sábado, 13 de fevereiro de 2016


Como a emigração está a tramar o PIB


(Nicolau Santos, in Expresso Diário, 10/02/2016)






Em 2011 saíram de Portugal 100.978 pessoas. Em 2012 saíram 121.418. em 2013 foram 128.108. E em 2014 mais 134.624. de 2015 ainda não há dados finais mas tudo indica que aquele valor não se alterou significativamente. Ou seja, como resultado do processo de ajustamento, Portugal terá perdido mais de meio milhão de pessoas em idade ativa entre 2011 e 2015. E isso é um enorme problema para o futuro da economia portuguesa e para o país.

Aqueles que tiveram a ousadia de sugerir, durante a crise, a emigração como uma porta de saída para quem não conseguia emprego em Portugal ou ficava desempregado, não perceberam, de todo, o mal que estavam a fazer ao país. A emigração resolve, para muitas pessoas, as suas vidas. Mas trama definitivamente o país.

E trama porque as pessoas que saíram estavam em idade ativa, no auge das suas potencialidades. Grande parte deles teria estudos universitários ou mesmo uma formação acima dessa, com MBA e doutoramentos. Vários seriam investigadores e técnicos altamente qualificados e com um grande grau de especialização. Estavam a constituir famílias. Iriam ter filhos. Os seus padrões de consumo iriam dar oportunidade ao nascimento de novas empresas. Alguns deles, seguramente, criariam as suas próprias empresas e novos postos de trabalho para pessoas tão qualificadas como eles. Contribuiriam para mais investimento, mais consumo, mais exportações, melhor ensino, mais cultura, mais arte. Seriam parte integrante do eco-sistema que serviria para atrair pessoas talentosas das suas redes de relações, que gostariam de conhecer Portugal – e que talvez decidissem fixar-se, viver e trabalhar por aqui.

Portugal necessita do regresso de muitos dos seus emigrantes, dos melhores e mais capazes. Sem isso, será muito mais lento e difícil sair do penoso trilho em que nos encontramos

Com mais de cinco milhões de pessoas de origem portuguesa espalhadas pelo mundo, Portugal apresenta atualmente a taxa de população emigrada mais elevada da União Europeia (UE28) e é o sexto país em número de emigrantes. Ou seja, metade da população portuguesa vive no estrangeiro. E 10% desses cinco milhões deixaram o país nos últimos cinco anos. É uma devastação quase equiparável à que é causada por uma guerra. No contexto do programa de assistência financeira, Portugal foi o nono Estado-membro na UE28 que mais perdeu população (-1%), atrás da Grécia e da maioria dos países do alargamento que encolhem há mais de duas décadas, como Hungria, Bulgária, Roménia, Letónia, Lituânia ou Estónia.

E se pensam que a hemorragia acabou, desenganem-se. A população ativa está a cair pelo 15º mês consecutivo. E todas estas pessoas que saem deixam de contribuir para o PIB potencial do país. e isso é uma enorme barreira para inverter a atual situação económica.

É por isso que é preciso aliciar muitas destas pessoas para voltar para Portugal. Como? Através de uma política de ciência e investigação que atraia os melhores – e que o atual ministro da Ciência, Manuel Heitor, está a colocar em prática. E aumentando os rendimentos das pessoas, por duas vias: reduzindo a carga fiscal que sobre eles incide (e o OE 2016 faz isso, pois há uma redução de 0,61% de redução do peso dos impostos diretos) e estimulando um eco-sistema que atraia os mais capazes, aqueles que estão na onda da frente de todas as mudanças, os talentos que marcam tudo aquilo que anuncia o futuro. A realização da Web Summit em Portugal durante três anos, o mais importante certame de empresas tecnológicas e investidores internacionais, é uma oportunidade que não podemos desperdiçar.

Portugal necessita do regresso de muitos dos seus emigrantes, dos melhores e mais capazes. Sem isso, será muito mais lento e difícil sair do penoso trilho em que nos encontramos.

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