segunda-feira, 19 de outubro de 2015

In "RURALEA": TAPETES de ARRAIOLOS



Tapetes de Arraiolos é a designação que se dá aos bordados a lã de diversas cores sobre tela de linho, estopa, grossaria ou canhamaço. O ponto cruzado oblíquo foi adoptado pela decoração arraiolense – a sua execução obedece ao processo de fios contados atapetando inteiramente o fundo do campo e da barra.Tapetes de Arraiolos

O ponto cruzado aparece na Península desde o século XII, sendo manifesta a utilização duma técnica com características muçulmanas (Espanha recorre à seda, Portugal à lã). Arraiolos terá sido um dos locais onde se estabeleceram algumas das famílias mouriscas expulsas por D. Manuel I em 1496. Localizaram-se na região do Alentejo, onde deitara raízes a influência do Islão, e, sob a aparência da recente conversão, apoiaram-se nos mesteres que tradicionalmente exerciam.Arraiolos

Iniciaram uma manufactura que usava uma técnica posteriormente denominada de ponto de Arraiolos, cuja referência mais antiga data de 1699. No decorrer da primeira metade do século XVIII, Arraiolos já fornecia outras regiões do País, tornando-se no principal centro deste tipo de bordado. Os tapetes eram habitualmente utilizados no arranjo decorativo da casa portuguesa do século XVIII (revestimento de paredes, mesas e arcas, e cobertura de pavimentos).Tapetes de Arraiolos

Para que tal prática se desenvolvesse, apoiada num sólido saber tintureiro, foram necessários anos de tradição, o que nos faz pensar que ainda antes da segunda metade do século XVII se encontrava bem desenvolvida a manufatura de Arraiolos. A influência que primeiro se fez sentir foi a da composição e organização do tapete – determinam-se as dimensões totais e traçam-se duas linhas perpendiculares que dividem a superfície em quatro partes iguais: o eixo longitudinal e o transversal, em torno dos quais se dispõem simetricamente os ornatos.Tapetes de Arraiolos

O suporte é dividido em dois pólos – campo e barra. É incluído um ornato central na intersecção dos dois eixos, dividindo o tapete em três partes – centro, campo e barra. A decoração da barra faz-se sempre com motivos distintos dos do campo, e o centro afirma-se também como zona independente das restantes. O fundo cromático do campo e da barra é distinto, diferindo o do ornato central do escolhido para o campo. A nível cromático, os tapetes antigos utilizam muito o roxo e o vermelho, o rosa, a cor de carne, o amarelo torrado e a cor de pulga (castanho), obtidos a partir do pau-brasil. O azul vinhado anil foi, juntamente com o amarelo, um dos tons dominantes do século XVIII. O verde era obtido através da lã tingida com azul, mergulhando-a em amarelo.Tapetes de Arraiolos

Lentamente, a partir da primeira metade do século XVIII, a decoração oriental como um todo deixa de fazer parte das composições, embora subsistam motivos isolados a par com outros de origem nacional e europeia. No primeiro terço do século XIX, a influência persa deixou de existir a nível decorativo, mantendo-se no entanto a nível do esquema de composição do tapete.Tapetes de Arraiolos

Inicialmente, os tapetes foram classificados por épocas: segunda metade do século XVII – trabalho conventual com rica policromia e transposição de motivos persas; transição para a segunda época, com os primeiros trabalhos da indústria de Arraiolos; século XVIII (dois terços iniciais) – motivos orientais isolados a par com motivos populares; último terço do século XVIII e primeira metade do século XIX – a inspiração vegetalista e floral invade o campo e praticamente suprime a barra e o ornato central. Posteriormente recorre-se à classificação por padrões: padrão geométrico, de influência hispano-mourisca; padrão floral, com ornatos vegetalistas mais ou menos estilizados; padrão de rosetas, com cor opulenta, grandes rosetas e personagens historiadas; padrão oriental, de bichos combinados com elementos florais; finalmente, padrão de ramagens, com o campo inteiramente preenchido por motivo floral.Tapetes de Arraiolos

Esta última classificação é, apesar de tudo, insuficiente, pois existem tapetes com grande número de sincretismos decorativos. Actualmente optou-se por valorizar individualmente cada exemplar, observando a sua decoração na globalidade, identificando o material, a técnica, a policromia e a densidade do bordado, de modo a tentar fazer uma correta avaliação do exemplar.

Sem comentários:

Enviar um comentário