sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

FILOSOFIA: DEUS/HOMEM- TEORIAS DE GABRIEL MARCEL (1889-1973)



De Gabriel Marcel (1889-1973), in www.wprrangel.com







"O HOMEM, SER ENCARNADO E ITINERANTE"








Uma das doutrinas mais conhecidas de Marcel é a que afirma que o homem é um ser encarnado. Marcel chegou a esta doutrina através de uma análise do significado da proposição “eu existo”; segundo ele, a reflexão metafísica revela que esta proposição significa “eu sou o meu corpo”.
Por corpo deve-se entender não tanto a matéria extensa e visível quando a intimidade-concreção do eu, isto é, a encarnação ou a individualização do existir. Assim, referida ao homem, a proposição “eu existo” significa: “eu sou encarnado”. “Ser encarnado é aparecer como corpo, como este corpo, sem poder identificar-se com ele, sem poder distinguir-se dele; intímidade-concreção, em suma, entre alma e corpo; mistério da fusão de intimidade e concreção, a encarnação exprime exactamente este mistério. Mas a encarnação não exprime somente a individualidade como também a participação. Esta se manifesta antes de tudo no sentir; o sentir é participação imediata naquilo que nós habitualmente chamamos sujeito, num ambiente no qual não há fronteiras que o separem”.
O ser se revela como com ser, o “eu existo” se torna “o universo existe”, não como soma de objetos, mas como teatro de experiências, de existentes, em diálogo entre o eu e o tu.
Outra doutrina muito conhecida de Marcel é a do homem itinerante ou homo viator. O homem, já ficou dito, é um ser encarnado; é esta a sua natureza; mas a pesquisa neste campo deve orientar-se para a descoberta de um sentido para a vida, o qual é sempre o sentido da minha vida; recusar-se a esclarecer o sentido da vida é renunciar à própria identidade profunda, é dissolver-se no ter. Ora, refletindo no sen­tido da vida, o ser encarnado se revela ser itinerante, homo viator.
E aqui, na concepção da vida como peregrinação, que a reflexão descobre uma fenomenologia e uma metafísica da esperança. A esperança estrutura a vida humana, é a abertura vivida do ser encarnado; tudo aquilo que o ser-no-mundo apresenta pode constituir um obstáculo, uma provação, um escândalo, numa palavra, a tentação subjugadora do ter. Ora, a esperança é a grande alavanca que, sem renegar o ser-no-mundo, antes assumindo-o, sublima-o a instrumento de elevação; e aquilo que poderia constituir um convite à desesperança é exorcizado.
Justamente na esperança está a prova do transcendente; com ela se afirma que “há um ser, além de todo dado, além de tudo aquilo que pode fornecer matéria para um inventário ou servir de base para um cômputo qualquer, um princípio misterioso que está em conivência comigo, que não pode não querer aquilo que eu quero, pelo menos se aquilo que eu quero merece efectivamente ser querido e de fato é querido por mim em minha totalidade”. Assim o universo tem sentido para mim, e a metafísica se revela, qual é e deve ser, “exorcismo da desesperança”.
À transcendência não se chega, porém, por meio de argumentações e de outros processos lógicos, mas pela intuição. O homem é feito para Deus e não pode deixar de reconhecê-lo quando ele passa na sua proximidade. A atitude que convém ao homem diante de Deus não é a de especulação nem a de interrogação, mas a de adoração, de humilde oração. O filósofo deve falar a Deus, não de Deus.
“E tempo para o metafísico, se ele quer sair definitivamente dos trilhos da epistemologia, de compreender que a adoração pode e deve ser, pela reflexão, uma terra firme sobre a qual ele deve apoiar-se, apesar de, como indivíduo empírico, não poder participar dela senão na reduzida medida que a sua indigência natural comporta”.







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