terça-feira, 28 de julho de 2009

RECORDAÇÕES: VENEZA


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RECORDAÇÕES: VENEZA…

Mulher da terra e do mar, descendente das que vestiam de negro por ocasião da partida das naus e caravelas, eis-me em Veneza, numa esplanada da Praça de SÃO MARCOS, `a beira das águas da lagoa, a tomar um café, o mais caro que alguma vez pensei tomar, na vida…
Indecifráveis mistérios do nosso andar pela terra e inesperada oportunidade do meu dia-a-dia, trouxeram-me até aqui, por um breve espaço de tempo, O suficiente, no entanto, para que esta viagem marcasse a minha vivência!
É linda, VENEZA! Cansativa, também… Dói-me a cabeça só de passar por entre estas vielas estreitíssimas que separam prédios altíssimos, que nos abafam com os seus segredos históricos, o cheiro a humidade e as lendas de épocas passadas. Quase não se vê o céu…
Falta-me esse misterioso azul, que revitaliza! Por isso, estou feliz, nesta PRAÇA, única no mundo, rodeada de sol tímido, de turistas e de pombas e rolas, aos milhares, que nos vêm lamber os pés… À minha volta, fala-se italiano, francês, inglês, alemão, português, japonês…uma verdadeira “BABEL”!
Fixo a água que circunda este espaço maravilhoso e me transporta pela História fora, falando-me de navegações, de actividade marítima, comercial e industrial, do fabrico de barcos e das enigmáticas, no mínimo, viagens de MARCO POLO, às terras do GRANDE KHAN…
É intensa, esta luz a bater nas águas e nos olhos! Reparo nos rostos esfusiantes e ruidosos dos turistas, ansiosos pela fotografia que imortalizará a passagem por este canto da terra. Há caminhos desconhecidos, rostos novos e diferentes e sente-se o cheiro dos segredos e mistérios dos Bórgia, dos Médici e outros, que vão permanecer secretos para todo o sempre, alimentando a imaginação de quem leu um pouco sobre a história deste pedaço de terra…
Andei no “vaporetto” que, obedecendo aos semáforos da lagoa, avançava ou não, para nos levar a conhecer outras “línguas” de água, outras belezas naturais, palácios de uma grandiosidade misteriosa, jardins – sim, jardins! - naquele espaço, perfeitamente inesperados!
Há, em Veneza, mais de quatrocentas pontes; gostei das mais faladas, a dos Suspiros e a de Rialto, embora não esqueça a beleza natural das outras, que servem de passadiço aos habitantes da cidade, nas suas andanças do dia-a-dia.
Ao ver toda esta água, neste contexto, o pensamento entretém-se… É impossível um português ficar indiferente perante a beira-mar. Está-nos no sangue o sal das lágrimas vertidas, a troco de riquezas encontradas, nos paraísos perdidos. Apesar de tudo, está em nós a consciência de que contribuímos para a primeira grande Globalização da História da Humanidade, ao espalhar pelo mundo a nossa língua, novos produtos e riquezas nunca sonhadas, entretanto perdidas…
A nossa língua “uniu, já não separou…”, como afirmou FERNANDO PESSOA!
As minhas sensações são semelhantes às mesmas experimentadas, há séculos, por compatriotas meus, espalhados por todos os continentes onde lutaram, enriqueceram ou ficaram ainda mais miseráveis, enraizando-se nos novos lugares encontrados, ao pensarem ter à mão a quimera fugaz da boa sorte e/ou da riqueza, que não encontravam no “rectângulo”, `a beira-mar plantado…
Enquanto me entretenho nestas divagações, há um conjunto de músicos que anima o gosto da minha “bica”, executando trechos musicais italianos e universais, Sim, que a MÚSICA é outra das linguagens do mundo! Já PLATÃO a tinha considerado “a arte das musas”!
E gosto das luvas brancas do “cameriere”( empregado de mesa), do seu avental imaculado até aos pés, do seu cabelo grisalho e da cerimónia gentil com que me pergunta: “TUTTO BENE, SIGNORA?”
Já lá vão anos, mas é tudo tão, estranhamente, PRESENTE! E eu continuo a “SER DE UM CÉU QUE TEM GAIVOTAS”, como afirmava EUGÉNIO DE ANDRADE! Um céu de um azul diferente, mágico, que tem assistido, mudo, ao que foi e é a portugalidade: grandezas, misérias, corrupção, revoluções e contra-revoluções, à passagem da monarqia para a república, do mundo Teo cêntrico da Idade Média para o mundo Antropocêntrico, da Época Clássica…
Recordo GIUSEPPE GARIBALDI, que unificou esta Itália de reinos, ducados, marquesados, principados…Recordo CASANOVA e os seus amores, intrigas de corte, duelos e outros mistérios, enquanto as águas passam, caladas, tocadas pelos remos dos gondoleiros…
Faltou-me, desta vez, ir a MURANO, ver o processo de fabricação dos famosos cristais…
De volta ao hotel, depois de tantas “peregrinações”, faço uma soneca, sob o calor que faz estalar as madeiras e sonho com o regresso…
Lusibero- 28 de JLH/09
NOTA: VENEZA é, hoje, uma fonte de preocupações por causa da subida das águas, que ameaçam a existência de muitos dos seus tesouros arquitectónicos. Obras faraónicas, projectadas por cérebros mundiais, tentam inverter o processo. Esperemos, para bem do património mundial, que tudo isso resulte.

11 comentários:

  1. Olá Maria, eu adorava conhecer Veneza, deve ser uma cidade linda.Beijocas.

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  2. OLÁ MARIA !!!

    É BOM SONHAR ACORDADO, DÁ-NOS ÂNIMO PARA CONTINUAR... RECORDAR É VIVER...!!!

    AQUELE ABRAÇO

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  3. FATINHA:eu fui lá várias vezes, porque estive a viver em Itália, por algum tempo, a cerca de 60/70 kms de Veneza. Não percas a esperança! A vida dá tantas voltas, minha querida..
    Beijo de lusibero

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  4. É verdade, Norberto! Felizmente, nem tudo é mau na vida...
    Bjo de lusibero

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  5. A sua descrição é daquelas que cheira... parabéns!

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  6. Lusibero (gosto mais assim porque fica mais informal) :)

    Podia falar de Veneza que ainda nao conheço a nao ser pelo que me contaram de quem la foi e também admirou muito a Praça de Sao Marcos, claro, mas queria particularmente falar-lhe do estilo.

    Este post, é um verdadeitro texto. escrevo muitos assim, embora nao necessariamente no blog. Reparei numa escrita diferente, enxuta, limpa, com cadência, pontuação breve, tudo ingredientes para se ler num ápice por maior que seja o texto.

    Gosto deste estilo.

    beijinhos amigos e deixe que lhe diga que admiro muito a sua descoberta interior, e admiro-a pelo que escreveu no comentario.

    Grande beijinho, minha amiga.

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  7. Adoro essa forma poética como descreve as suas experiencias :-)
    Grande texto. Parabens!!!
    Uma beijoca

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  8. Cirrus: linda Sinestesia com que me comenta!
    Obrigada, amigo! Na realidade, houve uma tremenda confusão se sentidos,recordo tudo com os cheiros dos restaurantes, pastelarias, cafés, a água do mar e das lagoas,o cheiro à própria História...
    Um beijo de lusibero

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  9. Francisco:é,na realidade um texto poético, tem a escrita, em si, entremeada de imensas figuras de estilo, cheiros, vivências... Adorei que tivesses dado por isso... Mas se fores a outros textos que já aqui publiquei, náo os dos escritores,verás que sâo do género, porque apreendo a vida que me circunda, com todos os sentidos!
    Beijos de Lusibero

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  10. Daniel:já falo contigo, porque tenho "dentista" daqui a pouco...BJ

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  11. Daniel:cá estou eu,novamente contigo.ainda bem que gostaste, porque as tuas palavras de análise vão de encontro ao que fui e sou, como Professora de Português. Também escrevo, fora do contexto do "blog";mas isso não impede que vos dê artigos mais cuidados, pois os nossos amigos desta comunidade virtual merecem o nosso melhor.
    Este é, verdadeiramente, um texto rememorativo cheio de Função Poética da linguagem, o que o transforma em prosa poética, dado o número de figuras de estilo e de pensamento, que quis usar:metáforas, hipérboles, Imagens, sinestesias, etc
    Não é por vaidade fútil que te digo tudo isto, acredita!É mais por orgulho pessoal, porque me sinto, sempre e ainda ,a Professora de Português que se deu ,inteiramente aos alunos.
    Quantomais eu soubesse e quanto melhor eu fosse... melhores seriam eles!
    Mas se reparares em outros artigos do blog que foram publicados há mais tempo (e que até penso em puxar para agora!), essa marca do meu estilo está lá, Só que ,nessa altura ,eu não tinha os seguidores que tenho hoje e, possivelmente, não deram por esses textos!
    Não falo dos de Literatura Portuguesa porque esses servem um fim muito claro: são publicados ,primeiro, nos jornais com os quais colaboro, pois já dizia Garrett que a cultura é de todos...
    Obrigada, meu amigo,por seres meu amigo, por seres leal, sincero...POR SERES TU!
    Beijo de lusibero

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