quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

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Primeiro-ministro da Suécia: “Se o espaço Schengen não sobreviver vai ser devastador”

23/01 20:30 CET

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Os sonhos dos refugiados na Suécia

""(...) precisamos de um novo sistema e de responsabilidade partilhada. A crise de refugiados não vai desaparecer.""


Considerada em tempos um paraíso humanitário, aSuécia aceitou mais refugiados por habitante do que qualquer outro país da União Europeia. Mas, hoje, assume não ter alternativa senão endurecer a sua posição. A Suécia é o país com mais partidos anti-imigração em toda a Europa. A política de portas abertas aos imigrantes começa a ruir neste país. Para analisar este assunto a euronews entrevistou o primeiro-ministro sueco, Stefan Löfven.




Euronews: Em dezembro de 2015, há relativamente pouco tempo, o primeiro-ministro afirmou, e passo a citar: “A minha Europa acolhe pessoas que fogem da guerra, a minha Europa não constrói muros”. Estes critérios morais parecem ter mudado para a Europa, mas também para o país que governa. Olhando para trás, arrepende-se de alguma ingenuidade quando proferiu estas palavras?

Stefan Löfven: Não, note que eu disse “a minha Europa” porque estou convencido que isto é uma questão que deve ser analisada por todos os países que integram a União Europeia. Somos 28 estados membros com mais de 500 milhões de habitantes. Se tivessemos agido juntos poderíamos ter obtido melhores resultados. Mas a realidade é que poucos países tomaram essa grande responsabilidade. A Suécia foi o país que recebeu mais refugiados por habitante. A nossa parte foi cumprida. Porém, a afluência dramática de refugiados fez-nos perceber que não conseguiríamos receber todos, dar-lhes abrigo, um tecto que os proteja. Esta questão também afeta o sistemas educativo e outras dimensões do sistema.

Euronews: O resultado tem sido grave na Suécia e noutros países europeus, com o controlo de fronteiras a ser reforçado, vedações a serem construídas e muros a serem levantados. Acredita que estas medidas vão travar a chegada de refugiados e migrantes?

Stefan Löfven: Esse é o resultado porque não estamos a resolver o problema em conjunto, os 28 estados membros. Devemos levar o debate a nível europeu. Sinceramente, este assunto pode ser resolvido se trabalharmos em conjunto.

Euronews: Esta é uma situação grave, não vemos uma Europa unida capaz de combater este problema. Qual é então o plano B?

Stefan Löfven: O plano B é um novo sistema. Também é importante colocar em discussão o propósito do futuro sistema. Por exemplo, um refugiado que chega à União Europeia não pode escolher o país onde quer viver. Os países devem ter uma responsabilidade partilhada.

Euronews: Portanto,apoia a adopção de quotas obrigatórias no acolhimento de refugiados.

Stefan Löfven: Em certa medida, para partilhar a responsabilidade de receber refugiados. A técnica – podemos discutir as formas – está disponível para discussão.

Euronews: Pedimos aos seguidores da euronews no online para enviarem questões sobre o tema desta entrevista. Recebemos uma pergunta de Lucas Broz: “Arrepende-se de ter acolhido tantos refugiados? Que impacto está a ter na população sueca?

Stefan Löfven: Não me arrependo. Temos estas convenções, convenções internacionais, por algum motivo. Temos de trabalhar em três perspetivas. Temos de trabalhar para resolver o conflito na Síria, e a União Europeia pode desempenhar um papel importante nesta questão complexa. Conheci o enviado da ONU para a Síria, no caminho para aqui. Stefan de Mistura tem tido um trabalho muito difícil e estamos a apoiá-lo para pôr fim ao conflito naquele país. Precisamos de apoiar a Turquia, a Jordánia e o Líbano porque estão a fazer um trabalho titânico. Podemos ajudar estes países e evitar que as pessoas fujam para a Europa. É importante haver uma perspetiva europeia melhor.
E, por último, numa perspetiva nacional: não lamento ter acolhido os refugiados, mas precisamos de observar os factos e este aumento gritante de refugiados é preocupante. Se fizermos um cálculo anual, chegaram à Suécia 500 000 refugiados. O ritmo manteve-se em outubro, novembro e, por isso, tivemos de…

Euronews: O que me leva à segunda parte da questão. Que ambiente se vive na Suécia neste momento? A população está cansada, há um sentimento de saturação, de que os recursos são poucos…

Stefan Löfven: As reações são variadas. Por um lado, temos um espírito bastante solidário. Há pessoas a fazer um trabalho fantástico. A nossa sociedade está a fazer um trabalho formidável. Eu próprio constatei. Por outro, há pessoas preocupadas e devemos refletir sobre essa inquietação.Também depende de que parte do país estamos a falar. Algumas comunidades receberam muitos refugiados e entendem o impacto. Outras não acolheram praticamente ninguém e vivem uma realidade diferente. É um quadro de contrastes. Mas o governo tem de aceitar a responsabilidade e tomar as decisões necessárias para o bom funcionamento da sociedade.

Euronews: Se considerarmos a questão a nível europeu. A Alemanha, tal como a Suécia, e em comparação com outros países europeus, tem sido excetional no acolhimento de refugiados. A chanceler alemã, Angela Merkel, tem recebido reações amargas e o seu indíce de popularidade baixou na sequência dos ataques em Colónia. Acredita que, a curto prazo, algum líder europeu vai ter coragem de dizer que o seu país está de portas abertas para acolher estas pessoas, vítimas de conflito e persecução.

Stefan Löfven: Mais uma vez não podemos falar de um país em concreto…

Euronews: Então quem deve assumir o comando. Quem acha capaz de assumir a liderança nesta questão?

Stefan Löfven: Existe um diálogo entre a Alemanha, a Suécia, a Áustria, a Holanda e a Finlândia porque, como referi anteriormente, precisamos de um novo sistema e de responsabilidade partilhada. A crise de refugiados não vai desaparecer. As pessoas continuam a fugir para salvar a vida e temos estas convenções internacionais que existem por algum motivo, que remontam à Segunda Guerra Mundial e ao que aconteceu na altura. Portanto, é imperativo encontrar uma forma de conseguirmos finalmente cooperar. Trata-se de responsabilidade partilhada. Se todos contribuirmos conseguiremos lidar com este problema.

Euronews: Uma outra questão. A integração é um assunto óbvio e com grande destaque, sobretudo, depois dos ataques em Colónia, Andre Flames pergunta : “Que medidas vão ser adoptadas nos próximos cinco anos de forma a integrar os refugiados da Síria e do Iraque no país de acolhimento?” Falamos de uma integração rápida, certo? Face à chegada massiva de refugiados como vão garantir que a integração funciona?

Stefan Löfven: Os refugiados e os suecos têm as mesmas necessidades básicas. Precisam de uma casa, de um lar, de um trabalho se for um adulto, de educação se for um jovem. Mas, claro, é preciso um esforço particular para perceber como podemos ajudar estas pessoas que vêm de outro país e dar-lhes uma boa vida na Suécia. Com esse intuito, organizamos formações para que as pessoas que procuram asilo aprendam a língua sueca. Temos um acordo com parceiros sociais sobre o que chamamos um curso rápido.
Alguns dos refugiados têm competências que procuramos no país. Por exemplo, mecânico. Os parceiros sociais procuram integrar rapidamente estas pessoas no mundo do trabalho, combinar as formações de trabalho e de língua e tudo o que for preciso. Os procedimentos administrativos devem ser rápidos e adequados às competências de cada pessoa.

Euronews: Portanto, integrar os refugiados na sociedade assim que possível.

Stefan Löfven: O processo deve ser o mais rápido possível porque não temos sido suficientemente céleres. Isto aplica-se ao anterior e ao atual governo…

Euronews: E no que respeita a valores culturais, sei que a Suécia é muito progressista na questão do género. O país está em quarto lugar no ranking mundial de igualdade de género do Fórum Económico Mundial. Como transmite esses valores que vão além da integração no mercado de trabalho? É um assunto muito enraizado e todos sabemos que os refugiados que chegam à Europa são jovens com valores culturais muito diferentes.

Stefan Löfven: Distingo duas perspetivas importantes. Por um lado importa defender os valores em que realmente acreditamos. A igualdade de género, a igualdade em termos gerais, a democracia e todos os princípios básicos que devemos defender. Por outro lado, não se trata de pessoas de outras culturas com crenças religiosas diferentes, ou sem qualquer religião, pensarem de forma diferente. Não quero participar em nenhuma discussão que afirme que quando quem vem de outra cultura não se partilha esses valores. Julgo que seria uma discussão perigosa dentro do nosso país. Seriam criadas tensões indesejadas.

Euronews: Poderia ter de encarar uma espécie de dilema moral como o da chanceler Merkel. O que fará se forem cometidos atos ilegais que vão contra os valores morais do seu país, que são basicamente atos criminosos? O que fará a essas pessoas? Não as pode enviar para a Síria, pode?

Stefan Löfven: O problema é esse mesmo. São atos criminosos. Tivemos casos de assédio sexual durante muito anos. Infelizmente, as mulheres suecas têm sido vítimas durante muito tempo. Não é um problema novo com os refugiados. Não se trata de um novo fenómeno.

Euronews: A Alemanha, a imprensa alemã, o governo alemão foram criticados por tentarem esconder o escândalo em Colónia: os ataques que ocorreram na noite da passagem de ano. A Suécia enfrentou algo parecido em 2012. Face ao aumento de força da extrema direita, acredita que a Alemanha agiu da melhor forma ao tentar encobrir o que se passou?

Stefan Löfven: Não posso comentar o que está certo ou errado na Alemanha. Não conheço as condições. Mas posso dizer que na Suécia está errado esconder factos. É necessário dizer a verdade. Isto aconteceu.

Euronews: Quantas pessoas gostaria de receber por ano?

Stefan Löfven: Esta questão já me foi colocada várias vezes. Não existe um número exato. Mas se observarmos o aumento drástico de refugiados este outono, é um problema acompanhar todos menores que chegam sem pais, por exemplo. Precisam de um cuidado especial. Foi uma situação insustentável para estes jovens. Criamos quase uma centena de novas classes nas escolas todas as semanas. Houve muita tensão no sistema escolar que estava sob uma enorme pressão. Por esse motivo, o governo tomou a decisão de reduzir o número de pessoas que podem beneficiar de asilo na Suécia, porque o sistema social não foi capaz de fazer frente a este problema.

Euronews: Outro efeito colateral desta crise é o aumento da extrema-direita em toda a Europa. A Suécia tem um dos maiores partidos anti-imigração na Europa. Teremos de aceitar agora a extrema direita como parte integrante do sistema político europeu e trabalhar com estes partidos?

Stefan Löfven: Em primeiro lugar, é preciso perceber por que têm tido tanto sucesso, por que é que estes movimentos têm prosperado. Fui sindicalista durante muitos anos. Estou convencido de que o principal motivo é o medo. As pessoas estão preocupadas com o futuro. Numa altura em que se vê um mercado de trabalho muito inseguro, as pessoas questionam-se se vão continuar a ter trabalho na semana seguinte. Que impacto terá na economia. Tivemos um período desafortunado de oito anos em que o nosso sistema social diminuia, diminuia a segurança… Tudo isto criou espaço para soluções simplistas como: se os refugiados e migrantes não estivessem cá a situação do país estaria melhor, o que não é verdade. O nosso foco neste momento, é proporcionar trabalho às pessoas. É importante para os indivíduos, mas também para a sociedade. É igualmente importante assegurar que as pessoas sem trabalho são apoiadas, erecebem mais formação de modo a encontrarem um novo emprego.

Euronews: A crise dos refugiados afeta diferentes partes da sociedade. Também na Europa o tema de Schengen tem sido um problema massivo. Quais são os riscos que Schengen está a criar na segurança europeia? Teremos de reavaliar o espaço Schengen?

Stefan Löfven: Não. Precisamos de ter a certeza de que controlamos as fronteiras, caso contrário Schengen está ameaçado.

Euronews: Se olharmos para as fronteiras exteriores acha que as conseguimos controlar?

Stefan Löfven: Estou confiante que sim. Podemos combinar esforços, muito mais do que fazemos hoje. Por isso, sim, acredito que podemos controlar as fronteiras.

Euronews: O Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, fez soar o alarme e disse recentemente que sem Schengen a Europa não faz sentido. Várias pessoas dizem que Schengen já está morto. Se Schengen se desintegra, acha que a Europa corre o mesmo risco?

Stefan Löfven: Será uma perda enorme. Se o espaço Schengen não sobreviver, sendo um dos pilares principais da Europa, vai ser devastador para os negócios e para qualquer indivíduo.

Euronews: Tendo em conta a situação atual, acredita que Schengen pode continuar a existir?

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