domingo, 18 de outubro de 2015

Na Europa Não Há Democracia!Na RTP- Televisão de Portugal, numa Palestra , em COIMBRA.


Yanis Varoufakis critica a Europa em Coimbra: "Tive a audácia de falar de economia no Eurogrupo"

Christopher Marques - RTP17 Out, 2015, 19:59 / atualizado em 18 Out, 2015, 11:31 | Economia



| Yves Herman - Reuters
Crítico, controverso e livre. Yanis Varoufakis apresentou-se este sábado em Coimbra com as características que o tornaram mundialmente famoso, especialmente depois de a política grega o ter trazido para os palcos da ribalta. Crítico feroz das medidas de austeridade, o ministro grego das Finanças lançou duras críticas à forma como a União Europeia funciona e está construída.



O ex-governante referiu em Coimbra que os membros do Eurogrupo não recebem informação detalhada sobre a situação dos países acerca dos quais tomam decisões. Yanis Varoufakis disse, a título de exemplo, que não tinha informação sobre a situação portuguesa quando esta era debatida, tirando o que tinha lido na comunicação social.

No Eurogrupo, diz Varoufakis, não se fala de economia. “Tive a audácia de falar de economia no Eurogrupo. E olharam para mim com um estranho animal, um perigoso comunista. Alguns dos meus colegas disseram que fui mal criado porque lhes dei lições de economia”, afirmou.


O economista alertou que as instituições europeias estão atualmente a dividir aos europeus. Varoufakis defende que o Mecanismo Europeu de Estabilidade apenas traz mais instabilidade e que a união bancária, apenas une no nome. A moeda única, alerta o ex-ministro, está a dividir os europeus.

Numa conferência intitulada “Democratização da Zona Euro”, o professor da Universidade de Atenas criticou a falta de poder do Parlamento Europeu, que não tem as capacidades habitualmente conferidas a este tipo de órgão. Já os parlamentos nacionais, viram os seus poderes transferidos para Bruxelas.
"Tive a audácia de falar de economia no Eurogrupo. E olharam para mim com um estranho animal"

“Mas em Bruxelas caíram num gigantesco buraco”, tendo voltado a criticara falta de poderes de Estrasburgo. “Está simplesmente ali para legitimar” uma Europa que Varoufakis aponta como ilegítima.

Críticas à União Europeia, e críticas ainda mais específicas para a moeda única. Yanis Varoufakis condena o que diz ser a inexistência de mecanismos para absorver crises, ao contrário do que acontece nos Estados Unidos. O ex-governante afirma que a Zona Euro é o único sírio onde há um banco central que não tem um Governo legítimo por trás.



Apesar da postura crítica, o economista afirma ter esperança de que a União Europeia se possa tornar uma “verdadeira democracia”. Na Europa, Varoufakis considera que falta também investimento, e que esse é a solução para que haja futuro para os mais jovens.

O ex-governante acredita que a população com posses está demasiadamente receosa para investir as suas poupanças, falando mesmo em “défice de otimismo”, o que acaba por provocar um ciclo de falta de investimento.
Grécia
Yanis Varoufakis tornou-se conhecido do grande público em janeiro de 2015, depois de o Syriza ter vencido as eleições e de o economista ter assumido a pasta das Finanças do primeiro Governo de Alexis Tsipras.

O economista sempre apresentou uma postura crítica, contra austeridade e sempre reprovou as medidas impostas a Atenas. Em Coimbra, Varoufakis recordou algumas das negociações com a União Europeia, nomeadamente as que antecederam o referendo."Era um programa que era apresentado para humilhar o Governo que tinha dito não à troika"

“Dia 15 de junho de 2015: foi o dia em que a troika me apresentou um ultimato que tinha três capítulos: um plano fiscal de três anos, um ciclo de reformas e a proposta de financiamento da troika”.

O ex-ministro garante que lhe bastaram cinco segundos para perceber que nada daquilo seria viável. “Era um programa que era apresentado para humilhar o Governo que tinha dito não à troika”, acusa.

O Governo grego optou por referendar o acordo, uma opção que Varoufakis diz ter sido considerada “escandalosa” por vários ministros do Eurogrupo, que estranharam que uma decisão tão importante fosse colocada nas mãos do povo helénico. O ex-ministro confidenciou ainda que não acreditava que o "não" vencesse o referendo.Varoufakis afirma que não é o único que não acredita no programa e que o próprio Wolfgang Schäuble lhe confidenciou que não assinaria aquele acordo se fosse com ele.

A experiência de Yanis Varoufakis no executivo helénico motivou o interesse da plateia, tendo sido abordada no debate que sucedeu à aula do ex-ministro.

O economista recusou a ideia de que tenha abandonado Alexis Tsipras ao apresentar a demissão e garante que continua a ser amigo do primeiro-ministro. No entanto, a amizade não entra nas grandes questões políticas.

Yanis Varoufakis frisou que não acredita no acordo assinado com as instituições e que, como tal, decidiu que sairia do executivo helénico. O governante disse que não é o único que não acredita no programa e que o próprio Wolfgang Schäuble, ministro alemão das Finanças, lhe confidenciou que não assinaria aquele acordo se fosse com ele.

Estando na Universidade de Coimbra, Yanis Varoufakis deixou também várias mensagens aos estudantes. O ex-governante recusa a ideia de que os alunos sejam meros consumidores e que devam ser tratados como clientes.

Os clientes, ressalva Varoufakis, sabem o que querem e têm sempre razão. Os alunos "não estão aqui para consumir. Estão aqui para crescer”.

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