terça-feira, 30 de junho de 2015

Entrevista ao Prémio Nobel da Economia Joseph Stiglitz


foto de Associação 25 de Abril.
7 h



Associação 25 de Abril


Tradução de uma notícia publicada no TIME baseada numa entrevista telefónica ao Nobel da Economia.
Joseph Stiglitz avisa os credores da Grécia: Abandonem a austeridade ou admitam o falhanço generalizado”.
O laureado com o Nobel da Economia afirma que as instituições e os países que forçaram a austeridade na Grécia “têm responsabilidades criminais”
Há alguns anos atrás, quando a Grécia estava ainda no início da rampa para a depressão económica, o prémio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, lembra ter discutido a crise com as autoridades gregas. O que os Gregos pretendiam era um pacote de estímulo para impulsionar o crescimento e criar empregos, e Stiglitz, que tinha acabado de produzir um influente relatório para as Nações Unidas sobre a forma de lidar com a crise financeira global, concordava que este seria o melhor caminho a seguir. Em vez disso, os credores estrangeiros da Grécia impuseram um rigoroso programa de austeridade. Em resultado disso a economia grega contraiu-se cerca de 25% desde 2010. O corte de custos foi um enorme erro, diz Stiglitz, e é hora para os credores admiti-lo.
"Eles têm responsabilidade criminal", diz referindo-se à chamada troika de instituições financeiras que terão afiançado a economia grega em 2010, ou seja, o Fundo Monetário Internacional, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu. "É um tipo de responsabilidade criminal por terem provocado uma enorme recessão", diz Stiglitz numa entrevista telefónica.
Em conjunto com um número crescente de economistas mais influentes do mundo, Stiglitz exortava a troika para perdoar a dívida da Grécia - estimada em cerca de US $ 300 bilhões em resgates - e para oferecer o dinheiro de estímulo que dois sucessivos governos gregos solicitaram.
Se isto não for feito, argumentava Stiglitz, a recessão na Grécia, - já em si mais profunda e prolongada do que a Grande Depressão nos EUA – iria não só agravar-se mas também destruiria a credibilidade da moeda comum da Europa, o euro, e colocar a economia global em risco de contágio.
Até agora, os credores da Grécia apenas têm minimizado esses riscos. Nos últimos anos têm vindo, repetidamente, a afirmar que os bancos europeus e os mercados mundiais não enfrentam qualquer ameaça séria se a Grécia abandonar o euro, e que estes tiveram o tempo suficiente para ficarem imunes a esse resultado. Mas Stiglitz, que actuou como economista-chefe do Banco Mundial, de 1997 a 2000, afirma que essa protecção não existe numa economia globalizada, onde as conexões entre eventos e instituições muitas vezes são impossíveis de prever. "Nós não conhecemos todas as ligações", afirmou.
Muitos países da Europa Oriental, por exemplo, ainda são fortemente dependentes de bancos gregos, e se os bancos falirem a União Europeia enfrenta o risco de uma turbulência financeira numa reacção em cadeia que poderia facilmente espalhar-se para o resto da economia global. "Há uma falta de transparência nos mercados financeiros que faz com que seja impossível saber exactamente quais são as consequências", diz Stiglitz. "Alguém que diga que conhece como irão reagir, obviamente, não sabe do que está a falar."
Durante o fim de semana a perspectiva de a Grécia abandonar o euro aproximou-se mais do que nunca, com as negociações entre o governo grego e os seus credores a serem interrompidas. O Primeiro-Ministro Alexis Tsipras, que foi eleito em Janeiro com a promessa de acabar com a austeridade, anunciou no sábado que ele não podia aceitar as exigências "insultuosas" da troika para mais aumentos de impostos e cortes de pensões, e convocou um referendo para 05 de Julho para que os eleitores decidissem como o governo deverá lidar com as negociações daqui para frente. Se a maioria dos gregos votar no sentido da rejeição das propostas da troika para continuar a apoiar a Grécia, esta poderá ser obrigada a liquidar a sua dívida e a sair da união monetária.
Stiglitz vê dois resultados possíveis para esse cenário - nenhum deles agradável para a União Europeia. Se a economia grega recuperar depois de abandonar o euro, seria "certamente aumentar o impulso para a política anti-euro", encorajando outras economias em dificuldades para abandonar a moeda comum e caminhar sozinho. Se a economia grega entra em colapso sem o euro, "você tem na ponta da Europa um Estado falido", diz Stiglitz. "Nesta situação a geopolítica tornar-se-á muito problemática."
Ao fornecer ajuda financeira, a Rússia e a China, seriam então capazes de minar a lealdade da Grécia à UE e às suas decisões de política externa, criando o que Stiglitz chama de "um inimigo interno." Não há nenhuma maneira de prever as consequências a longo prazo de uma tal ruptura na coesão política da UE, mas provavelmente será mais caro do que oferecer à Grécia algum alívio nos seus empréstimos, diz ele.
"Os credores devem admitir que as políticas por eles apresentadas ao longo dos últimos cinco anos são erradas", diz Stiglitz, professor da Universidade de Columbia. "O que eles exigiram provocou uma profunda depressão com efeitos de longo prazo, e eu não acho que seja possível aos europeus e à Alemanha dizer que têm as mãos limpas. A minha opinião é que eles deveriam reconhecer sua cumplicidade e dizer: “Passado é passado. Cometemos erros. Como iremos fazer daqui para a frente? '"
A solução mais razoável que Stiglitz vê é um perdão da dívida da Grécia, ou, pelo menos, uma solução que não requeira qualquer pagamento nos próximos dez ou quinze anos. Durante este tempo deverá ser dada à Grécia uma ajuda complementar para dinamizar a sua economia e retomar o crescimento. Mas o primeiro passo seria a troika admitir, embora dolorosamente, que "a austeridade não tem funcionado", diz Stiglitz.

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