terça-feira, 16 de abril de 2013

Gore Vidal Sobre Ernest Hemingway


por Gore Vidal
"Eu o detesto, mas não resta dúvida de que fiquei encantado com ele, quando era jovem, como ficamos todos. Achava sua prosa perfeita... até que li Stephen Crane e percebi de onde é que ele a tinha tirado. Entretanto, Hemingway ainda é o mestre da autopublicidade, que me perdoe Capote. Hemingway conseguia convencer o mundo de que antes de Hemingway todos escreviam como ... quem? ... Gene Stratton Porter. Mas não houve apenas Mark  Twain antes dele, houve também Stephen Crane, que fez tudo aquilo que Hemingway fez e muito melhor. Não há dúvida de que The red badge of courage é superior a Farewell to arms(Adeus às armas). Mas Hemingway conseguiu produzir um estilo hipnótico cujo ritmo perseguiu muitos escritores. Eu gostava de algumas coisas sobre viagens: Green hills of Africa. Mas ele nunca escreveu um bom romance. Suponho que, no fim, o que eu mais deteste nele seja a espontaneidade de sua crueldade... Uma das razões por que o dotado Hemingway nunca escreveu um bom romance é que nada lhe interessava exceto algumas experiências sensuais, como matar coisas e poder: coisas interessantes de se fazer mas nem um pouco interessantes de se escrever. Esse tipo de artista vê-se em apuros muito cedo porque tudo aquilo sobre o que consegue realmente escrever é ele mesmo, e depois da juventude o eu – desengajado do mundo – é de somenos interesse. Reconheço, Hemingway perseguiu guerras, mas nunca teve muita coisa a dizer a respeito da guerra, ao contrário de Tolstoi ou mesmo Malraux".
Fonte: Os escritores: as históricas entrevistas da Paris Review. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.-in NET

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