segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Um "cheirinho "de LITERATURA: AQUILINO RIBEIRO


Aquilino Ribeiro… (1885-1963)
São tantos “os monumentos literários” da nossa história das Letras, que se torna difícil escolher um deles, em momento oportuno. Hoje optei por Aquilino Ribeiro (A.R.) pelo que este escritor nos pode dar de riqueza da acentuação, pontuação, uso das linguagens popular, familiar e gírias, nomeadamente.
Ler A.R. é ver o povo nas suas mais genuínas tradições, usos e costumes. Mas também na boa dis posição que lhe vai começando a faltar, nos dias de hoje!
O escritor Fernando Namora referia-se a A.R. como “aquele jovem que trouxera a província para a cidade”. A verdade é que A.R. soube, como poucos, levar por caminhos difíceis a valorização da nossa literatura, em todos os planos. A sua criação literária, expressa em romances como: “O Malhadinhas”, “Terras do Demo”, “Andam faunos pelos bosques”, “A casa grande de Romarigâes ”, “Quando os lobos uivam”, etc., dão-nos um panorama de genuíno amor pelas nossas terras e pelas características ímpares do povo oriundo da alta montanha, que, apesar de toda a modernidade, é o que ainda somos.
Aquilino lê-se, às gargalhadas, o que é salutar! Da obra”Terras do demo”, retirei um pequeno extracto, na página 123 de uma edição de 1973, do Círculo de leitores:”Quinze dias esteve com os pés para a cova; fez-se branco como a cal, depois verde, tornou a pintar de vermelho…a beber umas colherzinhas de leite, mas resulho nem à fina força lhe passava nos gorgomilos…ora chorão, ora raivoso… (…). E, na página199, a respeito de heranças, do morto ainda com os ossos quentes, “…ainda o corpo não fora removido para o celário e já os herdeiros… faziam uma matinçada de cães famintos…”Padre Vieira, no século XVII, num dos seus sermões, trata este tema das heranças e dos desentendimentos dos herdeiros, de um modo mais moralista sem deixar de ser irónico.
O que mais impressiona quem lê A.R. é o seu amor contagiante pala Natureza, em todos os seus extremos, cuja beleza ressalta das palavras do escritor, no sangue vivo da raça portuguesa.
Homem instintivo, nascido e criado na região de Sernancelhe, louvou de um modo, por vezes pagão, a beleza e naturalidade do mundo serrano. Partilhou, com Teixeira de Pascoaes e António Patrício as doutrinas da Saudade, proclamadas na revista “SEARA NOVA”, ele que, por força das divergências políticas com o regime salazarista, várias vezes esteve preso e várias vezes, também, fugiu da cadeia, fazendo ao regime aquilo que ele considerava “o manguito político”.Observador atento da realidade social, pôs sempre em contraste a conduta da gente simples, por vezes ingénua, com a dos trampolineiros da hipocrisia e da mentira do subir na vida, a qualquer custo.
Em “O Romance da Raposa”, perfeito e acabado exemplo do que acabo de afirmar, A.R. compraz-se em demonstrar, por meio das ladinices da “rapozeta”, como procedem na vida todos aqueles que, por meio de truques, procuram e conseguem! suplantar os sérios e honestos, com as suas falinhas mansas. Este romance é, todo ele, uma metáfora da vida!
No romance “A Grande Casa de Romarigães”, riquíssimo em textos de verdadeira prosa poética na descrição de paisagens naturais, repare-se como A.R. começa a descrever o nascimento da floresta:”O vento, que é um pincha-no-crivo devasso e curioso, penetrou na camarata, bufou, deu um safanão… (…) Também ali perto, por uma tarde fosca de Outono, chegou um gaio, voejando de chaparro em chaparro, a grasnar mal-humorado…trazia no bico uma bolota. Dispunha-se a comer a merenda bem amargada, quando deu com os olhos no mariola do vizinho com quem bulhara na Primavera por causa da gaia, hoje sua mulher.”
Puras mimésis, animismo de uma Natureza que enche a alma, onde transparece a mesma técnica de Torga no amor por tudo quanto mexe, no bosque.
Nas obras “Mónica” e o “ Arcanjo Negro”-que estiveram proibidas até 1947- Aquilino envereda por uma crítica velada ao regime salazarista, através de Metáforas como “más estrelas” ,”negrume” e onde até mesmo o verbo “envelhecer” remete para o negrume que era, já no seu tempo ,o regime de Salazar. Nestas obras nota-se um certo pessimismo histórico, como se não houvesse nada que levasse um intelectual a ter esperanças de mudança. Infelizmente, só em 1974 se deu a ansiada reviravolta…
Para terminar esta simples abordagem da estética aquiliniana, gostaria de dizer que, em qualquer época da vida literária portuguesa, os escritores e outros intelectuais estiveram em consonância com as realidades do país; no entanto, nunca “há bela sem senão”…

2 comentários:

  1. LISA,

    Este post é um cheirinho de Literatura? Entendo que é mais um Perfume de Aula...

    Lembras-me com saudade, Professoras que tive: - Zaluar Nunes, Maria do Céu Saraiva Jorge, Carmén Nunes !(...) seria injusto não lembrar o Dr. Pestana, que nos impunha decorar textos, até em latim!

    Para saberes que também gosto de Aquilino, mando-te um link de um post, que compilei para o homenagear conforme pude:

    http://munhodoalfobre.blogspot.com/2010/10/aquilino-ribeiro-revolucionario-e.html

    Tenho a noção de que nestas colunas de comentários, os links, não ficam automáticos ao clicar, mas é uma pista.

    Sabias que o pacífico Aquilino, pertenceu à Carbonária e foi bombista? Ideais!...

    Acreditas que Salazar simpatizava com o escritor, e «pedia» à Censura para não o perseguir... porque, tínhamos pouca gente de valor na Literatura? Demagogias!?

    É evidente que me baseio em fontes!... Ser, ou não ser... lá teremos que dizer: eis a questão!

    Por ora... termino, com votos de uma boa noite, com um
    Bjo.

    César

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  2. César: obrigada por teres perdido o teu tempo de descanso a ler...
    Sabia ,sim, que se "suspeita" de que Aquilino pertenceu `"Carbonária"...Do muito que leio sobre estes autores de que falo, tiro conhecimentos e ilacções, que não possoo focar ,nestes artigos e que não podia contar aos alunos!Suspeita-se de que ele tenha estado coinvolto na morte do rei...por isso fugiu para PARIS, etc...
    Já tive a oportunidade de ver no teu blog, pois quando vi que gostavas de Literatura, fui até ao fim...Confesso-o!
    BEIjo
    LISA

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