foto googleNo mais fundo de ti
Eu sei que te traí, mãe.
Tudo porque já não sou
O menino adormecido
No fundo dos teus olhos.
Tudo porque ignoras
Que há leitos onde o frio não se demora
E noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
São duras, mãe,
E o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
Que apertava junto ao coração
No retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
Talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
Que todo o meu corpo cresceu,
E até o meu coração
Ficou enorme, mãe!
Olha - queres ouvir-me? -
Às vezes ainda sou o menino
Que adormeceu nos teus olhos;
Ainda aperto contra o coração
Rosas tão brancas
Como as que tens na moldura;
Ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
No meio do laranjal...
Mas - tu sabes - a noite é enorme,
E todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
Dei às aves os meus olhos a beber.
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.
Felicidades a todas as mães portuguesas.
ResponderEliminarBjux
Obrigada, querido amigo!
ResponderEliminarBeijo da
Mª ELISA
Maria: Felicidades a todas as mães do mundo, que elas bem merecem, o dia da mãe trz em mim uma nostalgia, pois já não tenho mãe e nem pai e nem sogros, ja partiram deste mundo.
ResponderEliminarBeijos
Santa Cruz
Maria Elisa, MULHER-MÃE!
ResponderEliminarBelíssima esta homenagem às mães! E nem era necessário acrescentar o poema de Eugénio de Andrade, tão profundo é o texto que lhes dedica!
Mas, já que o partilha connosco, não posso deixar de aplaudir! Sou grande admirador, atrevo-me a dizer "invejoso admirador" de Eugénio, daquela inveja que só quer bem, entenda-se! E como ele sabia dizer a maravilha da relação filho-mãe...:
"... Às vezes ainda sou o menino/
Que adormeceu nos teus olhos;..."
Os(As) meninos(as) que, para as mães, nunca deixam de o ser!...
Beijinho