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São tantos “os monumentos literários” da nossa história das Letras, que se torna difícil escolher um deles, em momento oportuno. Hoje optei por Aquilino Ribeiro (A.R.) pelo que este escritor nos pode dar de riqueza da acentuação, pontuação, uso das linguagens popular, familiar e gírias, nomeadamente.
Ler A.R. é ver o povo nas suas mais genuínas tradições, usos e costumes. Mas também na boa dis posição que lhe vai começando a faltar, nos dias de hoje!
O escritor Fernando Namora referia-se a A.R. como “aquele jovem que trouxera a província para a cidade”. A verdade é que A.R. soube, como poucos, levar por caminhos difíceis a valorização da nossa literatura, em todos os planos. A sua criação literária, expressa em romances como: “O Malhadinhas”, “Terras do Demo”, “Andam faunos pelos bosques”, “A casa grande de Romarigâes ”, “Quando os lobos uivam”, etc., dão-nos um panorama de genuíno amor pelas nossas terras e pelas características ímpares do povo oriundo da alta montanha, que, apesar de toda a modernidade, é o que ainda somos.
Aquilino lê-se, às gargalhadas, o que é salutar! Da obra”Terras do demo”, retirei um pequeno extracto, na página 123 de uma edição de 1973, do Círculo de leitores:”Quinze dias esteve com os pés para a cova; fez-se branco como a cal, depois verde, tornou a pintar de vermelho…a beber umas colherzinhas de leite, mas resulho nem à fina força lhe passava nos gorgomilos…ora chorão, ora raivoso… (…). E, na página199, a respeito de heranças, do morto ainda com os ossos quentes, “…ainda o corpo não fora removido para o celário e já os herdeiros… faziam uma matinçada de cães famintos…”Padre Vieira, no século XVII, num dos seus sermões, trata este tema das heranças e dos desentendimentos dos herdeiros, de um modo mais moralista sem deixar de ser irónico.
O que mais impressiona quem lê A.R. é o seu amor contagiante pala Natureza, em todos os seus extremos, cuja beleza ressalta das palavras do escritor, no sangue vivo da raça portuguesa.
Homem instintivo, nascido e criado na região de Sernancelhe, louvou de um modo, por vezes pagão, a beleza e naturalidade do mundo serrano. Partilhou, com Teixeira de Pascoaes e António Patrício as doutrinas da Saudade, proclamadas na revista “SEARA NOVA”, ele que, por força das divergências políticas com o regime salazarista, várias vezes esteve preso e várias vezes, também, fugiu da cadeia, fazendo ao regime aquilo que ele considerava “o manguito político”.Observador atento da realidade social, pôs sempre em contraste a conduta da gente simples, por vezes ingénua, com a dos trampolineiros da hipocrisia e da mentira do subir na vida, a qualquer custo.
Em “O Romance da Raposa”, perfeito e acabado exemplo do que acabo de afirmar, A.R. compraz-se em demonstrar, por meio das ladinices da “rapozeta”, como procedem na vida todos aqueles que, por meio de truques, procuram e conseguem! suplantar os sérios e honestos, com as suas falinhas mansas. Este romance é, todo ele, uma metáfora da vida!
No romance “A Grande Casa de Romarigães”, riquíssimo em textos de verdadeira prosa poética na descrição de paisagens naturais, repare-se como A.R. começa a descrever o nascimento da floresta:”O vento, que é um pincha-no-crivo devasso e curioso, penetrou na camarata, bufou, deu um safanão… (…) Também ali perto, por uma tarde fosca de Outono, chegou um gaio, voejando de chaparro em chaparro, a grasnar mal-humorado…trazia no bico uma bolota. Dispunha-se a comer a merenda bem amargada, quando deu com os olhos no mariola do vizinho com quem bulhara na Primavera por causa da gaia, hoje sua mulher.”
Puras mimésis, animismo de uma Natureza que enche a alma, onde transparece a mesma técnica de Torga no amor por tudo quanto mexe, no bosque.
Nas obras “Mónica” e o “ Arcanjo Negro”-que estiveram proibidas até 1947- Aquilino envereda por uma crítica velada ao regime salazarista, através de Metáforas como “más estrelas” ,”negrume” e onde até mesmo o verbo “envelhecer” remete para o negrume que era, já no seu tempo ,o regime de Salazar. Nestas obras nota-se um certo pessimismo histórico, como se não houvesse nada que levasse um intelectual a ter esperanças de mudança. Infelizmente, só em 1974 se deu a ansiada reviravolta…
Para terminar esta simples abordagem da estética aquiliniana, gostaria de dizer que, em qualquer época da vida literária portuguesa, os escritores e outros intelectuais estiveram em consonância com as realidades do país; no entanto, nunca “há bela sem senão...!
LÁ VOU EU TER QUE COMPRAR UMA OBRA DO AQUILINO, TALVEZ GOSTE, TALVEZ SEJA UM CONTASENSSO AO SARAMAGO.
ResponderEliminarBOA SEMANA.
Nunca li, Maria, o Aquino, no entanto fiquei curioso. Beijos
ResponderEliminarMinha querida
ResponderEliminarHoje passando apenas para deixar um carinho...um beijinho e agradecer as tuas palavras.
Eu estou melhor e espero que tu também, estava com saudades.
Rosa
AQUILINO RIBEIRO: "A Primavera, tantas vezes rebelde ao calendário, rejuvenesce tudo menos o homem. As leis da cicilidade física assim o mandam. Para o ano, por esta altura, voltarão as aves a cantar. Que chova, que faça um sol radioso, com o mundo vegetal pletórico de seiva, ou mais aganado, à triste planta humana é que nada a afasta da sua carreira para a morte. Será ela a obra prima da Criação ou a pior de todas?"
ResponderEliminarBeijinho.
MANUEL MARQUES: qualquer obra de AQUILINO è um manancial de citações...
ResponderEliminarOBRIGADA
BEIJO
Mª ELISA
Minha querida amiga: um beijo também para ti!
ResponderEliminarObrigada por teres vindo dar-me a boa notícia de que estás bem....também tinha e tenho saudades tuas!
Temos que nos encontrar ,um dia, "alma gémea!"
Os meus exames afastaram o medo...estou bem, por conseguinte! Graças a DEUS!
BEIJINHO, ROSA
Mª ELISA
CAMPISTA SELVAGEM E ANTÓ NIO RODRIGUES:Leiam AQUILINO, que é um tratado de boa escrita portuguesa, em todos os termos: Pontuação, regras de diálogo, vocabulário,Tudo...
ResponderEliminarBEIJINHO
Mª ELISA
Maria Elisa, minha amiga, há tantas coisas lindas para se conhecer na literatura, pois LITERATURA é VIDA e você enche de VIDA este teu espaço e partilha com todos nós.
ResponderEliminarGrande abraço e que tudo te estaja BEM
Em boa hora aportei aqui, Maria! Mais uma lição admirável de uma apaixonada pela literatura portuguesa! Obrigado!
ResponderEliminarBeijinho
Obrigada pela partilha. Um excelente 2011.
ResponderEliminarbeijinhos
Minha Querida
ResponderEliminarTenho a obra toda de Aquilino Ribeiro adquirida tb no Ciclo de leitores e...aos poucos fui lendo-a e apaixonando-me por este vulto da nossa Literatura
que nos prende lentamente mas, definitivamente.
"A Grande Casa de Romarigães" é a sua obra que mais gostei.É uma autêntica pintura sobre a paisagem e não só. Os olhos acompanham o que ele descreve.
Linda postagem, a tua!
Beijo
Graça
Querida Gracinha: obrigada pelas tuas palavras!
ResponderEliminarGostei muito De "A GRANDE CASA DE ROMARIGÃES!".
MAS ADOREI TAMBÉM "O ROMANCE DA RAPOSA>" e "O MALHADINHAS" pois tive que os aprofundar quando tinha que os dar, nos 11s anos de escolaridade.A LINGUAGEM POPULAR, a PONTUAÇÃO, A "PINTURA" das situações, são de uma riqueza impar na LITERATURA PORTUGUESA!
BEIJINHOS
Mª ELISA
JOAQUIM DO CARMO: ainda bem que gostaste...Tenho tantos projectos destes na cabeça...que não sei por onde começar...Olha , vou escrevendo...
ResponderEliminarEstás no FACEBOOK?
APARECE!
BEIJINHO
Mª ELISA
MINHA QUERIDA MALU: AINDA BEM QUE GOSTAS...ESFORÇO-ME POR VOS AGRADAR...
ResponderEliminarBEIJINHOS ,AMIGA!
Mª ELISA
partilha de silêncios: obrigada pelas tuas palavras amigas...
ResponderEliminarBEIJO
Mª ELISA
Desculpa por invadir o teu espaço, mas houve qualquer coisa que me fez parar e espreitar.
ResponderEliminarNão me enganei, é um blog de muita qualidade.
Gostei muito do último post. Envergonhadamente confesso que, de Aquilino, conheço apenas O Malhadinhas. Mas quem é que não conhece O Malhadinhas???
Sendo eu uma leitora compulsiva, menos se perdoa esta minha ignorância... Preciso remediar esta lacuna rapidamente.
Não quero perder-te de vista, pelo que vou fazer-me tua seguidora. Se quiseres fazer o mesmo dar-me-ás muito prazer.
Resto de boa tarde e bom fim de semana. Beijinhos
Mariazita: é um prazer a tua mensagem! vou seguir-te, também!
ResponderEliminarBEIJINHOS
Mª ELISA