sexta-feira, 31 de outubro de 2014

OPINIÃO, no "JN"!!!!




Opinião

Lavagem de roupa suja
31.10.2014
RAFAEL BARBOSA

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A falência do sistema BES e a lavagem de roupa suja a que o caso deu origem continua a fazer vítimas entre a casta política portuguesa. E a deixar bem claro a desvergonha com que, entre as nossas elites políticas e financeiras, se fundem ou confundem interesses particulares com serviço público. Na semana passada, ficámos a saber que Carlos Moedas (ex-secretário de Estado de Pedro Passos Coelho e da troika e agora comissário europeu) era a arma secreta com que o clã Espírito Santo contava para tentar convencer a CGD a injetar umas centenas de milhões de euros num grupo falido. Uma arma de pólvora seca, é verdade, mas em todo o caso uma arma.

Nos últimos dias, ficámos também a saber que Manuel Pinho (ex--ministro da Economia de José Sócrates) foi confortado com um cargo de administrador de uma holding sem atividade conhecida (BES África), mas com um salário mensal de 39 mil euros, assim que se viu forçado a sair do Governo, depois de fazer "corninhos" a um deputado comunista.

Justamente confortado, não porque o deputado que o arreliou fosse comunista, mas porque o que o ex-ministro verdadeiramente pretendia era começar a receber, aos 56 anos, uma pensão de 37 mil euros a que só tinha direito aos 65. Ricardo Salgado deu com a mão direita o que não podia dar com a esquerda e transformou-o em "vice" do BES África, cargo em que aliás se mantém, não a partir de uma qualquer cidade africana, mas a partir de Nova Iorque, onde reside e dá aulas, presume-se que no escasso tempo que lhe sobra.

No início deste ano, Pinho voltou ao ataque. Adivinhando o desastre iminente e querendo assegurar o seu quinhão do saque, pede que lhe paguem antecipadamente uma parte do capital das pensões, e de uma só vez. Poderia até fazer um desconto. E argumenta com uma carta do chefe do clã, que lhe garantia o direito a receber antecipadamente o salário dos próximos cinco anos, caso lhe desse jeito para pagar alguma conta: dois milhões de euros.

Estranhamente, as pretensões do ex-ministro socialista não foram tidas em conta. E agora que a história estourou, o banco bom, ou Novo Banco, reduziu-lhe o salário de administrador para dois mil euros. Uma desconsideração: para que servirão dois mil euros em Nova Iorque, uma das cidades mais caras do Mundo?

No caso de Moedas como no de Pinho, tudo se passa dentro da mais estrita legalidade. Como já tinha acontecido com Eduardo Catroga, o homem que o PSD escolheu, em 2011, para negociar o memorando e o resgate da troika, que incluía, para além de uma overdose de austeridade, a privatização de algumas empresas públicas apetecíveis como a EDP.

Seguramente por acaso, Catroga seria escolhido, alguns meses depois, como presidente do Conselho Geral e de Supervisão de uma EDP vendida pelo Estado português ao Estado chinês. Para um cargo importante, um salário a condizer: 45 mil euros mensais. Tudo muito legal, tudo pouco probo. E a deixar bem claro a desvergonha com que, entre as nossas elites políticas e financeiras, se fundem ou confundem interesses particulares com serviço público.

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