O Pensamento de SAMPAIO BRUNO (1857-1915):
( Através de CVC.instituto-camoes.pt)
..." Para Bruno, a verdade não é um absoluto dado, e nele se palpa, tanto no pensamento como na sua expressão escrita, o sentido do oculto, ou não fosse a verdade «o erro, aproximando-se indefinidamente da verdade verdadeira, desconhecida». Daí que seja habitualmente considerado um autor difícil, com uma prosa recortada, sinuosa e tantas vezes labirintica, nos antípodas da clareza dos geómetras.
Bruno abriu-se ao mito, à profecia, à revelação, às alucinações auditivas (de que disse ter sido alvo), às sociedades secretas, ao mesmo tempo que expurgou o messianismo do que considerava a sua dimensão acessória para o focar no essencial: a redenção do homem e, com ele e através dele, a redenção universal, acabando por nos traçar uma metafísica da redenção que parte do mistério das origens para terminar na redenção não só do homem, pois recusou a perspectiva antropocêntrica de um certo evolucionismo imperante que à luz do seu critério tem por imoral, mas a redenção universal e fraterna de toda a cadeia dos seres, da natureza no seu conjunto, num processo que se lhe apresentava como a revelação sucessiva de fins divinos, rumo à perdida perfeição de um absoluto misteriosamente alterado.
Há na sua obra permanente exigência de relação ao englobante e, ao mesmo tempo o sentimento de ser englobado no quadro de um monismo que rejeita o dualismo da metafísica cartesiana. Nela encontramos uma noção do real que passa pelo amor, pela comunicação e pela relação profunda do homem com os outros seres -- chegando ao ponto de se fazer vegetariano --, ao mesmo tempo que tudo refere ao passado de uma homogeneidade perdida, rumo ao longínquo e profetizado porvir de uma unidade final a restabelecer: «Em todo o mundo a paz será», a qual «chegará lá para os dias mais confiantes do longínquo porvir», escreveu na sua mais importante obra, a Ideia de Deus (1902).
Por isso, o papel heróico do homem, aquele em que a ideia de liberdade verdadeiramente se realiza não radica no prazer ou no gozo que as modernas conquistas das ciências e das técnicas (no apogeu do positivismo em Portugal e das grandes exposições universais) eventualmente proporcionem, mas num plano bem mais profundo e moralmente superior, qual o de libertar-se a si, libertando os outros seres de um mal gerado pelo mistério da queda e da cisão inicial.
Sobre esta redenção universal, desenvolvida em contexto não teológico mas teúrgico, define três momentos, ou como prefere dizer, «três instantes supremos do crescimento», expressando-os em texto síntese de A Ideia de Deus: «Um: é o espírito homogéneo e puro que foi e há-de voltar a ser. Eis o ponto de partida e eis o ponto de chegada. Outro: é o espírito puro, mas diminuído actualmente pelo destaque separativo do universo. Enfim, o outro ainda: esse universo que aspira a regressar ao homogéneo inicial».
( Através de CVC.instituto-camoes.pt)
..." Para Bruno, a verdade não é um absoluto dado, e nele se palpa, tanto no pensamento como na sua expressão escrita, o sentido do oculto, ou não fosse a verdade «o erro, aproximando-se indefinidamente da verdade verdadeira, desconhecida». Daí que seja habitualmente considerado um autor difícil, com uma prosa recortada, sinuosa e tantas vezes labirintica, nos antípodas da clareza dos geómetras.
Bruno abriu-se ao mito, à profecia, à revelação, às alucinações auditivas (de que disse ter sido alvo), às sociedades secretas, ao mesmo tempo que expurgou o messianismo do que considerava a sua dimensão acessória para o focar no essencial: a redenção do homem e, com ele e através dele, a redenção universal, acabando por nos traçar uma metafísica da redenção que parte do mistério das origens para terminar na redenção não só do homem, pois recusou a perspectiva antropocêntrica de um certo evolucionismo imperante que à luz do seu critério tem por imoral, mas a redenção universal e fraterna de toda a cadeia dos seres, da natureza no seu conjunto, num processo que se lhe apresentava como a revelação sucessiva de fins divinos, rumo à perdida perfeição de um absoluto misteriosamente alterado.
Há na sua obra permanente exigência de relação ao englobante e, ao mesmo tempo o sentimento de ser englobado no quadro de um monismo que rejeita o dualismo da metafísica cartesiana. Nela encontramos uma noção do real que passa pelo amor, pela comunicação e pela relação profunda do homem com os outros seres -- chegando ao ponto de se fazer vegetariano --, ao mesmo tempo que tudo refere ao passado de uma homogeneidade perdida, rumo ao longínquo e profetizado porvir de uma unidade final a restabelecer: «Em todo o mundo a paz será», a qual «chegará lá para os dias mais confiantes do longínquo porvir», escreveu na sua mais importante obra, a Ideia de Deus (1902).
Por isso, o papel heróico do homem, aquele em que a ideia de liberdade verdadeiramente se realiza não radica no prazer ou no gozo que as modernas conquistas das ciências e das técnicas (no apogeu do positivismo em Portugal e das grandes exposições universais) eventualmente proporcionem, mas num plano bem mais profundo e moralmente superior, qual o de libertar-se a si, libertando os outros seres de um mal gerado pelo mistério da queda e da cisão inicial.
Sobre esta redenção universal, desenvolvida em contexto não teológico mas teúrgico, define três momentos, ou como prefere dizer, «três instantes supremos do crescimento», expressando-os em texto síntese de A Ideia de Deus: «Um: é o espírito homogéneo e puro que foi e há-de voltar a ser. Eis o ponto de partida e eis o ponto de chegada. Outro: é o espírito puro, mas diminuído actualmente pelo destaque separativo do universo. Enfim, o outro ainda: esse universo que aspira a regressar ao homogéneo inicial».
Sem comentários:
Enviar um comentário