"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
terça-feira, 2 de agosto de 2016
In www.publico.pt: a polémica das declarações do Psicólogo Quintino Aires...
Ordem dos Psicólogos já tentou punir Quintino Aires, mas nunca conseguiu
ANA CRISTINA PEREIRA
02/08/2016 - 08:08
Declarações de psicólogo sobre ciganos portugueses num programa da TVI geraram grande indignação.
Muitos ciganos fazem trabalho informal, por exemplo, nas feiras NÉLSON GARRIDO/ARQUIVO
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A Ordem dos Psicólogos está a ser inundada por queixas contra Quintino Aires. A direcção considera “de extrema gravidade” as declarações que aquele psicólogo proferiu num programa da TVI sobre as comunidades ciganas. Irá pedir ao seu conselho jurisdicional que as analise.
Quintino Aires é bem conhecido naquela estrutura, que já duas vezes decidiu aplicar-lhe uma pena de repreensão por declarações que violavam o código deontológico. Doutra vez decidiu suspendê-lo três meses por má prática profissional. Em todas, Quintino Aires recorreu aos tribunais administrativos, não tendo os processos tido ainda um desfecho.
Na primeira vez, o psicólogo pronunciou-se sobre um concorrente de um programa da TVI que aos 26 anos ainda não iniciara a vida sexual. Aos microfones da Antena 3, aconselhou os ouvintes a recusarem “estas patologias sociais” e afirmou que a virgindade é um problema de "saúde pública". Da segunda vez, numa entrevista que deu à revista Happy Woman, afirmou: “Fazer sexo com animais aumenta a ligação entre o ser humano e a natureza. Pelo que está claro que não devemos considerar a zoofilia uma perversão, mais sim uma celebração das nossas origens. No fundo somos todos animais.”
A terceira vez diz respeito a duas crianças acompanhadas em pedopsiquiatria. O médico receitara-lhes medicamentos e Quintino Aires aconselhou a mãe a deixar de lhos dar. Ora um psicólogo não pode prescrever nem suspender a toma de medicamentos. O sucedido pode vir a valer-lhe uma suspensão.
Agora, Quintino Aires fez generalizações sobre os cidadãos de etnia cigana. “A etnia cigana não respeita as normas do país onde vive”, disse quarta-feira noVocê na TV, programa apresentado por Manuel Luís Goucha e Cristina Ferreira na TVI. “A maioria vive dos subsídios ou trafica droga e não trabalha”, acrescentou.
Na sexta-feira, 14 associações e três eleitos pelas associações ciganas para o Grupo Consultivo para a Integração das Comunidades Ciganas subscreveram um comunicado a dizer que as declarações de Quintino “são inadmissíveis, porquanto reproduzem preconceitos e estereótipos e promovem posições racistas”. Solicitaram à TVI que tomasse uma posição pública e à Ordem dos Psicólogos, à Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial e à Entidade Reguladora para a Comunicação Social que actuassem. Este tipo de comentários podem dar origem a multa e até a pena de prisão.
A direcção da Ordem dos Psicólogos “repudia os comentários” de Quintino Aires e prepara-se para os encaminhar para o órgão estatutário como competência disciplinar. “Os psicólogos procuram no seu dia-a-dia, e através dos seus contributos específicos, criar condições para que caminhemos para uma sociedade mais inclusiva e menos preconceituosa”, adiantou o responsável pelo gabinete de comunicação, Duarte Zoio. A petição pública que reclama o afastamento do comentador juntava quase 1900 assinaturas no final desta segunda-feira. Três outras, lançadas para o defender, juntavam 9, 8 e 6 pessoas.
Há ciganos que omitem a sua etnia
Não há dados estatísticos que permitam fazer uma caracterização rigorosa das condições de vida dos ciganos portugueses. A Constituição não permite que a etnia figure na estatística oficial. Sabe-se que têm origem diversa(ascendência rom, sinti, manouche e calé) e diferentes tradições e estima-se que sejam entre 40 mil e 60 mil.
Há um punhado de estudos qualitativos e microlocalizados. Só um tem carácter nacional. E “grande parte do trabalho de campo desse estudo [divulgado no ano passado] foi feito em comunidades desfavorecidas”, adverte uma das autoras, Manuela Mendes. Os inquéritos foram aplicados, sobretudo, em acampamentos e bairros sociais.
Também há ciganos de classe média, média alta e alta, só que esses “são mais difíceis de localizar”, não só pela sua dispersão, mas também por muitos deles preferirem omitir a etnia. “Receiam represálias” nas escolas que frequentam ou nos empregos que têm, explica. Os ciganos são um dos principais alvos de racismo e discriminação.
Não é só o estigma. O abandono escolar precoce persiste, embora esteja a diminuir. E a baixa escolaridade e a falta de formação profissional têm fortes implicações no acesso ao mercado de trabalho. Na referida investigação – realizada pelo Centro de Estudos para as Migrações e Relações Interculturais da Universidade Aberta, em parceria com o Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa – é pequeno o número dos que têm como principal fonte de receita o trabalho formal (9,5%).
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