segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

REFLEXÕES: PELA NOITE DENTRO…


Lareira acesa…Meia noite, quase…
Num recanto de beleza ímpar, frente ao fogo que me aquece, na intimidade do meu pijamazinho verde-escuro, desdobro-me em meditações à medida da necessidade expressa das Emoções. Sinto o calor das achas acesas e vejo, em cada chama fulgurante, um momento de tensão.
Oiço, na TSF, a música suave do “OCEANO PACÍFICO”…
Não é música clássica…é música que alegra a noite!
Ali, do outro lado da sala, estão SCHUBERT, BACH, DEBUSSY, MOZART…Sabem que conto com eles, no momento aprazado…
Assim, só…vêm-me à cabeça, por força dos comandos naturais da Emoção, pensamentos que trato por “tu”, nos momentos de solidão. São reflexões…são dramas do meu interior postos a nu, problemas íntimos para os quais conto com a “solene” companhia do meu gatão, o meu “PISCO”, um dos ditos animais sem inteligência, que, confortavelmente espraiado pela carpete, vai dormitando, quentinho também, em cima dos meus pés, que lhe dão a certeza da minha presença mística.Lembra-me o” reverendo BONIFÁCIO” do clã MAIA, da obra”OS MAIAS”, de EÇA DE QUEIRÓS…
Pego nele, de quando em vez, afago-lhe o pelo grosso, ele sente-se regalado e regala-me a vista e o coração…Por momentos, esqueço a terrível solidão…Mas depois, parto para a aventura do meu passeio interior dissertando sobre os momentos menos alegres, ao sabor do silêncio da noite na minha casa, que transpira as minhas inquietações.
Amo, apesar de tudo, estes momentos de solidão, que a música da noite me proporciona ao sabor das ondas da rádio…
Apaguei o PC, desliguei a NET onde pululam tantas outras almas sós, que se acalmam, tão pobremente, com uns ursitos e uns beijitos que lhes vão mandando os seres virtuais, em que acreditam…
Estava a ler C.DRUMOND DE ANDRADE… (…) “A FEDERICO GARCIA LORCA”-“sobre teu corpo, que há dez anos/se vem transfundindo em cravos/ de rubra cor espanhola/ aqui estou para depositar/vergonhas e lágrimas. / (…)”
Mas acabei com esta tarefa! Decididamente, quero que o mundo, para o qual irradio, “sinta” a dor de pensar, a tristeza do passar despercebida, a infinitude/finitude do PASSADO que é, hoje, PRESENTE!
Na “SIC Notícias”, está o jornalista/apresentador de serviço, a dar as mesmas monótonas notícias das últimas 24 horas…SOLIDÃO!
Não posso desabafar com ninguém esta dor de ouvir, a todas as horas, o mesmo cenário de desilusão perante a crise, perante uma sociedade onde os valores da formação do homem estão completamente invertidos, a mesma bacoca e ofensiva convicção de Sócrates de que “está tudo a correr bem”, o número de falências e os desempregados a aumentarem, o triste caso BPN, os dinheiros do suor dos portugueses, velhos e desamparados, de que a “trupe “ precisa para se salvar, ao sabor de uma justiça flutuante, que se move para um lado e outro, sem poisar onde deve….
Cá dentro do meu “muro”, é a tristeza da noite só, que fala…São os anos que passaram no contexto da vida natural, daquela que fez com que eu Existisse para ALÉM de mim, que me fazem sofrer nesta melancolia de abandono. Sensação hostil e massacrante…
Longe, nas cavernas de um qualquer IRAQUE, IRÃO, AFEGANISTÃO, uma qualquer mulher dá à luz no meio da maior solidão, do maior terror, sem poder gritar….sem assistência médica…lavando o pequeno ser com as lágrimas do desespero, fugindo da malvadez animal que a pode ferir…HOMEM-ANIMAL-TERROR!
E as crianças e mulheres do DARFUR, violadas como gado, tal como no massacrado HAITI…
De que me posso queixar EU, afinal? se posso ser livre de rir ou chorar ,em frente da minha cómoda lareira??????
SOLIDÃO...É NÃO VER A VERDADEIRA SOLIDÃO!
E tornam-se negras na alma as nuvens da auto-comiseração…
Reagir é preciso! O mundo morto precisa de almas vivas…e sou capaz de viver para além destes muros de separação…O resto não importa, quando se sabe do viver triste de quem se sente só, como eu, à lareira…
A solidão pode ser estar num bosque desarborizado…não ver o mar a “barulhar”…pode ser uma criança de mão estendida, a pedir… pode ser, ter que rir no circo da vida… ouvir uma voz funda que não fala, mas vai subindo de uma distância infinita, do coração para os olhos com o poder de abafar as melodias dos tenores, dos violinos, de orquestras inteiras, a encherem uma casa…
Chove copiosamente. Duro Inverno da Terra e do sentimento…Continuo à lareira…E penso: não sei quando deixei de ser criança, mas, de certeza, foi aí que começou esta dor que não finda, que faz eco cá dentro, como o que a chuva e o vento fazem lá fora…Já lá vai tanto tempo…
Vou parar de escrever SONHOS, pois a ESPERANÇA é uma coisa terrível que nos mantém a viver noutro lugar…um lugar que não existe…ESPERANÇA…PARADOXO DE DESESPERO?
Sinto uns braços à minha volta…É a VIDA, colada à minha pele com toda a paixão! Quero e devo corresponder-lhe, com responsabilidade e amor! Impõe-mo, a minha DIGNIDADE!
A música que tenho estado a ouvir e que me inspirou, caiu-me em cima como uma rede…
Ocorre-me este pensamento de UNGARETTI:”Amo as minhas horas de alucinação…e também as de vadiagem, de imaginário perseguido no ÊXODO, para uma terra prometida…”
E sinto sono…Vou dormir e esquecer que podemos ser sós , estar sós, acordar sós…


Maria ELISA-10/ jan/011

12 comentários:

  1. As palavras estão aqui envoltas em labaredas interiores dessa lareira e dessa música do João Porto ou dos clássicos com quem apraza o encontro; há um silêncio que não é exactamente solidão, embora o seja fisicamente. O gato bem ilustrado na foto preciosa não acalma essa revolta que é uma espécie de irritação sua permanente por não poder acudir aos males do mundo, já que nao olha apenas para o outro, olha também para o lado. E olhando para o lado acha-se quase desmerecedora da felicidade.

    Mas a responsabilidade da felicidade jaz, não apenas em conseguirmos o cordão humano e universal de Paz e harmonia que todos anelamos, (e eu sei do que falo, paladino intrépido do abraço universdal como se fossemos todos um só) mas também no comprometimento connosco próprios!

    Que pode fazer um beija flor num incêndio? Numa bonita fábula, todos ajudavam a apagar o fogo, com baldes, mangueiras, e perguntaram ao beja flor porque ia ele ao lago pegar numa gota de água e transportà-la até ao fogo! Obviamente nao ia apagá-lo ou sequer minimizá-lo. Era até ridículo! E o beija-flor respondeu: "estou apenas a fazer a minha parte"...

    A sua parte, Marilisa, está feita por natureza no que concerne aos males gerais do mundo como os que voca aqui e tanto enuncia noutros lados: os males gerais do mundo, a injustiça humana, as guerras, as violações elementares dos direitos da Pessoa, enfim, todo um conjunto digno de seres não humanos provavelmente menos inteligentes que o seu Pisco que diz nao ter inteligência; mas sem baixar os braços ou mostrarmos indignaçao, devemos desidealizar o mundo e as pessoas sob pena de nao fruirmos, nós mesmos, a felicidade, nos momentos em que nos for oferecida, como quem sorri impotente para um comboio que perdeu!

    Gostei das imagens que transporta pela expressão sentida das palavras, a lareira, o desligar do pc, os beijos e ursinhos recebidos pela net, embora isso seja apenas outra forma que as pessoas têm de partilhar, nao necessariamente de nao existir. E, sim, deve existir uma diferença ebntre sonho como quimera e esperança qe pressupõe que algo pode efectivamente mudar, mesmo que ranjemos os dentes de raiva pelas injustiças intra e fora muros (politica nacional e internacional) mas de que nada vale gastar energias que podem ser canalizadas de forma mais saudaveis, sem invalidar, como ha pouco disse, a justa indignaçao e mudamça na medida das nossas possibilidades (acções da sociedade civil, o voto e pouco mais)... Também há um mundo à nossa volta a requerer uma mão amiga, um abraço estendido, um sorriso solto, mesmo para e com pessoas que nao conhecemos. É destes passos curtos mas amigos que se faz caminho mais alargado e, quem sabe, se contagia toda uma cadeia que em tempos diferentes brotará flores mais belas.

    NUnca é quem colhe a flor o mesmo que a semeia...

    Um grande beijinho, com a amizade ainda que virtual e cheia de flores e ursinhos :)...

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  2. Que texto maravilhoso.
    Li e reli. Parei para ouvir a música mas deixei-me seguir na corrente do silêncio.

    Pouco me importa se os beijos são virtuais. Amo-os e sinto-os lamberem-me a pele que cerca as minhas emoções.

    Penso nos outros e sinto suas dores. Colo-me aos
    sonhos e regresso ao calor que me afaga os pensamentos.

    A fogueira da vida é tanta coisa que amamos sem querer e deixando-nos correr como um rio que desce em quedas rápidas e correntes apertadas.

    A todos estes pensamentos chamamos esperança e caminhamos seguindo-a e partilhando-a com amor.

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  3. Caminhos sempre os mesmos
    Diferenças são só as auroras
    Só as torturas apenas
    Os gritos e mais nada.

    Beijos!

    Tácito

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  4. Nunca chegamos ao fundo da nossa solidão ...

    Beijo.

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  5. Meu amigo Tácito:porquê sempre os mesmos caminhos?Porquê torturas e gritos?
    Eu gostava tanto de desatar a cantar...
    BEIJOS!
    MARIA ELISA

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  6. LUÍS COELHO: obrigada por estas palavras de esperança...Há dias de uma monotonia profunda...apetece chorar...e saem textos de uma grande melancolia onde nem o PISCO pode ajudar ,apesar de tudo...
    Beijinhos ,amigo.

    Mª ELISA

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  7. ...son
    nido
    de si
    y para tu
    alma
    aquí...


    SALUDOS MARIA , con afecto :


    j.r.s.

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  8. MEU querido DANIEL Cândido: já te falei deste teu lindo comentário na página do FACEBOOK.
    VOLto para te dizer que a minha referência aos ursinhos e florinhas não quis ser pejorativa! Eu própria os recebo de ti, principalmente...
    è (ou foi...) para reforçar a ideia de solidão das gentes...
    Peço-te PERDÃO, humildemente, se te feri, parecendo ingrata...Não era essa a intençºão!
    BEIJOS, amigo querido e sempre a meu lado!
    Mª ELISA

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  9. Paulo FRANCISCO: obrigada por estares aí...
    BEIJINHOS
    Mª ELISA

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  10. MANUEL MARQUES: penso que chegar ao fundo da solidão seja morrer...Não! Isso não!ninguém merece esse tão alto sacrifício...è melhor rir e esquecer...
    BEIJINHO
    Mª ELISA

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  11. JOSé RAMON: mi afeto para ti tambien...
    Besitos
    Mª ELISA

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