O Assombro da Incoerência do Nosso Ser"Sou um mero espectador da vida, que não tenta explicá-la. Não afirmo nem nego. Há muito que fujo de julgar os homens, e, a cada hora que passa, a vida me parece ou muito complicada e misteriosa ou muito simples e profunda. Não aprendo até morrer - desaprendo até morrer. Não sei nada, não sei nada, e saio deste mundo com a convicção de que não é a razão nem a verdade que nos guiam: só a paixão e a quimera nos levam a resoluções definitivas.
Todos os dias mudamos de opinião. Todos os dias somos empurrados para léguas de distância por uma coisa frenética, que nos leva não sei para onde. Sucede sempre que, passados meses sobre o que escrevo - eu próprio duvido e hesito. Sinto que não me pertenço...
É por isso que não condeno nem explico nada, e fujo até de descer dentro de mim próprio, para não reconhecer com espanto que sou absurdo - para não ter de discriminar até que ponto creio ou não creio, e de verificar o que me pertence e o que pertence aos mortos. De resto isto de ter opiniões não é fácil. Sempre que me dei a esse luxo, fui forçado a reconhecer que eram falsas ou erróneas".
Raul Brandão, in " Se Tivesse de Recomeçar a Vida "NOTA:
Escritor português dos finais do século XIX princípios do século XX, retratou, como ninguém a vida dos povos ribeirinhos ,do nosso país e nomeadamente da beira-mar de Mira, Vagueira, Costa Nova e outras. Via o sofrimento da miséria destes povos que, afirma, "chegava a comer plantas do chão, para matar a fome..."Das suas obras, destaco "HÚMUS", que nos faz encontrar com a finitude da vida, pensamento a que todos fugimos.A ter em conta, também, "OS PESCADORES".
Maria Elisa
bosta
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