terça-feira, 8 de março de 2011

POEMA: ANTOLOGIA DOS BECOS DA VIDA...

FOTO MINHA














No escuro da noite, coberta pela bruma das nuvens ominosas,

No meio da lagoa pantanosa, sem maré,

Parado está o barco, sossegado,

Do pescador, que não lança a rede ao pescado.



O céu avermelhado do negro azedume do tempo

Cobre, solene, o barco sem rumo, na pescaria da vida, perigosa…



Não há um rumor…

Há o temor das nuvens negras

No vermelho ameaçador da paulica ria,

…morta…sem energia…



Saltam pingos de água das mágoas nevoentas

Que afugentam a coragem do homem, no meio do temporal…



O candil aceso não resiste, e de longe-coisa triste-

Assiste-se ao apagar da presença corajosa

Do homem a lutar,perdendo energia…



Por detrás da colina-qual Adamastor furioso!-

Assobia o vento, num tom pastoso,

Mostrando, da montanha, o riso enganador…



No céu dos humanos não há estrelas brilhantes,

Pois a noite aleivosa escurece os diamantes-peixe

Da vida de euforia-pescaria!



Mãos sujas,

Calejadas da existência das redes nos remos…

Dos remos nas redes…

Apanha o homem coragem, e numa rápida viragem

Endireita a canoa,

Foge da lagoa,

Esconde o seu medo na força súbita do mistério,

Repousa na gruta, sob a montanha,

Ao pé de uma fogueira de restos de lenha!



Antologia dos becos da Vida!



Viver é eterna ferida…mutação genético/sentimental,

Eternidade natural na junção sol-mar!



Deuses intrometidos nas rotas do natural existir

Fazem valer seus preceitos, para, depois,fugir…



Os deuses são Nada!

O Homem é tudo o que o Sonho consente!

Deuses não sonham…

Usam, abusam, dispõem…

Nascem deuses…acabam pó de estrelas enganosas!

O Homem nasce NADA,vive tudo…acaba vida dura!



O pescador da lagoa nua, brumosa, tempestuosa,

Escolheu o confronto…

No seio da montanha, à espera do sol, está pronto a lutar

Pelo pão de viver!



Alguém viu os deuses… assim…a tentar engrandecer?







C11L-(out/nat)49/16-FEV/011

6 comentários:

  1. Querida amiga

    As palavras
    descrevem uma cena
    intensamente bela.
    O cenário,
    a pessoa,
    o mar...

    Lindo

    Que haja sempre em ti,
    sonhos por sonhar.

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  2. Aluísio: e se há em mim, sonhos para sonhar...
    Obrigada por tua visita, amigo e irmão!
    BEIJO de
    Mª ELISA

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  3. Sabemo-nos sós
    mas sabemos também o caminho
    de destecer a rede
    e ter o peito redivivo

    O deslisar do barco
    nos espera
    também o balançar dos ventos,
    agora é fazer melhor...

    Beijos
    Tácito

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  4. Paulo: por que dei em ter dificuldade em interpretar os teus pensamentos?
    Ajuda.me a compreender!
    BEIJOS
    LISA

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  5. O tom inicial até à antepunúltima estrofe é embargadamente belo e sinistramente calmo. Os deuses por certo nao existem, e Deus pertence ao domínio do espiritual, mas a figurativa do pescador e das redes e do céu ventoso e do mar desdito e do sonho maior que o homem se alcança e consegue no concreto ultrapassar, está divino.

    Uma prosa em registo diferente e me soou tao mais apelativo. Gostei mesmo muito. As palavras estão caramelizadas de paz, dor e sorriso entre a névoa da espessuar da vida. Muita paz, por mais estranha, foi o que encontrei aqui. E uma ode ao Homem, sempre superior aos deuses que nao sonham nem nada.

    Um beijo seu, Marilisa!

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  6. DAniel Silva(Lobinho): eu é que fiquei de voz embargada com o seu comentário, de tal modo que precisei de pensar, antes de agradecer!a imagética que presidiu à elaboração do poema, tem que ver com todos nós, "pobres pescadores!" de nós próprios...A nossa procura esmaga-nos debaixo da grandiosidade do TODO PODEROSO!
    Obrigada, DANIEL! Parece que a minha alma é um livro aberto para si...e fico contente com isso!
    BEIJINHO SENTIDO
    MARILISA

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