sábado, 26 de março de 2016

De Antero de Quental...



Poema de Antero de Quental

Na Mão de Deus
Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.


Como as flores mortais, com que se enfeita
A ignorância infantil, despojo vão,
Depois do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.

Como criança, em lôbrega jornada,
Que a mãe leva ao colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,

Selvas, mares, areias do deserto...
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!

Antero de Quental, in "Sonetos"

Nota: de notar que, o Deus de que fala Antero, não é o DEUS das religiões; é a morte, o descanso eterno para quem tanto sofreu, e se sentiu desamparado, na vida,

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