terça-feira, 29 de março de 2016

Da Síria...(in www.publico.pt)


O mundo não perdeu Palmira – mas serão necessários cinco anos para voltar a levantá-la


INÊS NADAIS

28/03/2016 - 17:50


Primeiras imagens da cidade após a tomada pelo exército sírio mostram que vários monumentos foram surpreendentemente poupados.





Vista geral do sítio arqueológico de Palmira após a tomada da cidade pelo exército sírio
MAHER AL MOUNES/AFP




















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Não havia boas notícias de Palmira desde que o Estado Islâmico (EI) tomou a cidade, em Maio de 2015, e fez dela um caso particular da sua ofensiva para controlar a estrada que liga a capital síria, Damasco, à disputada província de Deir-Ezzor. Paragem estratégica a meio do caminho, e não apenas por razões de conveniência militar: entre muitas outras baixas, todas irreparáveis, o EI publicitou, à atenção da comunidade internacional, a destruição de alguns dos mais monumentais vestígios da civilização que ali se levantou há mais de dois mil anos, na encruzilhada entre o império romano e o Oriente, e que foi ponto de paragem obrigatória para as caravanas da Rota da Seda.

Há boas notícias agora que o exército sírio reconquistou a cidade com apoio da aviação russa e foi possível verificar in loco o estado daquelas ruínas que a UNESCO inscreveu em 1980 na lista do Património da Humanidade – mas também há más. Em declarações à AFP, o chefe do Departamento de Antiguidades sírio, Maamoun Abdelkarim, anunciou que, embora as autoridades temessem de facto o pior, “em geral a paisagem [arqueológica] está em bom estado”. Ainda assim, acrescentou mais tarde, “serão necessários cinco anos para restaurar os monumentos destruídos ou danificados” pelo EI – os mais gravemente afectados serão, como já se sabia, o Arco do Triunfo eos templos de Baal-Shamin e de Bel. Deste em particular, notou Abdelkarim ao New York Times, muitas pedras estão intactas: “Vamos tentar reconstruí-lo. Não ficará como dantes.”

As primeiras imagens divulgadas pelas agências internacionais após a tomada de Palmira pelas tropas de Bashar al-Assad confirmam a devastação parcial do sítio arqueológico – e o até aqui indocumentado grau de destruição a que foi submetido o museu da cidade na ausência do seu director, Khalil al-Hariri, forçado a deixar Palmira por razões de segurança. Em contrapartida, também revelam que vários monumentos foram surpreendentemente poupados: o teatro romano, a ágora e a colunata parecem ter sobrevivido a dez meses de ocupação e hostilidade, embora o exército sírio admita que possa ainda haver explosivos por detonar na área.

Serão precisos mais alguns dias para que a equipa de peritos do Departamento de Antiguidades possa conduzir uma primeira avaliação conclusiva dos danos, que se estendem a várias torres funerárias da necrópole de Palmira situadas a Oeste das antigas muralhas da cidade. A UNESCO, através da sua directora-geral, Irina Bokova, já tinha saudado a ofensiva para libertar a "cidade-mártir" e anunciou agora que os seus peritos estão prontos para integrar “uma missão de emergência” – em resposta, o presidente russo Vladimir Putin, disponibilizou “o apoio imediato e as competências do seu país […] assim que as condições de segurança o permitam”, avança um comunicado da organização. O porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, adiantou entretanto que o “contingente russo participará nas operações de desminagem” do complexo arqueológico.

A reconstrução das ruínas de Palmira é a “batalha cultural” que se segue – para Maamoun Abdelkarim, que este domingo escreveu no Guardian que voltar a levantar o que resta daquela cidade mítica da Antiguidade enviará a mensagem certa ao terrorismo internacional (“Assim diremos aos terroristas que, façam o que fizerem, não podem apagar a nossa história, e que não ficaremos de braços cruzados a chorar sobre as ruínas”), mas também para a UNESCO, que pretende organizar no fim de Abril uma conferência de peritos para discutir aprofundadamente a estratégia a adoptar na Síria.

O responsável sírio acusa o EI de ter “obliterado” em Palmira um passado histórico e cultural que não é apenas nacional, ao longo de dez meses em que “o roubo e a pilhagem se tornaram habituais”: “O património sírio é património de toda a humanidade. Não pode ser dividido entre os que apoiam o governo e os que apoiam a oposição (…). Síria, Iémen, Líbia, Iraque, Afeganistão, Mali – todos sofreram a destruição do seu património às mãos de uma ideologia de extremismo e terror.”

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