MEDITANDO…
“Esta viagem não
responde às minhas perguntas.
(…)
Vítima da memória,
nenhum deus me acolhe à chegada.”
Do POEMA “ESTA VIAGEM”, in “O País de AKENDENGUÊ”, de
Conceição Lima-Editora “CAMINHO” .
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Medito…E se medito, penso…Logo, existo! E é esta existência
que, por vezes, me leva a sentar numa cadeira, cómoda e relaxante, para, ao som
da música, neste ambiente que respira a mim,”limpar, reavivando-as, memórias do
que fui e do que sou. Como é impossível controlar o que vem à memória, vou ao
meu silêncio interior, minha catedral espiritual para poder
ser-eu-comigo-própria.
As memórias da vida são sempre um factor de tensão do
sujeito pensante; tensão positiva, porque o impele a reconhecer-se, ao ver-se
ao “espelho” da Verdade de si próprio; factor de tensão negativa, porque a
verdade de nós requer coragem para lidarmos com os nossos defeitos, as nossas
paixões…a nossa realidade como seres, enfim.
Sendo a vida a maior verdade do homem que nasceu, à qual ele
deve o maior respeito e amor, no cumprimento implícito da fidelidade aos princípios,
ela é, igualmente, um projecto traçado para cada um de nós, que devemos
respeitar, realizando-nos.
Cada vez mais consciente dessa realidade, sinto que estou em
contínua aprendizagem a qualquer momento em que respiro, em que vibro com o
sol, as estrelas e a lua, seja qual for o espaço ou o lugar em que me encontre.
Oiço os “PINK FLOYD”, essa maravilha da arte musical que se entranha em mim,
ajudando-me a ter ideias e a sentir a força da mensagem!
E deambulo por cima de “um castelo de algodão”, chamado
“Revolução dos cravos” que, ao longo das últimas décadas se foi diluindo nos
ares do autoritarismo e da militância corrupta, do carreirismo capaz de
desbancar um país e de o levar à mais vergonhosa miséria, a da fome, que se vê
nos olhos silentes de crianças e idosos! Passo por florestas, outrora
majestosas, onde as árvores cantavam de alegria ao lado de aves primorosas e de
rios caudalosos…Recordo DINIS, rei –trovador- lavrador a sonhar mundos de
espuma…Lembro Alcácer-Quibir, onde um rei foi morrer em areais ensopados de
sangue…Vejo uma “orquídea”no cabelo de AUUN SUNGSUKY, que nunca renunciou à sua
natureza humana…Passam-me os olhos, pelo que sei de memória, de TREBLINKA, de
DACHAU, de AUSCHWITZ…Vejo o “ENOLA GAY” a vomitar fogo nuclear sobre milhares
de seres inocentes…Vejo PASTEUR a criar raízes contra males da humanidade…
Continuo a sentir como meus, os caminhos do mundo; a mente
escorre dores e desafios, quando escrevo. Sendo livre, viaja, à vontade nas
memórias chocantes que não pretendo nimbar, com fantasias delirantes. Há
memórias que devemos pôr num canto do COSMOS MENTAL, afastando-as do âmago de
cada um de nós, para termos a força de continuar “viagem”…Apesar de tudo,
dialogo com esses horrores para não arrasar o meu moral…
A caneta puxa por mim e, então, descubro que, sendo a caneta
quem escreve a PALAVRA, nela está impressa a letras, ora de oiro, ora de
amargura, a marca da minha identidade e da minha personalidade…Então, a PALAVRA
é formada numa teia do pensamento que me constrange ao tecer tramas de dor
nessas recordações, que se transformam em memórias…
Não tenho memórias de amor paternal ou maternal…Por isso, há
paredes sem janelas dentro de mim…janelas de carinhos, de afagos, de família,
de amor pelo que é UMA CRIANÇA…
Hoje, há um ir-aparecendo-diferente, de ano para ano…Há
memórias de maturidade na infância do medo…Há um eu, sempre a querer fugir da mediocridade,
para saltar barreiras, a caminho do possível aperfeiçoamento…
E não há memórias boas? Oh…se há…Embora pretenda “apenas”
reflectir, sem fazer biografia da auto- biografia, há momentos de encontro com
presentes que são passado, lembranças de pedaços de vida impagáveis…os meus
filhos…os meus estudos…os meus livros…a minha música…a paixão pelos alunos e
pelas Letras e Filosofias…a minha POESIA…
Ao começar a escrever poemas, sem o imaginar, estava a
comemorar a minha Vida…Foi como se tivesse pegado num “espelho de registos” que
o Passado me entrega a todo o momento, para exorcizar tempos que me fizeram
sentir um frio diferente. Nessas memórias reflexivas, que são os meus poemas,
sinto que se tornam mais claras muitas das nuvens cinzentas do viver, porque as
enfrento na força da Palavra. Momentos há, em que pareço retida nas teias da
infância, sem ser capaz de fugir dessas lembranças, para, como navio
aparelhado, partir para a “rota” da “actualidade seguinte”, o novo
“EU”refugiado em espaços desabitados por outros que não eu. É AÍ que sei SER-ESTAR!
AÍ, encontro-me e lavro as ideias em folhas de caderno, com a ajuda do
Dicionário. AÍ, no POEMA, ACONTEÇO, sem cobardia. Aí, apanho a coragem e a
determinação como motores de arranque para a descoberta do que ainda não ME
conheço!
Dizia ANTERO DE QUENTAL no Soneto “TESE E ANTÍTESE”:
(…) “TU, pensamento,
não és fogo, és luz!”
Atrevo-me a responder-lhe: Não, Antero…O meu pensamento é
luz…mas é FOGO, também!
Mealhada, 10 de Novembro de 2012-11-09
Maria Elisa Rodrigues Ribeiro
http: //lusibero.blogspot.com
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