sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

De tudo um pouco-Reflexões: "Raízes de vida"


UM POUCO DE TUDO

REFLEXÃO:”RAÍZES DE VIDA.”


O filósofo alemão RILKE é autor de uma frase que me passou pelos olhos, um destes dias, e que me deu o ponto de partida para a presente reflexão, em termos de “viagem” escrita. É ela:” A Pátria do homem é a sua infância.”
Na realidade, a infância é um “lar”, sendo uma etapa da vida que fortemente marca o ser humano como entidade cósmica a que pertence a espaço físico ou de ternura e afectividade.
Condição natural do homem, este é emocional e racional.
Na infância estão todas as raízes dos nossos afectos, pertenças e rejeições; nela estão os laços de sangue e telurismo que nos prendem, através da família, a um pingo da humanidade. Ela é sempre a raiz dos factos que, para a posteridade, virão a demarcar a existência de um ser pela solidez que, queiramos ou não, o prende ao espaço, no Tempo.
Ao termos uma infância, temos laços que nos prendem às mais triviais aventuras do Ser-Menino. Por vezes, esses laços, se os não vivemos na comunhão de afectos e princípios, fazem-nos repelir uma época da vida, da qual não podemos abdicar e da qual já não podemos fugir. Estão cá dentro…não fogem mais, por muitas camadas de cal com que as queiramos cobrir ou desinfectar…
É nesse período sagrado da vida do ser humano que adquirimos conhecimentos para o nosso desenvolvimento são como seres humanos e que começamos a “gatinhar” no espaço-vida que nos dá valores domésticos, parentais e comunitários; ela é, por conseguinte, a “pedra da calçada”onde nunca mais deixaremos de andar, para o Bem ou para o Mal, mesmo que da terra nos afastemos por imponderáveis motivos da vida exigente. A infância é, ainda, um misterioso fio de sangue que nos corre nas veias, uma Identidade sagrada que mantém as sociedades-família ligadas pelos tempos fora a uma certa noção de EXISTIR…uma ligação mística que nos prende ao sangue que a mãe deitou no momento de nos “dar à luz”.
Temos vindo a ouvir falar muito, nos últimos tempos, de emigração. É preciso pensarmos que o acto de emigrar é uma violência para com as nossas raízes que somos forçados a tomar para podermos existir, pois a Pátria é, muitas vezes, madrasta. Todos sabemos que, desde os séculos do pós descobrimentos, nenhum povo emigrou tanto como o português. O nosso povo está, portanto, habituado a perder os laços sagrados de que tenho vindo a falar. Acho que a emigração, a diáspora, é uma nossa segunda identidade, como se já nascêssemos a “saber” que temos de deixar a Pátria, se queremos ter uma vida digna; é um desenquadrar-se do âmago das raízes naturais, que não se faz de ânimo leve pelo que implica de confronto de um ser consigo próprio, na sua esfera humana e social. É desumano e anti-humanista desenraizar do quadro de afectos familiares sociedades estabelecidas por laços inalienáveis. Pedir ou sugerir a alguém que emigre é uma violência inaudita, principalmente por parte de governantes que baixam os braços perante as dificuldades que um país pode enfrentar.
Pode até ser o simples mortal desiludido a querer “divorciar-se” do seu país…Mas isso é outra coisa!E é o que acontece , presentemente, com os nossos irmãos de raça, por motivos que todos sentimos na pele e que nos levam a desejar fazer o mesmo, sem que a idade já o consinta…

A verdade é que há uma ternura misteriosa, natural, cheia de vida, entre o SER que emigra e as paredes da casita que o ampararam ,no seu âmbito familiar e pátrio. Não falo de emigrantes de terceira e quarta gerações,porque já nada lhes diz esta terra de CAMÕES E PESSOA.
Emigrar é perder tudo o que se ganhou nas calçadas da aldeia ou outra terra, é deslaçar espíritos dos seus “nós”, é deixar de ouvir as águas do rio borbulhante, o sibilar do vento nos pinheiros ou nas arestas das casas, é perder o contacto com a terra-lama-de-que-fomos-feitos –e-nas quais –fomos- ACONTECENDO…
Os portugueses, nascidos nas pedras ( lá dizia o rei de Espanha, há séculos:” …se quieren las piedras, que se las tengam…)não encontraram nunca no espaço nacional ,nem riquezas, nem governantes à altura de um povo que se fez notar ,no mundo. Ainda hoje temos cérebros de renome em toda a parte, onde lhes dão o valor que os medíocres, aqui, lhes não reconhecem!
O mar chamou-nos e “apalpámos”as ondas que se faziam à coragem de quem mourejava, de sol a sol, para os senhores feudais…de Ontem e de Hoje…
E aqui se confrontam a lógica e a moral!
É lógico, a certa altura da vida ver que a terra-mãe, não tendo vida para nos dar, nos obriga a quebrar raízes e a desatar os laços, procurando novos mundos onde as lágrimas serão nossa eterna companhia. É imoral que não se criem condições para que os nossos valores, (cujos cursos pagámos com o sangue e o suor do nosso trabalho), cá possam ficar!

Já emigrei, por várias vezes. Dói olhar o sol ou a Lua e chorar por não os estar a ver no nosso céu!
E não venham os pseudo intelectuais dizer que isto é KITSCH…que é um lugar comum…É isto que se sente quando se leva a alma para fora da ALMA!
Quem não tem perante os olhos as imagens desesperadas dos imigrantes africanos, mexicanos e marroquinos às portas das terras do “Sonho”, em Itália, Estados Unidos e Espanha? quem não sente o coração doer com as mortes por fome, naufrágios e frio, na fuga desesperada da miséria?O que será dos milhares de portugueses, se lhes fecharem as portas na cara, no Brasil, em Angola e outros países, para onde estão a fugir da miséria e da falta de empregos?O que teria sido dos portugueses se os mundos onde se estabeleceram, há séculos, lhes tivessem sido fechados? Existiria Portugal, hoje?
Sabemos, isso sim, que os que se foram embora nesta última vaga, de há poucos anos a esta parte,não querem voltar! Outra fosse eu…Voltar para a ladroeira e para a corrupção endémicas?
Como estará este país, dentro de 20, 30 anos, sem os seus valores e sem os seus contributos para a Segurança Nacional?
Como estamos nós, ao vê-los partir aos milhares da terra madrasta…dos políticos que lhes chamam “piegas” e preguiçosos? que saudades terão do nosso sol! É tão lindo o sol de Portugal…
Como estarão sem a nossa Lua e as nossas estrelas? São tão lindas no nosso céu…
Como se sentirão os nossos novos emigrantes, ante as dificuldades de outras Línguas…? É tão belamente única a Língua Portuguesa!

Diz um provérbio chinês:”O grande homem é aquele que não perdeu a candura da sua infância!”
Como nos sentimos pequenos…

Mealhada, 2012-02-10
Maria Elisa Ribeiro

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