segunda-feira, 28 de abril de 2014

De FERNANDO PESSOA

Poema de Fernando Pessoa , através de "portugueses.fcr.blogspot.pt"

"Nevoeiro", Fernando Pessoa
O primeiro-ministro (em minúsculas) demitiu-se; a dívida pública e privada é gigantesca; os juros exigidos pelos empréstimos que contraímos são descomunais; a crise está aí em todo o seu esplendor.

Sobre a CRISE, ou crises, escreveu Pessoa na Mensagem o poema «Nevoeiro», precisamente o que encerra a obra:

NEVOEIRO

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo - fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer,
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a hora!"

O poema aponta claramente para um clima de degradação da pátria, de melancolia e tristeza, enfatizado pelo recurso a palavras e expressões que revelam negatividade ("Nem rei nem lei"; "Brilho sem luz", etc.), em suma, um ambiente de crise a vários níveis: político ("Nem rei nem lei, nem paz nem guerra"); moral ("Ninguém sabe que coisa quer, / (...) nem o que é mal, nem o que é bem"); de identidade ("ninguém conhece que alma tem"). A situação de Portugal era, portanto, de incerteza e indefinição. Ontem, tal como hoje: "Ó Portugal, hoje és nevoeiro...".

Assim sendo, as circunstâncias exigem um golpe de asa, um esforço conjunto de resgate da situação disfórica que se vive. Parafraseando Pessoa, «É a hora!».

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