segunda-feira, 22 de junho de 2015

EDITORIAL DE "PÚBLICO"


EDITORIAL
Grécia, o terrível jogo da incerteza


DIRECÇÃO EDITORIAL

22/06/2015 - 05:08


Hoje, dia decisivo, joga-se de novo o destino da Grécia e o da Europa. O bom senso vencerá a incerteza?




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Na última página da edição de hoje, na habitual secção Escrito na Pedra, pode ler-se uma frase de Nietzsche que diz o seguinte: “As vítimas do sacrifício e do espírito de sacrifício têm dele uma ideia muito diferente da dos espectadores”. Podia dizer-se “dos credores”, e aqui se incluía, por exemplo, a Grécia dos nossos dias no exemplo do filósofo alemão. Mas também se podiam incluir os inquiridos pelo Barómetro do Observatório da Luta Contra a Pobreza na Cidade de Lisboa, cujos resultados são hoje publicados em livro (págs. 12/13). Porque nem números nem estatísticas reflectem a dimensão dos dramas humanos gerados pela austeridade, apenas os tornam “catalogáveis”. No caso grego, o “catálogo” é conhecido. Excessos do passado desembocaram numa austeridade pesada e dura, que asfixia qualquer possibilidade de recuperação. Entre tiradas morais sobre deveres e cumprimentos e tentativas de amaciamento de verbas e prazos, já tudo se sugeriu para resolver a contento a crise grega. O problema é que, contentando a Grécia, não é fácil contentar os seus credores e vice-versa. Se o Syriza, mal tomou posse, aliviou um pouco o aperto da austeridade sobre as famílias gregas, isso não chega para que o país saia do torpor em que caiu. O cerco dos credores, visto por estes como inevitável (para não dar “maus exemplos”), pode vir a produzir efeitos adversos, virando-se a parte contra o todo. Por isso, nas negociações de hoje, não podendo ceder apenas uma das partes, deveria haver suficiente bom senso para cederem ambas, nas proporções que fossem política e humanamente aceitáveis no seu conjunto. O desfecho do caso grego não tem de ser forçosamente uma tragédia, embora ninguém lhe augure um final plenamente feliz. Mas pode e deve basear-se num compromisso que não ponha em causa o essencial: a coesão europeia e a sobrevivência do euro em todos os países que dele fazem parte. O pior será, para todos, o prolongamento da incerteza.

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