sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

LITERATURA PORTUGUESA...

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CAMILO PESSANHA (1867/1926)

“CAMILO PESSANHA ensinou a sentir veladamente; descobriu-nos a verdade de que, para ser poeta, não é mister trazer o coração nas mãos, senão que basta trazer nelas a sombra dele”
FERNANDO PESSOA, in “DIMENSÂO LITERÁRIA”- ISBN972-0-40055-2


Nasceu CAMILO PESSANHA (C.P) em Coimbra, onde se formou em Direito.
Poeta do período conhecido como o da POESIA FINISSECULAR (fins do século XIX, princípios do séc. XX), autor de vasta obra da qual destacamos a colectânea de poemas, intitulada “CLEPSIDRA”, foi C.P. um verdadeiro cultor do SIMBOLISMO, um “homem poeta” que nos forçou a visualizar imagens da vida, com SINESTESIAS de uma beleza rara. O SIMBOLISMO preconizava, precisamente, que a cada Imagem correspondesse um som. Assim, a sua poesia é rica de imagens que, aliadas ao som que recordam, convertem a mesma em sensações maravilhosas, de um encanto inegável.
Ao descrever o som do violoncelo que toca ou das águas que passam sob a ponte, o leitor é, como que levado, a ouvi-los e a vê-las como se lá estivesse a “viver” o fluir das águas e dos sons musicais, que as mesmas sugerem.
DE notar que este violoncelo que toca, pode significar a própria VIDA! Quando jovens e saudáveis, no tempo em que “os Outonos”ainda não pesam, somos como instrumentos musicais, que tocam as mais belas melodias…
Seguidor do poeta simbolista EUGÉNIO de CASTRO, podemos afirmar, do que já ficou dito, que a sua poesia de angústia, pessimismo, desalento e solidão, transborda de impressionismo ao deixar-nos “ver” símbolos nas palavras.
Cada seu poema é, por conseguinte, rico de imagética (deixa ver imagens), que provoca sensações nos leitores, de modo a permitir uma ajuda preciosa na interpretação das mensagens.
Vejamos extractos do poema “VIOLONCELO /”: “Chorai arcadas/ Do violoncelo! / (…) Por baixo passam/Se despedaçam, /No rio, os barcos, / (…) Águas…Fundas, soluçam Caudais de choro…/”. É impossível não “ouvir” o violoncelo a “chorar”… e não ver as arcadas da ponte por onde passam os barcos… e não ouvir as águas do rio a correrem…
Num seu soneto, bem conhecido dos leitores da sua obra, diz o poeta: “Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho (…)/ Quem quebrou(…) a mesa de eu cear, - tábua tosca de pinho?/ E me espalhou a lenha?E me entornou o vinho?/ (…) Ó minha pobre mãe!...Não te ergas mais da cova./Olha a noite, olha o vento. Em ruína, a casa nova…/ “.
Lindíssimo poema, de carácter rememorativo, onde”sentimos “ a infância dele e de cada um de nós, ao “ver” os lençóis, a mesa, o vinho, a casa em ruína… a mãe já falecida… E” ouvimos” o escaqueirar da mesa, “vemos” o vinho entornado na “ toalha branca”, lembrando o “sangue” dos nossos desgostos, entornado, inclusive, nos limpos panos em que dormimos…
Por toda a poesia de C.P , feita de Imagens- símbolo, repassa a angústia da transitoriedade da vida, o envelhecimento quotidiano e implacável, as “sombras” do nosso dia-a- dia, a Morte…
Veja-se, ainda:”Imagens que passais pela retina/ Dos meus olhos, porque não vos fixais? / que passais como a água cristalina/Por uma fonte para nunca mais…! / Ou para o lago escuro onde termina/ Vosso curso, silente de juncais (…) /”.
Viajou muito, o poeta, tendo vivido noutros países, como MACAU, por exemplo. Nunca deu muito nas vistas, mesmo quando andou em Coimbra. Foi a revista literária “ORPHEU” quem deu pela poesia diferente deste homem, que se exilou no Oriente. “ Homem de escrita fina, refinada e um pouco difícil…”- afirma PAULO FRANCHETTI, in “DIMENSÃO LITERÁRIA.
Dos seus verdes anos, a escrita e a temática, demonstram influências notáveis: ANTERO DE QUENTAL, JOÂO DE DEUS e, sobretudo, CESÁRIO VERDE. Deste último, principalmente, nota-se a influência do recurso à mistura de sensações visuais, auditivas, gustativas, tácteis e olfactivas, que redundam em sinestesias vivíssimas, geradoras de um visualismo provocador de EMOÇÕES; e parece que cheiramos o vinho despejado, que ouvimos o escaqueirar da mesa, que vemos os lençóis brancos e a toalha suja desse vinho…
Alguns estudiosos consideram CAMILO PESSANHA um precursor do MODERNISMO pelos ares de cansaço, tédio, abulia em relação à decadência finissecular; mas é, particularmente, pelas primeiras atitudes poéticas de “fragmentação” do EU, que assim o consideram. Esse aspecto de poesia de fragmentação irá ser a génese dos heterónimos de FERNANDO PESSOA, que tratarei, brevemente, em várias secções, pela complexidade e riqueza temáticas.
A ÁGUA é um dos motivos poéticos mais recorrentes em C.P, até porque, se nos recordarmos do que tenho dito a respeito deste elemento da VIDA, é ele que sugere o passar dos dias, o fluir do tempo, o nosso envelhecimento… A água corre sempre, rejuvenesce sempre… Mas nós, humanos, vamos decaindo e andando para o NADA final, que é o culminar da nossa ligação com a NATUREZA. PROFUNDA AMARGURA…

11 comentários:

  1. Olá Lusibero,
    Obrigada pelos seus poemas, que leio com muito interesse e também pela óptima «aula» sobre Camilo Pessanha, que apesar de ter escrito só um livro, está na galeria dos grandes poetas portugueses.
    Está melhor? Desejo que sim.
    E para a amiguinha muitos beijinhos,
    Manuela

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  2. Olá, Maria querida!
    Realmente as descrições de Camilo Pessanha são fulgurosas e as sentimos em toda sua extensão.
    E a imortalidade desses grandes homens devemos à pessoas como tu, que sempre procura manter viva a chama do saber.
    Obrigada minha amiga, por mais estas riquíssimas informações.
    Beijinhos em teu coração.

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  3. "A magia da noite": grata pelas tuas palavras!
    Beijos de lusibero, com votos de festas felizes.

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  4. MANUELA FREITAS: a amiga já sabe que eu sou suspeita... mas adoro estes homens grandes das nossas letras.
    O tratamento vai andando, Manuela... Mas vou ter que fazer mais que 20 sessões de fisioterapia e ,na próxima semana, electroterapia também...
    Beijos de lusibero

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  5. MALU: faço-o com gosto, porque acho que temos grandes homens nas Letras, em PORTUGAL! Os burros e ignorantes dos políticos é que não estão à altura destes génios. Fico feliz por gostares.
    BEIJITOS COM VOTOS DE FELIZES FESTAS DE
    LUSIBERO

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  6. Sem dúvida um dos poetas mais importantes da língua portuguesa.

    abraço-

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  7. Maria: Para mim, os poemas mais tristes da Literatura Portuguesa são de Pessanha. Carregam um sofrimento mudo, muito mais doloroso que aquele que brada e chora alto.
    Naquele soneto dos "lençóis de linho" que você citou, associo a "casa em ruínas", imagem do próprio eu-lírico, à mãe que ainda comparece, mesmo depois de morta, para fazê-lo sofrer sem tréguas, como se ela tivesse sido a responsável pela destruição física e moral do filho. É terrível, mas assim que vejo. Como você interpreta?
    Adorei seu texto.
    Beijos.

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  8. Maria Teresa: de acordo! Mas como sabe, os textos que publico sobre certos autores, destinam-se a um público vasto e, por esse motivo, para não ferir susceptibilidades de quem não conhece o poeta ,-ou qualquer outro escritor, não aprofundo certos temas.
    A relação de Camilo Pessanha com a mãe é quase tão problemática como a minha relação com o meu Pai...Um drama! Mas eu não quis entrar por aí...
    BEIJINHO DE LUSIBERO , com votos de umas Festas Felizes!

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  9. Manuel Marques: plenamente de acordo! Só que um pouco incómodo para o tempo , pelas temáticas que desenvolveu, numa intensa liberdade de alma...lembras-te que por muitas décadas a política vigente enquadrava-se no espaço restrito do "DEUS, PÁTIA, FAMÍLIA"?
    BEIJOS DE BOAS FESTAS DA LUSIBERO

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