NOIVADO-DAS-SEIVAS…
* Estende-se, lenta, a escuridão do anoitecer,
sem que se perturbe o brilho das estrelas que poisam,
descansadas, sobre o nosso olhar…
quentes a passarem por mim, como entre a terra e o céu,
enquanto as nuvens se esquecem das horas de denso breu…
*Fecho os olhos, numa aurora de promessas da fala das tuas mãos
sem pressas, perdidas no tempo-sem-tempo das horas-da-criação.
Estou no centro do mundo,
olho de vulcão desperto à cadenciada rotação do universo!
Sílabas de lava e magma escrevem o mar
em versos de aproximação ao fogo
que deflagra, aos pés do promontório de terra e água.
*Sozinha, na presença da alma, tenho um jardim de rubra cor…
*e o aroma do jasmim desfila clamor…
*e a onda de luar abraça a terra-a-dar-flor…
*A treva acorda a luz do magma adormecido,
na fria água do oceano espalhado…
*As fontes cantam, ao longe, a rezar a hora do noivado-das-seivas.
e o tempo passa, quase clandestino, pela pele da face das dálias
a rodopiar areias do vento secreto das marés-cheias .
*Sabe a aromas de tílias…ouve-se a cor das buganvílias…
…e as paisagens encetam um toque de partituras, que se enredam em nervuras
das redondilhas da terra-a-gemer-sementes-grávidas,
nas vigílias de luar…
*Tuas mãos, incenso do meu-noivado-comigo, arderam em cristais
estilhaçados- de- saudades -dos -sonhos-apenas-sonhos, fugidos.
- que se perderam num espaço de planos inclinados
pela geometria das constelações-a-parir-luz.
*E é tudo tão onírico no real,
que o rumor do sangue a correr pelas veias
lembra o som grávido de alegria do voo das aves,
a roçar iluminuras de palavras-prenhes,
em ondas de marés cheias.
*Beijo a terra, devagar…
…e uma semente de fogo crepita-o-noivado a desabrochar…
No seu ventre está a história de um grande amor
que, lento se estendeu num leito de luar
quando , (certa noite,) o mundo adormeceu, sem reparar…
Tenho tantas sílabas, num ninho místico, a germinar…
Por cima delas, há um ramo de palavras,
prontas para noivar
de cor verde, branca a brilhar
Maria Elisa Ribeiro
DEZ/016
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