segunda-feira, 5 de outubro de 2015

DA SUÉCIA...


Nobel da Medicina recompensa três investigadores por trabalhos sobre parasitas


ANA GERSCHENFELD

05/10/2015 - 10:40


Os dois medicamentos descobertos pelos laureados – um vindo do solo japonês e o outro da medicina tradicional chinesa – “revolucionaram o tratamento de algumas das mais devastadoras doenças parasitárias”, segundo o comité do Nobel.





Urban Lendahl, secretário do comité do Nobel, a anunciar o prémio
JONATHAN NACKSTRAND/AFP





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Nobel
Nobel da Medicina


O prémio Nobel da Medicina de 2015 foi atribuído esta segunda-feira aos investigadores William Campbell e Satoshi Omura "pelas suas descobertas acerca de um tratamento inédito contra as infecções causadas por parasitas nemátodos"; e à cientista Tu Youyou, "pelas suas descobertas acerca de um tratamento inédito contra a malária", anunciou o comité do Nobel no Instituto Karolinska, em Estocolmo (Suécia).

William Campbell nasceu na Irlanda em 1930 e é investigador emérito na Universidade Drew (EUA); Satoshi Omura (nascido em 1933 no Japão), é cidadão japonês e professor emérito na Universidade de Kitasato (Japão). Ambos partilham metade do prémio. A outra metade recompensa a chinesa Tu Youyou (nascida em 1930), da Academia de Medicina Tradicional da China.

Eis alguns números que mostram até que ponto as doenças parasitárias constituem um gravíssimo problema de saúde pública. Por exemplo, estima-se que os chamados parasitas – ou vermes – nemátodos afectam um terço da população mundial, sobretudo na África Subsariana, no sul da Ásia e nas Américas Central e do Sul. Uma dessas doenças, particularmente incapacitante, é a oncocercose, também chamada “cegueira dos rios”, que provoca uma inflamação crónica da córnea e conduz a perda total da visão. Outra é a filaríase linfática, mais conhecida como elefantíase, que atinge mais de 100 milhões de pessoas e causa inchaços monstruosos e crónicos de diversas partes do corpo.

Também a malária é uma doença parasitária, desta vez causada por parasitas unicelulares que são transmitidos aos seres humanos por mosquitos infectados. Os parasitas invadem os glóbulos vermelhos do sangue, causando febre e, nos casos mais graves, lesões cerebrais e morte. Mais de 3400 milhões de pessoas no mundo estão em risco de contrair a doença, que vitima 450.000 pessoas por ano, sobretudo crianças.

Campbell e Omura descobriram um novo medicamento, a avermectina – um derivado do qual, a ivermectina, permitiu reduzir drasticamente a incidência da cegueira dos rios e da elefantíase. “O tratamento tem tido tanto êxito que estas doenças estão à beira da erradicação, o que seria um feito maior da espécie humana”, diz o comité do Nobel em comunicado.

Pelo seu lado, Tu Youyou descobriu um outro medicamento, a artemisinina, que tem reduzido de forma substancial as taxas de mortalidade devidas à malária: mais de 20% na população em geral e mais de 30% nas crianças, salienta o comunicado.

“Estas duas descobertas deram à espécie humana poderosas novas ferramentas para combater estas doenças incapacitantes, que afectam centenas de milhões de pessoas no mundo todos os anos”, lê-se no mesmo documento.

A história das duas descobertas envolve bactérias que vivem enterradas no solo e plantas cujas propriedades terapêuticas estavam também elas “enterradas” em misteriosos e antigos compêndios de medicina tradicional chinesa. E põe assim em evidência o potencial dos compostos presentes na natureza para combater as doenças humanas.

As pesquisas que conduziram ao desenvolvimento da ivermectina partiram de Satoshi Omura, microbiólogo de formação, cuja especialidade era isolar bactérias a partir de amostras de solo. Omura desenvolveu métodos totalmente inéditos para cultivar e estudar bactérias, nomeadamente do género Streptomyces, que se sabia produzirem uma série de substâncias com qualidades antibacterianas. E isolou uma série de novas estirpes, seleccionando 50 das mais promissoras em termos terapêuticos.

Reza a lenda que Omura, grande adepto de golfe, terá descoberto essas novas estirpes no seu clube de golfe. Numa curta conversa telefónica esta-segunda feira com Adam Smith, da Fundação Nobel – e depois de ter “humildemente” (mas com alegria) aceitado o galardão e quase ter dito que não o merecia – Omura explicou, entre risos, que não foi no relvado do campo de golfe que descobriu aquelas bactérias, mas numa área de floresta que ladeava o terreno.

Seja como for, Campbell adquiriu as culturas bacterianas de Omura e decidiu estudar mais a fundo a sua eficácia. Foi assim que mostrou que uma dessas culturas continha um componente “cuja eficácia contra os parasitas dos animais domésticos e de criação era notável”, explica ainda o comunicado Nobel. A seguir, esse composto – a avermectina, que foi entretanto modificada e rebaptizada invermectina – foi testado em seres humanos, mostrando-se capaz de matar as larvas de uma série de parasitas nemátodos.

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