quarta-feira, 22 de outubro de 2014

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA, EM PORTUGAL



Violência doméstica deixou 107 crianças órfãs de mãe






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UMAR começou a compilar dados sobre filhos de vítimas de violência doméstica e avisa que em Portugal ninguém sabe o que lhes acontece


No mesmo dia, Joana viu o pai esfaquear mortalmente a mãe e a irmã, atacá-la no peito com uma faca e mutilar-se a ele próprio antes de a GNR entrar no apartamento da família em Soure. A adolescente de 13 anos ficou com um pulmão perfurado, mas ontem a sua situação clínica estava a evoluir favoravelmente. Como Joana, nos últimos dois anos a violência doméstica deixou 107 crianças órfãs de mãe, revelam dados da UMAR - União de Mulheres Alternativa e Resposta. "É um número brutal, e ninguém sabe o que lhes acontece", disse ao i Elisabete Brasil, responsável pelo Observatório de Mulheres Assassinadas, gerida pela associação não-governamental.

À excepção dos relatórios da UMAR, nenhum balanço oficial da violência doméstica faz referência aos filhos das vítimas mortais e ao seu percurso. O relatório nacional das comissões de protecção de crianças e jovens mostra que a exposição à violência doméstica esteve por detrás de mais de 5215 casos sinalizados em 2013 e que foram reportados maus-tratos físicos a 161 crianças neste contexto. Mas o que acontece aos menores que vêem a família destruída de um momento para o outro é algo que não tem sido objecto de análise.

Até 2012, a União de Mulheres Alternativa e Resposta também só recolhia informação sobre outras pessoas que presenciam o episódio de violência fatal, situações em que muita vezes estão menores envolvidos. A percepção de que os casos mais trágicos de violência doméstica não fazem apenas vítimas directas levou a tornar o levantamento, feito a partir de relatos na comunicação social, mais exaustivo, explica Elisabete Brasil: "Começámos a juntar informação pois pensamos que deverá haver maior intervenção nesta área. Por vezes as crianças ficam órfãs de mãe e pai, quando o homicídio é seguido de suicídio. Mas mesmo em situações em que o pai não morre pode ser uma perda dupla: ficam sem mãe mas perdem para sempre o pai, que devia ser um pilar nas suas vidas."

Numa altura em que tem aumentado o apoio às mulheres vítimas de violência, com mais casas de abrigo, a responsável não recorda qualquer proposta no sentido de aumentar a protecção a estas crianças, que nestas situações são entregues a familiares directos ou postas à guarda de instituições geralmente após um processo de protecção judicial.
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