quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014




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Antero de Quental (1842-1891)




Antero de Quental é entre nós o grande criador de uma poesia filosófica romântica, influenciada pelos modelos alemães. Nasce emPonta Delgada, no seio de uma família nobre e com tradições literárias da ilha de S. Miguel. Em 1852, vai para Lisboa estudar noColégio do Pórtico, fundado por António Feliciano de Castilho, com quem já aprendera francês e latim em Ponta Delgada, entre 1847e 1850. Um ano depois regressa a S. Miguel, de onde partirá em 1855 para Coimbra, a fim de fazer os estudos preparatórios para oingresso na Universidade. Aos dezasseis anos, inicia o curso de Direito. Durante a sua permanência em Coimbra, assume-se comouma figura influente no meio estudantil coimbrão, tomando parte em várias manifestações académicas. É por esta altura quecontacta com os novos autores e correntes europeias - o socialismo utópico de Proudhon, o positivismo de Comte, o hegelianismo,o darwinismo, as doutrinas de Taine, Michelet, Renan, o romantismo social de Hugo - e, segundo confessará mais tarde, perde a fé.Em 1861, publica em edição limitada os Sonetos de Antero, obra dedicada ao poeta João de Deus, e, dois anos depois, os poemasBeatrice e Fiat Lux. Em 1865, publica as Odes Modernas, poesias de romantismo social, acompanhadas de uma "Nota sobre aMissão Revolucionária da Poesia". Em resposta à reação crítica de Castilho na carta-posfácio ao Poema da Mocidade, de PinheiroChagas, publica os opúsculos Bom Senso e Bom Gosto e A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais, que desencadearam aQuestão Coimbrã. Ainda no contexto da Questão Coimbrã, bate-se em duelo com Ramalho Ortigão, de quem viria a tornar-se amigo.Decide aprender o ofício de tipógrafo, primeiro em Lisboa e depois em Paris, onde conhece Michelet e lhe oferece um exemplar dasOdes Modernas. Regressado a Lisboa em 1868, e depois de uma curta viagem à América do Norte, reúne-se com os seus antigoscondiscípulos de Coimbra no "Cenáculo", grupo onde se discutem as doutrinas recentes e se descobrem os novos poetas(Baudelaire, Gautier, Nerval, Leconte de Lisle e o redescoberto Heine); fruto destes encontros, criação coletiva da Geração de 70,nasce o poeta satânico e dândi Carlos Fradique Mendes. Em 1871, organiza as Conferências Democráticas do Casino Lisbonense,proferindo as duas primeiras, O Espírito das Conferências e Causas da Decadência dos Povos Peninsulares. No rescaldo dainterrupção e da proibição das Conferências, consideradas subversivas pelo Governo, Antero vive a sua fase política mais intensa,fundando, com José Fontana, a I Internacional Operária em Portugal e também o jornal O Pensamento Social. Por esta altura,publica as primaveras Românticas e as Considerações sobre a Filosofia da História Literária Portuguesa. A partir de 1873,manifestam-se-lhe os primeiros sintomas de uma grave doença nervosa, que as mortes próximas da mãe e do pai acentuam, que oleva a consultar em Paris o famoso neurologista Charcot e a submeter-se, entre 1877 e 1878, a tratamentos de hidroterapia. Em1875, publica uma segunda edição das Odes Modernas, atenuando-lhes o cunho revolucionário. Em 1880, adota duas órfãs, filhasdo amigo e antigo colega de Coimbra Germano Meireles. Nessa altura, devido à doença, isola-se em Vila do Conde, continuando aescrever sonetos e ensaios filosóficos. Em 1886, publica os Sonetos Completos e o ensaio A Filosofia da Natureza dos Naturalistas.Em 1887, redige a célebre carta autobiográfica a Wilhelm Storck, seu tradutor alemão. Em 1890, publica o estudo filosóficoTendências Gerais da Filosofia na Segunda Metade do Século XIX. No mesmo ano, em virtude do Ultimato inglês, regressatemporariamente à atividade pública, aceitando a presidência da efémera "Liga Patriótica do Norte". Em 1891, suicida-se em PontaDelgada.

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