
NOTA LITERÁRIA
A lírica trovadoresca
Foi na região Galaico- Portuguesa que se assistiu, entre os séculos XII e XIV, ao despontar de um maravilhoso movimento poético que se denominou como POESIA TROVADORESCA, porque cultivada por TROVADORES.
Ora, como se sabe, o homem sentiu, desde sempre, a necessidade de manifestar os seus sentimentos e emoções, através de uma linguagem especial, organizada com ritmo, de modo a poder ser cantada.
A POESIA TROVADORESCA, como manifestação dos mais variados sentimentos e vivências, é constituída por centenas e centenas de POEMAS aos quais foi dado o nome genérico de “CANTIGAS” : CANTIGAS DE AMIGO, CANTIGAS DE AMOR e CANTIGAS DE ESCÁRNIO E MALDIZER, precisamente porque se transmitiam através do canto.
É fácil de imaginar que o povo, naqueles tempos, era todo analfabeto e foi pelo canto que, de geração em geração, elas foram passando de boca em boca, cantadas nas romarias, nos arraiais, nas festas, nos trabalhos caseiros e não só.
Na Idade Média, toda a vida das populações se fazia em função do castelo do senhor feudal e da igreja. A nobreza, por sua vez, de formação guerreira, procurava defender, com as armas, as suas terras e o Poder; o clero mantinha uma certa ordem estabelecida e procurava difundir os valores religiosos e as normas de conduta social. Era o Povo, a terceira classe social, quem cultivava as terras, engrossava os exércitos do senhor e fazia tudo quanto fosse trabalho manual. Mas era dominante na vida medieval a componente religiosa. Podemos e devemos dizer que a sociedade da Idade Média era regida pela ideia teocêntrica de que DEUS era o centro de todas as coisas e de que a vida, na terra, nada mais era senão um difícil e penoso caminho para chegar ao ALÉM. DAÍ, se repararmos, a enorme quantidade de igrejas, mosteiros, catedrais, conventos…em honra do divino. A arte das construções era como que um meio e um modo de purificação do homem, relacionado com a religião. É claro que era também um modo de o clero e a nobreza dominarem o povo ,que era obrigado a prestar vassalagem, de um modo ou outro, aos senhores da sociedade…Isso permitiu, de certo modo, uma espécie de estabilidade ao território europeu.
Floresceu o comércio, as normas de cavalaria, defendia-se o nome da mulher, deram-se as Cruzadas e espalharam-se culturas entre os reinos. Destacava-se a Região da PROVENÇA e o território GALAICO-PORTUGUÊS.
Ao que se sabe, quase todas as literaturas se iniciam por obras em verso. A nossa região não foi excepção. São escassas as informações sobre os dados biográficos dos autores da primeira grande forma lírica europeia: precisamente as CANTIGAS TROVADORESCAS! O gosto de fazer poesia alastrou, um pouco por toda a parte, até porque, naturalmente, as pessoas tinham que se divertir nas feiras, festas e arraiais. São muitos os trovadores directamente ligados à corte portuguesa, sobretudo no tempo dos reis D.Afonso III e D.Dinis, ele próprio um trovador.
A característica fundamental das nossas CANTIGAS DE AMIGO é o PARALELISMO, que as tornou especialmente estudadas, desde sempre, pelos mais ilustres historiadores da LÍNGUA.
As cantigas trovadorescas foram, com o tempo, sendo recolhidas por especialistas, em quatro grandes CANCIONEIROS: CANCIONEIRO DA AJUDA, CANCIONEIRO DA VATICANA, CANCIONEIRO DA BIBLIOTECA NACIONAL e CANCIONEIRO DAS CANTIGAS DE SANTA MARIA, este da autoria de AFONSO X, avô de D.DINIS, dedicado, principalmente, a NOSSA SENHORA.
Fico-me, hoje, por aqui. Em próximas oportunidades, referir-me-ei a cada tipo de CANTIGA.
MARIA ELISA