quinta-feira, 23 de setembro de 2010

LITERATURA PORTUGUESA: TEIXEIRA DE PASCOAES



NOTA:
Este Texto foi publicado no meu Blog, em MAIO/09.
Acontece que tenho recebido pedidos de publicação de LITERATURA PORTUGUESA, POR PARTE DE ALUNOS PORTUGUESES , A ESTUDAR FORA DE PORTUGAL, POR NÃO LHES SER FÁCIL OBTER MUITOS ELEMENTOS DE INFORMAÇÃO, NESSE CAPÍTULO.
SINTO-ME HONRADA COM TAL PEDIDO, COM O FACTO DE ME LEREM, QUER NO BLOG QUER NO JORNAL DA MEALHADA E PROMETO CORRESPONDER AOS PEDIDOS, PUBLICANDO UM AUTOR POR SEMANA.






Afirma o próprio Teixeira de Pascoaes:” O génio da Língua é o dom especial que ela tem de traduzir o sentimento saudoso da Natureza animada e inanimada.” (in Arte de ser português”)


Este é um dos mais difíceis poetas portugueses; não vos escondo essa apreciação, mas como os amo a todos no espírito da Mensagem que me legaram, quero dar-vos um pouco dele, de modo simples e sem pretensões de intelectualidade…
A sua obra toca o SAUDOSISMO, o humanismo, a sensibilidade, o desdobramento da personalidade, uma certa atitude filosófica perante a existência, a Criação e o Panteísmo (crença em vários deuses ou divinização de certas entidades); mas Teixeira de Pascoaes demonstra, ainda, uma especial predilecção pela noite e pelo sonho, pela Saudade, sentimento tão português, provocado pelo afastamento, na distância…
Um exemplo de panteísmo podemos vê-lo no poema “Canção alegre”: “Eu te abençoo, alegria! / Alma e corpo da esperança!”onde a Alegria é endeusada pelo poeta que a abençoa, como sendo a raiz da vida.
No poema “A sombra do homem”, nota-se o humanismo, revelado pelas preocupações mais normais de qualquer ser humano: o sono, as trevas, o silêncio, o remorso, a exaltação, as interrogações do Ser …A certa altura, de tão preocupado, o poeta já se confunde com DEUS, com a NATUREZA, e afirma: Ó DEUS, tu és em mim, fragilidade;/ sombra que, por encanto, surge e passa…/ E nele, sou profunda Eternidade,/ Êxtase, Beatitude, Enlevo e Graça!/ Orar é a gente ver a DEUS em si/ E ver-se a gente em DEUS…”(…).
Mentor da revista literária “Renascença Portuguesa” a par de Jaime Cortesão e do filósofo Leonardo Coimbra, revista essa que, mais tarde, se aliou nos ideais, à segunda série da revista “Águia”, a ideia destes autores, eivados de Saudosismo, era a de dar sentido às energias intelectuais do povo português, no seu determinante e determinado caminho para a renovação do nosso país. No passado de Portugal, segundo o pensamento do poeta, estavam as fontes da nacionalidade que era preciso recuperar; por isso, a Saudade podia ser vista como “sangue espiritual” da raça portuguesa. E assim o afirma na revista “Águia”: “A Saudade é o próprio sangue espiritual da raça, o seu estigma divino, o seu perfil eterno. Claro que é a saudade no seu sentido profundo, verdadeiro, essencial (…) onde tudo o que existe, corpo e alma, dor e alegria, terra e céu, engrandecem um povo…”(in Dimensão Literária- Português A-Porto Editora, pág. 150/162, ISBN 972-0-40055-2).
No poema “ Aos Lusíadas” encontra-se uma prova desse portuguesismo, desse amor extremo por Portugal, em:”Ó Deus da minha Pátria, olhai por ela”/ Dai à sua bandeira nova glória/ Pregai, nas suas dobras, uma estrela! / Ó templo dos Jerónimos…/Ó Deus de Ourique! /…regresse o Dom Sebastião do nosso ser!”
Nota-se já, em TEIXEIRA de PASCOAES, uma amostra do que foi a fragmentação do “EU” em Fernando Pessoa e que o conduziu à criação dos célebres heterónimos, nos princípios do século XX.Veja-se essa verdade, no poema “O HOMEM”, 2ª estrofe: “ Sinto na minha vida várias vidas! / Sinto bem minha alma dividir-se/ Em muitas almas íntimas…” (…)
Teixeira de Pascoaes amava, como temos vindo a ver, a sua terra, a sua região e descreve, em tons de mestre, esse amor, num conhecido poema que foca, particularmente, a região do MARÃO e a que o poeta deu o nome “MARÁNOS”; muitas editoras escrevem “MARÂNUS”; mas, porque a grafia correcta é a do autor, é essa que usarei, neste trabalho. Ao longo deste poema, que é enorme, Pascoaes retrata o carácter de genuinidade das gentes da serra, a sua riqueza cultural multifacetada, a sua antiguidade na modernidade. Sugestivo nas Imagens, como por exemplo ao tratar a Saudade como “VIRGEM MÃE“, este poema é mais uma prova de que o SAUDOSISMO, movimento poético, é uma espécie de “religião da Saudade”, vivida pelo poeta e seus seguidores, num verdadeiro clima de Idealismo. Saudade era para PASCOAES o modo como Duarte Nunes de Leão a definia em “Origens da Língua Portuguesa”, tal qual é dito no livro “PORTUGUÊS A-12º ANO, da TEXTO EDITORA, da autoria de Mª Leonor Carvalhão Buescu e Carlos Ceia:”SAUDADE É LEMBRANÇA DE ALGUMA COISA COM DESEJO DELA…”
Algumas passagens desse poema revelam um tom profético, mostrando a serra como verdadeiro coração de Portugal, onde se mantêm várias origens da nossa Língua bem como usos, costumes e tradições que marcaram a portugalidade: ”Marános, esse amante da montanha/ Ouvira aquela voz e interpretava…o nosso” mundo-criatura”…mundo criador e ser humano/ Um céu verde, de flores esmaltado/ …No infinito silêncio e na infinita Soledade…/ E tinha, assim/ consciência… de outra existência trágica e sem fim/ (…) E, entre ele e aquela mística paisagem, /A névoa da distância dissipou-se. / Ela estava integrada em seu espírito, / Seu espírito esparso através dela// (… )”.
A SAUDADE, sentimento nosso, genuíno, sem tradução em Língua alguma, é um tema recorrente na nossa Literatura. Basta pensarmos nas Cantigas trovadorescas… Mas o próprio rei D. Duarte, filho de D. João I, falava da “SUIDADE”, no seu livro “LEAL CONSELHEIRO”…E que dizer de António Nobre que escreveu “ SÓ”, o livro mais saudoso de PORTUGAL?
Deixo-vos, leitores, com um pensamento simples de JOHN Le CARRÉ, escritor britânico:”Uma secretária é um sítio perigoso para observar o mundo…
VAMOS ,UM DIA DESTES, À SERRA DO MARÃO?

10 comentários:

  1. Olha, LUÍs tenho estado com problemas, hoje, na Net...Como vês ,o teu comentário perdeu-se...Obrigada meu amigo, na mesma!
    BEIJO de Mª ELISA

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  2. Sem Poesia não há Humanidade. É ela a mais profunda e a mais etérea manifestação da nossa alma. A intuição poética ou orfaica antecede, como fonte original, o conhecimento euclidiano ou científico. E nos dá o sentido mais perfeito e harmónico da vida. Aperfeiçoando o ser humano, afasta-o do antropóide e aproxima-o dos antropos. Que a mocidade actual, obcecada pela bola e pelo cinema, reduzida quase a uma fotografia peculiar e uma espécie de máquina de fazer pontapés, despreza o seu aperfeiçoamento moral; e, com o seu fato de macaco, prefere regressar à Selva a regressar ao Paraíso. E assim, igualando-se aos bichos, mente ao seu destino, que é ser o coração e a consciência do Universo: o sagrado coração e o santo espírito. Eis o destino do homem, desde que se tornou consciente. E tornou-se consciente, porque tal acontecimento estava contido nas possibilidades da Natureza. Sim, a nossa consciência é a própria Natureza numa autocontemplação maravilhosa. Ou é o próprio Criador numa visão da sua obra, através do homem. E, vendo-a, desejou corrigi-la, transfigurando-se em Redentor.

    Teixeira de Pascoaes, in "A Saudade e o Saudosismo"

    Obs :como gostava de ir á serra do Marão...

    Beijinhos meus

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  3. Olá. boa noite Maria
    Um texto pleno de informações, de poética. De facto um inventário que serve-nos de exemplo.
    Um grande beijo
    Saudades
    Salete

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  4. Comentário: 2ª via.

    Sem Poesia não há Humanidade. É ela a mais profunda e a mais etérea manifestação da nossa alma. A intuição poética ou orfaica antecede, como fonte original, o conhecimento euclidiano ou científico. E nos dá o sentido mais perfeito e harmónico da vida. Aperfeiçoando o ser humano, afasta-o do antropóide e aproxima-o dos antropos. Que a mocidade actual, obcecada pela bola e pelo cinema, reduzida quase a uma fotografia peculiar e uma espécie de máquina de fazer pontapés, despreza o seu aperfeiçoamento moral; e, com o seu fato de macaco, prefere regressar à Selva a regressar ao Paraíso. E assim, igualando-se aos bichos, mente ao seu destino, que é ser o coração e a consciência do Universo: o sagrado coração e o santo espírito. Eis o destino do homem, desde que se tornou consciente. E tornou-se consciente, porque tal acontecimento estava contido nas possibilidades da Natureza. Sim, a nossa consciência é a própria Natureza numa autocontemplação maravilhosa. Ou é o próprio Criador numa visão da sua obra, através do homem. E, vendo-a, desejou corrigi-la, transfigurando-se em Redentor.

    Teixeira de Pascoaes, in "A Saudade e o Saudosismo" .


    Obs:como eu gostava ir um dia destes á serra do Marão...

    Beijinhos minha querida Maria Elisa,

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  5. MEU QUERIDO MANUEL MARQUES...EMBORA um pouco chamuscada pelos incêndios, A SERRA DO MARÃO, que tenho visitado amiúde, è "um coração" de PORTUGAL!Sinto ,lá no alto, ao pé das urzes e das giestas, aquele amor místico à terra que é parte do meu coração...vai lá, se puderes, procura cascatas simples que falam, árvores que te tocam...seres mágicos que só o teu coração pode sentir...
    BEIJOS
    Mª ELISA

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  6. Querida SALETE: ainda bem que gostaste, minha amiga...é um trabalho fruto dos meus conhecimentos e como a cultura não é de um só ou dos mais privilegiados, reparto-a com quem me pediu, sem pretensões...
    BEIJINHOS
    Mª ELISA

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  7. Obrigado pela visita que por tua mão fiz ao poeta que abençoa a alegria como sendo a raiz da vida!
    Bom fim-de-semana, Amiga professora poetisa.
    Um beijo daqui.

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  8. MEU QUERIDO CARLOS ALBUQUERQUE: QUE saudade!
    DESTE-ME MUITA ALEGRIA, MEU AMIGo!
    DIZ-ME , CARLOS: estás bem? Passaram os problemas de saúde?
    VOU ao teu blog, agora...
    BEIJOS DE
    Mª ELISA

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  9. Passar não passaram, mas estou bem melhor.
    As dores quando ainda surgem são mordentes,contudo logo trato de as açaimar.
    Obrigado por quereres saber.
    Beijos, minha Amiga.
    Bom Domingo

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