quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

POEMA























UM POEMA EM PROSA…





Sob a luz indiferente das estrelas, uma folha de papel-excessivamente-em-branco fez-me sentir, então,

na precocidade da escrita,

que o milagre era, tão-somente, a verdade do velho limoeiro do quintal,

onde explodia o meu olhar cintilante, num ponto de interrogação*

Na relva orvalhada pelas gotas da noite,

o cantar dos grilos e das cigarras adormecia, angustiado,

num labirinto de sombras onde era impossível acender um poema, de energias revigoradas*



Os ventos -das-eras foram passando e o velho quintal envelheceu comigo-dentro-dele*



Foi no olho das tempestades da vida, que deixei de ouvir as cigarras e comecei a rasurar a folha de papel,

excessivamente-em-branco*



Nela cabiam carumas, raízes escuras de velhas, ervas bravas e giestas coloridas, ao pé das árvores, de espanto aturdidas*



A resina dos longos pinheiros da velha montanha-grávida-de-cheiros agarrou-se à toalha de imaculado papel (estendida a preceito),

para poder entrar, decidida,

no poema que vou tirando do peito*



Perto do ribeiro, que passa aos pés da casa da infância, estão, ainda, as ânsias-de-Outrora, as da hora em que FUI…

em que a teu lado vivi as primeiras brisas do corpo acordado pelo brilho do olhar ,

que penso ter-se perdido no corpo-de-outro-poema *







Maria Elisa R. Ribeiro/014










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