sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

O Pensamento de Darwin ,in labs.icb.ufmg.br








A ORIGEM DAS IDÉIAS DE DARWIN






O que nos chama a atenção, quando observamos o mundo vivo em nossa volta, é a grande diversidade dos seres vivos. Os animais e vegetais que nos cercam são, inicialmente, muito pouco parecidos entre si. Essas diferenças podem nos fazer supor que não existam relações de parentesco entre eles e que tais seres vivos tenham se originado de forma inteiramente independente.
De certa maneira, essa concepção da criação dos seres vivos prevaleceu durante muitos séculos entre os homens. Admitia-se a versão bíblica sobre a criação do universo, dos seres vivos e do homem.
Com a descoberta de novos continentes, e à medida que estes continentes começaram a ser explorados, a hipótese da diversidade dos seres vivos cedeu lugar a um crescente reconhecimento das semelhanças entre espécies diferentes. Passava a ser cada vez mais difícil conceber que tantos seres vivos, muito parecidos entre si, pudessem ter se originado de maneira independente. Começava a brotar a idéia de uma origem em comum para esses seres vivos.

O cientista francês Jean-Baptiste Lamarck foi um dos primeiros que procurou explicar a diversidade animal através da ação prolongada de um mecanismo evolutivo.

Lamarck baseava-se em duas leis básicas. A primeira, ainda válida, dizia que o uso contínuo de um órgão o desenvolve, enquanto um órgão que não seja solicitado tende a regredir ou desaparecer. A segunda lei postulava que essas alterações orgânicas são transmitidas aos descendentes. (Cf. LAMARCK, J.-B. 1971, p. 202-207). Aqui reside a fragilidade do pensamento de Lamarck.

Desprezando grande quantidade de evidências já reunidas na época da publicação de seu trabalho, Lamarck admitia a “herança dos caracteres adquiridos”. Deste a Antigüidade já se sabia que as amputações e ferimentos dos soldados, por exemplo, não eram transmitidos à seus descendentes.

No ano em que Lamarck publicava sua obra clássica Philosophie Zoologique, nascia na Inglaterra Charles R. Darwin. Era o ano de 1809.

Em 1831, o jovem naturalista Charles Darwin partia à bordo do H. M. S. Beagle, com a finalidade de fazer uma série de levantamentos cartográficos.

Além das observações cartográficas, da flora e da fauna, Darwin coletou muitos fósseis, sobretudo na América do Sul. Isto o colocou em contato com duas dimensões da diversidade dos seres vivos. A primeira, chamada diversidade horizontal, observada nas variações de animais e plantas à medida que nos deslocamos no espaço; a segunda, dimensão vertical, são as variações no tempo, que estão documentadas nos fósseis. Darwin impressionou-se particularmente com os fósseis de gliptodontes que encontrou na Argentina, muito parecidos com os tatus, mas já extintos. Na Introdução do Origem podemos ler:

“Quando a bordo do H. M. S. Beagle, no qual servi como naturalista, fiquei muito impressionado com certos fatos referentes à distribuição dos seres vivos existentes na América do Sul e às relações geológicas entre a fauna e flora atual e extinta daquele continente. Esses fatos a mim me pareceram lançar alguma luz sobre a origem das espécies __ ‘mistério dos mistérios’, conforme a definição de um dos nossos maiores filósofos. Logo após meu regresso ao lar, em 1837, ocorreu-me que talvez pudesse ajudar a esclarecer essa questão, através da paciente acumulação e do estudo de toda sorte de fatos porventura ligados ao tema”.(DARWIN, C., 1985, p. 43).

De regresso à Inglaterra, Darwin dedicaria muitos anos analisando o vasto material coletado. Dessa análise saltava-lhe aos olhos a imensa diversidade de formas. As variações encontradas eram graduais. Os fósseis se modificavam ao longo das camadas: quanto mais recentes, mais parecidos com as formas atuais. Os pássaros de uma ilha que se alimentavam de grãos possuíam o bico curto e forte. Numa ilha próxima, pássaros muito parecidos que se alimentavam de vermes escondidos em túneis nos troncos das árvores possuíam bicos longos, perfeitamente adaptados para capturar o alimento. Era cada vez mais evidente a idéia de que os seres vivos modificavam-se com o tempo, diversificavam-se __ em outros termos, evoluíam[1].

Entretanto, todas essas observações não eram suficientes para comprovar a ocorrência da evolução. Era necessário encontrar um mecanismo que explicasse como essas modificações ocorrem. Podemos ler no texto de Darwin

“Analisando-se o problema da origem das espécies, é perfeitamente concebível que o naturalista, refletindo sobre as afinidades mútuas dos seres vivos, suas relações embriológicas, sua distribuição geográfica, a sucessão geológica e outros fatos que tais, chegue à conclusão de que as espécies não devam ter sido criadas independentemente, mas que, assim como as variedades, descendem de outras espécies. Não obstante, tal conclusão, mesmo que bem fundamentada, seria insatisfatória, a não ser que se pudesse mostrar como teriam sido modificadas as incontáveis espécies existentes neste mundo, até chegarem a alcançar a perfeição estrutural e de co-adaptação que tão efetivamente excita a nossa admiração”. (DARWIN, C., 1985, p. 44).

Foi em outubro de 1838 que Darwin encontrou a chave do obscuro problema, lendo o livro de Thomas Malthus sobre populações (cf. DARWIN, C., 1995, p. 40). Segundo o tratado de Malthus, existe um acentuado descompasso entre o crescimento de uma população e o crescimento da produção de alimentos. Enquanto as populações cresciam em progressão geométrica, a oferta de alimentos crescia em progressão aritmética, ou seja, era impossível alimentar todos os indivíduos das novas gerações. Darwin conclui que sendo impossível alimentar a todos, alguns teriam que morrer precocemente, antes de atingir a idade da reprodução. Deveria haver, assim, uma luta pela sobrevivência (struggle for existence).Se alguns indivíduos tivessem características vantajosas, eles teriam maiores chances de sobrevivência. Assim, tais características tenderiam a ser preservadas, enquanto as características desfavoráveis seriam destruídas. (cf. DARWIN, C., 1995, p. 40).

Em 1844, Darwin escreveu a seu amigo Hooker, dizendo:

"Li inúmeros livros sobre agricultura e horticultura e não cessei de coligir fatos. Finalmente surgiram alguns raios de luz e estou quase convencido (em oposição à opinião com a qual comecei) de que as espécies (é como confessar um homicídio) não são imutáveis”. (DARWIN, C., Carta a Sir Joseph Hooker, de 11 de Janeiro de 1844, In: DARWIN, F 1995, p. 173)

O grande mérito de Darwin foi o de compreender como as mudanças poderiam ocorrer nas espécies. As populações podiam, teoricamente, crescer muito rapidamente. No entanto, isto não era observado; as populações se mantêm num nível mais ou menos constante. Dessa forma, deve existir uma luta pela sobrevivência. Uma vez que existem indivíduos diferentes, portadores de características favoráveis, haverá uma seleção natural dos mais aptos. Ao longo do tempo, aquelas diferenças desfavoráveis irão desaparecer. Pelo fato de os mais aptos deixarem maior número de descendentes, com maior potencial de sobrevivência, eles acabarão prevalecendo. Ao longo do tempo, essas diferenças iriam se acumulando, a ponto de, nas gerações futuras, se constituírem novas espécies, diferentes dos tipos originais.

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