofia se foi dando ao longo dos anos. Da filosofia de que nada se espera, cabe-nos fazer o trânsito para uma filosofia com que se pode contar e com que se conta de facto. Essa é uma tarefa cuja responsabilidade cabe sobretudo a quem tem nas mãos o trabalho profissional da filosofia como disciplina e como prática.

O ano de 2015 é, como qualquer outro, um ano decisivo. Mas este é aquele que agora nos é dado viver neste cruzamento histórico em que nos encontramos. Hoje é o dia, esta é a hora, em que todos somos chamados a participar desta aventura de estarmos vivos, uns com os outros, nas nossas diferenças mas sobretudo naquilo que nos une e que é muito. A filosofia é, hoje como ontem, chamada a ter um papel activo na reconstrução de uma saída deste labirinto em que nos encontramos. E a nós – a cada um de nós – cabe participar deste processo com as ferramentas que temos e que, sempre, é preciso aprimorar.



José Alves Jana

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