POEMA: INDEFINIDOS
Um transpirar de sedentas flores…
Um deslizar de águas em terras áridas…
Um manto de estrelas a cobrir-me a pele quando
uma seiva se esvai, límpida e borbulhante, pelos flancos da montanha…
Uma guitarra-violino que canta a minha guerra-de-ser…
Um voo pelas tuas veias
que florescem como flores enamoradas
nas asas em-que-te-prendo…
Um dormir lânguido, a teu lado, repousada…
Um respirar calmo do teu sangue…
Um prender os teus dedos, num enlace…
Um beijar teu rosto embrulhado no pó das fadas
que amaram , nas rochas…
(Um intervalo, um recordar…)
Um semear o trigo à hora certa em que Florbela
canta, encantando marés de oiro, no Alentejo …
Um lavrador de Torga que cava regos telúricos,
com a devoção do momento de uma mística comunhão …
(Um intervalo, um saborear palavras de VIDA)
Um escrever um poema a recordar uma-verdade-minha,
perdida no inigualável branco-luar…
(Poeta-sem-intervalo na-hora-de-intervalar…)
E um corpo-mulher a saber-a-ti
na aurora ao alvorecer
lá mais para a hora do adormecer-a-escurecer ,
quando a fruta-flor nasce numa infância
que acabou de desaparecer…
Maria Elisa Ribeiro/2015
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