quinta-feira, 8 de novembro de 2012

AFTER-SHAVE (II) 

Marilisa Ribeiro


No bosque, uma clareira de verdes-vida!
Cheira a resina, after-shave natural dos pinheiros viris…
Na clareira, corre um riacho de margens farfalhudas
de arbustos ramudos, à espera de esconder…
O sol desce do céu em tons harmoniosos
cobrindo de vida o coração da terra.
O vale germina ao ritmo quente
do lento aquecer da Natureza vital.
As gotas de orvalho nocturno saciam a sede
das plantas, a viver…
Uma fenda, nas rochas da montanha, promete segredos…

Revejo-me no obscuro da fértil imaginação.
Sou transportada a um mundo
onde vivo a sensação do aperto
de uns braços possantes
que despertam os sentidos
confundindo-os, numa onda de paixão…
Parece-me sentir tremer o vulcão,
do outro lado da colina,
expelindo magma pela ravina…
Mas é doidice…puro sonho que o ambiente suscita,
mortinho por ver-me louca…

Escondo-me da águia, eterna voadora,
senhora dos segredos de todos os arvoredos.
Cavalgo em suas asas, direita a teu coração.
Pelo caminho, confusa, paro na gare da infância
que me leva à juventude…
Ambas dormem, nos sonhos que se foram perdendo
nos sonos dormidos,
quando acordava para a vida…

Do afer-shave que usavas,
ficou-me o desejo de viver momentos de prazer
abraçada a teus traços viris,
quando me apertavas…assim…

Recordo a doçura da face molhada de jasmim dos bosques…
…a clareira de loucuras expostas
à cumplicidade do sol tardio…
…os laivos de prazer que ‘inda não sabíamos viver…
Ficou no ar o cheiro do vinho da loucura
que ‘inda perdura…
Não há quartos a recordar…mas há
paixão por viver!
Há o teu perfume…o teu lume…
na recordação do homem que enlouquece e consome!

Nada voltou ao igual a ti!
Tu saíste…eu parti…

Ao ver-te, hoje, no tempo, lamento…
Ficou por te dar o segredo da malvasia do monte…
…o meu ventre terra-mãe…
…o cheiro peculiar que tenho ao amar…
Ficou por sentir como vive o Mundo
nas horas de me perder, ao dar-me…

Monto na estrela da noite,
num cavalo de sonho.
Corro para sul e para norte
na procura do teu cheiro a after-shave, sempre forte…

Fora isso…nada há que me conforte!

C11L-ABL-118-(ERTS)/011

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