Os Nossos Pedaços
Há, em cada um de nós, um acúmulo de tempos perdidos, um rastro de pedaços esquecidos ao longo do caminho. A vida, com suas mãos invisíveis e implacáveis, vai nos esculpindo, tirando pequenas partes a cada curva, a cada escolha. Somos inteiros, num primeiro momento, cheios de futuro e de ilusões de permanência, mas o curso dos dias nos desfaz em fragmentos que deixamos nas margens da estrada. Um nome que já não dizemos, um rosto que já não lembramos, um sonho que murchou nas madrugadas insones – cada um deles leva consigo um pedaço de nós.
Vamos perdendo partes pequenas, quase imperceptíveis no início: a inocência que nos dava asas, a fé no impossível, o brilho dos olhos diante de um horizonte vasto. Mas logo as perdas se tornam maiores, mais profundas. Deixamos para trás um lar que já não nos acolhe, despedimo-nos de amores que se desgastaram com o tempo, e cada adeus nos arranca algo que jamais será reposto. Até mesmo o que fica em nós se transforma; as cicatrizes são um outro tipo de ausência, uma marca de algo que se foi, mas que ainda nos habita.
No entanto, há uma beleza amarga nesses vazios. Os pedaços que perdemos ao longo da vida contam a história de quem somos. As lacunas nos moldam, tornam-nos mais humanos, mais conscientes da fragilidade que nos define. Não somos apenas aquilo que restou; somos também o que foi, o que deixamos nas mãos do tempo. E talvez o que nos completa não seja mais o dgesejo de sermos inteiros, mas a aceitação de que a beleza está no imperfeito, no quebrado, no incompleto.
Cada pedaço que perdemos é um traço de nossa passagem, um testemunho silencioso de que vivemos. Assim, seguimos, com partes faltantes, mas cheios de vida, tentando, em nossos fragmentos, construir uma nova inteireza, ainda que feita de ausências.
Oliver Harden
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